Cultivando conexões profundas em um mundo de relações superficiais

Advogada ressalta a importância de estabelecer conexões verdadeiras com si mesmo e aqueles à sua volta

Caroline Oehlerick Serbaro* Publicado em 03/07/2023, às 12h00

A busca por conexões profundas começa com a compreensão de si mesmo -

Estamos em um momento histórico marcado pela tecnologia, redes sociais, ritmo acelerado e excessos, e observamos o crescente movimento na direção das relações superficiais e efêmeras. Porém, a necessidade de conexões saudáveis e profundas é inerente ao ser humano. Neste artigo, exploraremos estratégias para cultivar relacionamentos significativos e autênticos, mesmo diante das distrações e superficialidades do mundo contemporâneo.

Recentemente conversando com um amigo enquanto tomávamos uma taça de vinho, refletimos sobre o motivo de maior satisfação pessoal, incluindo a nossa, e a conclusão que chegamos é que aprofundar as relações com as pessoas é a maior delas. O tempo é o nosso bem mais precioso e investi-lo em relações mais profundas é algo gratificante e edificante.

No contexto de relações líquidas, rasas e rápidas, é essencial mudar o foco da quantidade para a qualidade. Ao invés de buscar uma infinidade de conexões superficiais, concentrar-se em desenvolver relacionamentos genuínos com poucas pessoas é uma forma de sabedoria. Isso possibilita investir energia em construir conexões reais, onde haja espaço para vulnerabilidade, confiança e crescimento mútuo.

Em um mundo repleto de distrações, é necessário reservar tempo de qualidade para nutrir os relacionamentos. Isso implica desligar-se das telas e dedicar momentos exclusivos para estar presente e completamente envolvido com as pessoas ao nosso redor. Seja ao compartilhar uma refeição, participar de uma atividade conjunta ou simplesmente conversar, a atenção plena fortalece as conexões e cria espaço para a profundidade.

A escuta empática é uma habilidade fundamental nessa construção, mas por conta de tantos estímulos externos, nos distraímos e esquecemos de escutar, de nos dedicarmos verdadeiramente a compreender as emoções, perspectivas e experiências do outro. Estamos acostumados a demonstrar uma imagem cordial, mas a verdadeira gentileza e amorosidade estão além dela.

Relações profundas exigem espaço para vulnerabilidade e valorização da essência, que é o caminho oposto da aparência de perfeição que é frequentemente valorizada, mas para isso é essencial criar ambientes seguros e acolhedores, onde todos possam se sentir confortáveis em compartilhar suas verdades mais íntimas. Ao ser aberto e autêntico em suas próprias experiências, você encoraja os outros a fazerem o mesmo, estabelecendo uma base de trocas mais sinceras.

 

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As redes sociais são uma das maiores fontes de relacionamentos superficiais e distrações na era moderna. Para cultivar conexões, é importante refletir e repensar o tempo utilizado na internet com as interações on-line e reservar momentos específicos do dia com pessoas do nosso convívio. Essa é uma forma consciente de não cair na armadilha da superficialidade na qual somos convidados diariamente através dos excessos que nos fazem esquecer do essencial. O contato presencial oferece oportunidades únicas de sintonia emocional, linguagem corporal e empatia que não podem ser replicadas virtualmente.  Embora a tecnologia tenha seu papel nas nossas vidas, é importante não negligenciar o valor das interações pessoais.

Na área de família, que é minha área de atuação, diante dos divórcios, o que mais tenho visto e ouvido é que as pessoas estão se desconectando umas das outras por conta de valores diferentes e pela falta de presença umas com as outras. A reclamação de que o marido ou a esposa ficam mais no celular do que com a família, tem sido constante.

Assisti a um documentário outro dia sobre o minimalismo, e muitas pessoas têm despertado para essa forma de vida que não diz respeito apenas a consumir menos, mas sobre filtrar os excessos em todos os níveis, incluindo a forma de pensamento e sentimento. Nesse sentido é interessante experimentar e comprovar que, de fato, a máxima do “menos é mais” se aplica desde roupas até o comportamento, e valorizar o que realmente importa é uma revolução.

Acredito que a busca por conexões profundas começa com a compreensão de si mesmo. Reserve tempo para o silêncio, para refletir sobre seus valores, necessidades e sonhos. Cultive o autoconhecimento e caminhe sempre na direção do que acrescenta, bons conteúdos e boas conversas. Quanto mais você se conhece, mais fácil será estabelecer conexões autênticas e identificar as pessoas que ressoam a sua alma. Lembre-se de que para oferecer algo de bom fora é necessário construir e fortalecer primeiro dentro.

Ano passado eu anotei uma poesia durante uma aula de filosofia, e como presente para ilustrar a ideia deste artigo, compartilho aqui com vocês:

A Alma humana é tão grande quanto forte,

Resiste a ataques e carícias,

Não se submete à boa ou à má fortuna

Fica acima da infelicidade e da felicidade.

 

Decente na sua beleza suprema,

Sã e Sóbria em sua força,

Inabalável e Intrépida.

 

 

*Caroline Oehlerick Serbaro é advogada especialista em Direito de Família e Sucessões com ênfase interdisciplinar em Psicanálise e Solução de Conflitos, pós-graduada em Mediação, Conciliação e Justiça Restaurativa, estudante de Filosofia e Psicanálise, head Direito de Família no Escritório Afonso Paciléo Sociedade de Advogados e sócia do Projeto @divorciandos.

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