Diagnóstico para entender o quadro inclui a história clínica de vida do paciente, o exame físico e, em alguns casos, o estudo urodinâmico
Augusta Morgado* Publicado em 30/11/2024, às 06h00
Há relatos típicos de quem tem incontinência urinária e que são comuns de ouvir em consultórios, como ter que cruzar as pernas quando tosse ou espirra para que não haja escape de xixi ou, ainda, de pessoas que sentem urgência para urinar e precisam correr, sempre que sentem alguma vontade, para que a urina não escape antes da chegada ao banheiro. Estas perdas de urina involuntárias caracterizam a incontinência urinária, que pode ocorrer em situações variadas.
Apesar de não ser normal, as perdas de urina podem ser frequentes, principalmente entre as mulheres e, ainda mais, naquelas que se encontram no climatério (pouco antes ou após a menopausa). De acordo com dados da literatura, cerca de 10% das mulheres adultas podem apresentar esta queixa, com uma incidência ainda maior, de até 20%, nas mulheres após os 70 anos de idade. Diante disso, não é incomum conhecer alguém com este tipo de queixa ou apresentar este problema.
Os escapes de xixi podem ocorrer em quantidades variadas, desde pequenas gotas até jatos ou com esvaziamento completo da bexiga. No entanto, são sempre inconvenientes e causam grande impacto na vida social e familiar, podendo ser motivo de restrição de atividades, insegurança e, consequentemente, de uma piora progressiva da qualidade de vida.
Embora muito incômodo, nem sempre as pessoas que estão sofrendo com esse transtorno buscam orientações médicas especificamente para isso, seja por constrangimento ou por desconhecimento de qual profissional poderá ajudar neste momento. A queixa normalmente é relatada ao ginecologista ou uroginecologista anos após seu surgimento ou quando a situação já se encontra bastante desagradável. Há situações em que o caso somente é exposto se o médico pergunta sobre isso durante a consulta, o que atrasa o diagnóstico e a solução do problema.
A incontinência urinária pode ter várias apresentações e, para cada uma delas, existe um tratamento específico. Por isso, é necessário que a investigação seja individualizada e o tratamento personalizado. O diagnóstico clínico é feito por meio de perguntas durante a consulta associadas ao exame físico e, em alguns casos, são necessários exames complementares, como urocultura e, até mesmo, estudo urodinâmico, que é o exame indicado para a avaliação do funcionamento da bexiga e para a documentação das perdas urinárias.
A incontinência urinária de esforço se dá quando há perdas de urina durante a prática de alguma atividade física, como caminhadas, corridas ou agachamentos; tosses, espirros ou risadas; e mesmo com esforços menores de levantar uma cadeira ou mudar de posição na cama, e ocorre por conta do aumento da pressão do abdome sobre a bexiga e da uretra que, por sua vez, não conseguem resistir a esta pressão, levando ao escape de xixi. Quanto mais fácil ocorrer a perda de urina, mais importante será a incontinência. Nestas situações, o tratamento poderá incluir fisioterapia pélvica, com exercícios de fortalecimento da musculatura da região perineal. Para alguns quadros podem ser recomendados procedimentos cirúrgicos, que costumam ser minimamente invasivos e seguros com excelentes resultados quando bem indicados.
Outro tipo de incontinência é a de urgência, que é quando o músculo da bexiga se contrai involuntariamente, como se fossem espasmos, levando à perda de urina sem controle, associada ou não à sensação de urgência – vontade iminente de urinar e de difícil controle com escapes em grande quantidade na maioria das vezes. Nestes casos, o tratamento por meio da fisioterapia pélvica pode envolver o uso de estímulos elétricos, indicação de medicações que controlem a bexiga ou aplicações de toxina botulínica intravesical e neuromodulação.
Independentemente do tipo de incontinência, é importante que a paciente que tenha qualquer tipo de perda de urina seja estimulada a dividir sua queixa, seja acolhida, receba a assistência necessária e inicie o tratamento adequado o quanto antes. Com o acompanhamento do especialista, a cura ou melhora significativa podem ser atingidas, devolvendo para a paciente qualidade de vida e tranquilidade para realizar suas atividades com segurança e plenitude.
*Dra. Augusta Morgado é uroginecologista do Centro de Assoalho Pélvico do Hospital e Maternidade Santa Joana
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