Especialistas destacam a importância de um olhar multidisciplinar para o tratamento das dores crônicas
Redação Publicado em 27/10/2025, às 06h00
A dor crônica é uma das queixas mais recorrentes nos consultórios médicos e pode comprometer seriamente a qualidade de vida. De acordo com o especialista em ortopedia e traumatologia, pela SBTO – Sociedade Brasileira de Traumatologia e Ortopedia, e em dor, pela Associação Brasileira para o Estudo da Dor (ABDor), Dr. Carlos Eduardo Sardinha, os pacientes frequentemente procuram atendimento relatando desconfortos que já persistem por anos. “Chamamos de dor crônica aquela que permanece por mais de três meses. Nas dores musculoesqueléticas, as causas podem ser inflamatórias ou mecânicas, mas também existe um fenômeno chamado sensibilização central, em que o sistema nervoso do paciente fica mais sensível, aumentando a percepção dolorosa”, explica.
As dores crônicas mais comuns, segundo o especialista são: dor na coluna vertebral (cervicalgia e lombalgia), tendinites e bursites nos ombros, artrose ou lesão meniscal nos joelhos, fibromialgia, esporão de calcâneo/fasciíte plantar, epicondilite lateral nos cotovelos, síndrome do túnel do carpo nas mãos e bursite trocantérica nos quadris.
Na prática clínica, o primeiro passo diante de um paciente com dor crônica é escutá-lo atentamente e realizar um exame físico detalhado. “Muitos chegam relatando dor de 9 ou 10 numa escala de 0 a 10, convivendo com isso há anos. Já na primeira consulta, é importante aliviar a intensidade, mas também buscar a causa real, que pode ser exclusivamente musculoesquelética ou estar associada à sensibilização central”, afirma Dr. Sardinha.
O tratamento, segundo ele, deve começar com um diagnóstico bem definido e a conscientização do paciente sobre sua condição. Entre os métodos mais utilizados estão medicação para dor, fisioterapia, encaminhamentos específicos para psicólogo ou psiquiatra em casos de transtornos emocionais, endocrinologista em casos de obesidade e especialista em sono em apneia, entre outros.
Além disso, hábitos de vida saudáveis são pilares fundamentais para o controle da dor crônica: sono de qualidade, alimentação equilibrada, atividade física regular, controle do estresse e tratamento adequado de comorbidades.
A psicóloga cognitivo-comportamental Karine Brock reforça que a dor crônica não se limita apenas ao físico, mas também envolve fatores emocionais, cognitivos e comportamentais. “Mesmo após o tratamento médico, o cérebro pode continuar registrando sinais de dor, ainda que não haja mais uma lesão ativa. Estresse, ansiedade e a forma como a pessoa lida com as emoções do dia a dia podem amplificar a percepção dolorosa”, afirma. Ela explica que as questões emocionais não criam a dor, mas podem intensificá-la significativamente. “O corpo e a mente estão conectados. Situações de estresse e ansiedade ativam sistemas de alerta no organismo, liberando hormônios como cortisol e adrenalina. Quando isso se prolonga, pode haver tensão muscular, alteração no sono e aumento da sensibilidade à dor”, completa.
Um dos papéis da psicologia é ajudar o paciente a compreender esse processo. “Na terapia cognitivo-comportamental, o paciente aprende a identificar padrões de pensamento, emoções e comportamentos que reforçam o ciclo da dor. Muitas vezes há uma catastrofização — a ideia de que a dor nunca terá fim. Esse padrão mental intensifica os sintomas”, explica Karine.
Entre as ferramentas da psicologia para o manejo da dor crônica estão técnicas de relaxamento, estratégias de regulação emocional e reestruturação cognitiva.
Para ambos os especialistas, a dor crônica deve ser tratada de forma integrada. “O ortopedista avalia exames, prescreve medicação e conduz a parte clínica, o fisioterapeuta trabalha a reabilitação física e o psicólogo auxilia no campo emocional e comportamental, reestruturando pensamentos e estratégias de enfrentamento. Esse trabalho conjunto oferece um cuidado muito mais completo”, destaca Karine Brock.
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