Principal causa de infertilidade em mulheres, a endometriose atinge uma em cada 10 mulheres
Redação Publicado em 01/11/2023, às 06h00
A endometriose é uma doença severa com a fertilidade feminina e atinge uma em cada 10 mulheres no Brasil (segundo o Ministério da Saúde), mas existe um problema gigante relacionado ao subdiagnóstico dessa condição. “Esse já é um universo grandioso no Brasil de forma que quase 10,4 milhões de mulheres sofrem com o problema de acordo com dados oficiais. No entanto, é muito provável que o número de mulheres com endometriose atualmente seja maior do que o relatado, pois, até hoje, os sintomas da doença são negligenciados, levando a um cenário de subdiagnóstico. Isso é altamente maléfico, visto que a doença é a principal causa de infertilidade na mulher”, diz o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita. Mas uma inteligência artificial (IA) desenvolvida na Austrália e em fase de testes promete acelerar o diagnóstico da doença.
A endometriose tem como principal sintoma a dor pélvica intensa durante a menstruação, que geralmente não recebe atenção por ser confundida com cólicas menstruais. Isso faz com que o diagnóstico da condição seja realizado muito tardiamente, quando as mulheres encontram alguma dificuldade para engravidar. “E mesmo aquelas que fazem tratamento de fertilidade, quando a endometriose não foi diagnosticada até o início do tratamento, isso resultou em mais ciclos de tentativas e mais dificuldade para ter um bebê”, acrescenta. “Estima-se que de 3 a 5 milhões dessas brasileiras diagnosticadas tenham infertilidade. A endometriose é inflamatória e ocorre quando as células do endométrio, o tecido que reveste a parede interna do útero, em vez de serem eliminadas durante a menstruação, movimentam-se no sentido oposto, caindo no interior do abdômen e se implantam nos órgãos e tecidos internos. Ela se relaciona com a fertilidade, porque essas células se espalham pelo aparelho reprodutivo, dificultando desde a fertilização do óvulo até a implantação do embrião”, explica o médico.
Segundo os pesquisadores que desenvolveram a inteligência artificial para diagnosticar endometriose, da Universidade de Adelaide, na Austrália, em parceria com a Universidade de Surrey, do Reino Unido, a qualidade de vida de milhões de pessoas que sofrem de endometriose poderia ser melhorada com a aceleração do diagnóstico por meio de um novo sistema de inteligência artificial. “Eles chamaram o sistema de imagedo e ele utiliza inteligência artificial para analisar dados de ultrassom e ressonância magnética para ajudar a reduzir significativamente o tempo necessário para diagnosticar a endometriose – que, em média, leva mais de seis anos para ser diagnosticada corretamente”, diz o Dr. Fernando. Segundo o Dr. Fernando, a doença não possui uma causa definida, mas está ligada a fatores genéticos e imunológicos. “Na causa da endometriose também não podemos esquecer que ela pode já nascer com a mulher, na teoria chamada de metaplasia celômica, situação em que o tecido do embrião que vai se transformar no endométrio já nasce fora do lugar correto (interior da cavidade uterina). Ou seja, por esta teoria, a endometriose não vai parar fora do útero por causa da menstruação retrograda. Os focos de endometriose sempre estiveram lá, desde o desenvolvimento da menina dentro do útero materno”, diz o médico. Em muitos casos, as mulheres podem esperar entre 4 e 11 anos antes de serem diagnosticadas com endometriose, e o diagnóstico tardio reduz as chances de sucesso dos tratamentos de fertilidade, que geralmente é realizado com a fertilização in vitro nesses casos. “O processo de fertilização in vitro consiste na coleta dos óvulos após indução medicamentosa da ovulação para que sejam fecundados em laboratório e, em seguida, implantados de volta no útero”, explica o médico. “Embora as preocupações legítimas sobre o uso da inteligência artificial tenham dominado as manchetes, aqui está um exemplo de como esta tecnologia pode melhorar a vida de milhões de pessoas que sofrem de endometriose e dores pélvicas graves”, acrescenta o médico.
Segundo os pesquisadores, IMAGEDO® introduz recursos inovadores de IA para fornecer diagnóstico rápido e não invasivo de endometriose, combinando tecnologia de ressonância magnética e ultrassom. “O longo processo de diagnóstico da endometriose pode levar à ansiedade, depressão e fadiga, muitas vezes exigindo que as pacientes consultem vários profissionais de saúde. Esta longa jornada de diagnóstico pode exigir cirurgia invasiva e atualmente carece de um teste não invasivo confiável, para não mencionar que apresenta muitos pacientes com riscos significativos para a saúde e econômicos”, diz.
“Esperamos que o sistema seja testado em diversos estudos para ser usado em larga escala, acelerando o diagnóstico”, conta o especialista. “É importante ressaltar que dores durante o período menstrual não são comuns e a mulher deve procurar seu ginecologista para saber se não existe um risco dessas dores serem endometriose. Um bom médico e bem treinado saberá diagnosticar precocemente a doença e evitar que ela só seja diagnosticada muito tardiamente, quando já causou sequelas importantes. Nesse sentido, a IA pode auxiliar na precocidade diagnóstica, transformando sobremaneira a qualidade de vida da mulher e reduzindo ou mesmo eliminando as sequelas em definitivo”, finaliza o especialista.