Reconhecer a relação entre endometriose e qualidade de vida é essencial para garantir diagnóstico precoce e tratamento eficaz
Redação Publicado em 10/10/2025, às 06h00
A endometriose, doença inflamatória crônica que afeta milhões de mulheres no Brasil e no mundo, continua ganhando atenção tanto pelo aumento de casos diagnosticados quanto pelas recentes novidades terapêuticas. Caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio fora da cavidade uterina, a endometriose provoca dor pélvica, cólicas intensas, dispareunia, alterações urinárias ou intestinais e pode causar infertilidade. Apesar de conhecida há décadas, a doença ainda enfrenta longos atrasos no diagnóstico, subdiagnóstico e desigualdades de acesso ao tratamento adequado.
Dados recentes do Ministério da Saúde revelam que os atendimentos da atenção primária do SUS relacionados à endometriose cresceram cerca de 76,2% entre 2022 e 2024: de ~82.693 casos em 2022 para ~145.744 atendimentos preliminares em 2024. Já na atenção especializada, o salto foi ainda maior: de 31.729 para 53.793 atendimentos no mesmo período, um aumento de aproximadamente 70%. Também foram registradas mais internações: 14.795 em 2022, subindo para 19.554 em 2024, representando em torno de 32% de crescimento no número de hospitalizações associadas à doença.
Dr. Luis Otávio comenta que “o momento atual representa uma virada, mesmo que ainda existam muitos obstáculos. O fato de termos um acréscimo tão expressivo nos atendimentos do SUS demonstra que mais mulheres estão sendo ouvidas, que os sintomas estão sendo levados mais a sério. No entanto, aumento no atendimento não basta se o tratamento não for eficaz, seguro e acessível.”
Ele destaca que “as novas tecnologias hormônicas, como o DIU‑LNG e o desogestrel, são bem-vindas, mas exigem acompanhamento próximo para monitorar efeitos colaterais, satisfazer expectativas de alívio da dor e, em muitos casos, preservar fertilidade.” O médico alerta também que, apesar dos avanços de diagnóstico, há necessidade de maior especialização de profissionais, de centros multidisciplinares e de uma abordagem que contemple o impacto psicológico, social e funcional da endometriose.
Segundo estimativas globais da Organização Mundial da Saúde (OMS), a endometriose acomete cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no mundo, o que corresponderia a mais de 190 milhões de pessoas. No Brasil, estima-se que essa faixa alcance entre 5% a 10% das mulheres em idade reprodutiva. Um dos principais problemas identificados é que o tempo médio entre os primeiros sintomas até o diagnóstico costuma ser de 7 a 10 anos, o que retarda tratamentos, agrava sofrimento e reduz qualidade de vida.
Entre os desafios mais urgentes para o Brasil, segundo o Dr. Luis Otávio, estão a redução do tempo até o diagnóstico, a expansão do acesso a tratamentos avançados, a integração de equipes de saúde que cuidem não só da dor física, mas também do bem-estar emocional, da qualidade de vida, da fertilidade e das implicações nas relações pessoais das pacientes. Ele ressalta que “políticas públicas, legislação que garantam prioridade à saúde da mulher, educação de base e campanhas de conscientização são parte central dessa transformação”.
A endometriose permanece sendo uma questão relevante de saúde pública. Com estimativas crescentes de atendimentos, novas alternativas terapêuticas disponibilizadas pelo SUS e maior visibilidade social, há esperança de que as pacientes encontrem diagnósticos mais precoces, tratamentos mais eficazes e uma melhoria real em sua qualidade de vida. Conforme avalia o Dr. Luis Otávio, “cada ano conta – quanto antes a mulher ouvir seu corpo, for ouvida por médicos que investiguem de forma completa, iniciado o tratamento certo, melhor será seu cotidiano – menos dor, menos limitações, mais possibilidades de viver plenamente.”
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