Poema de utilidade preta

Neste artigo, o colunista Plínio Camillo nos traz a obra de Renan Wangler num poema e entrevista cvom o autor

Plínio Camillo* Publicado em 23/04/2024, às 06h00

Conheça a obra de Renan Wangler -

À Cuti, inspirado no seu "Poema de Utilidade Pública", em Cadernos Negros, 31. Por Renan Wangler.

 

Mais que denuncia

Um grito de astúcia

Sobre viver.

 

Patrimônio imaterial revelado

Quando se faz presente, ser ciente

Através de diversas encarnações.

 

Ativa em ataque e defesa dos seus,

Mesmo sem prestígio e holofote

Viva, vigora em carne e ações.

 

Masculino e feminina, transgride

Não binário e mutável, transita

Sua voz, transformações permite.

 

Possui afinidade com o tempo

Sabedor de todas as coisas

E cumplicidade com o vento

 

Filha de Exú, atravessa

A quem lhe credita afeto

De certo tiro certeiro.

 

Tal como o pai dos caminhos,

Agride a injúria de ontem,

Com a pedra que profere hoje.

 

Pedra que educa, funda conceitos

Alojada à funda,  mira e ameaça

A quem ao vento atira preconceitos.

 

Nas pedras que nasciam asas,

No meio dos movimentos sociais

Onde Elaine Freitas sempre estará presente.

 

Reside em cadernos

Pautados, em blocos ou negros

Como os de Carolina.

 

Chocou o mundo com Audre Lorde

Divulgando o autocuidado feminino

Para as irmãs pretas preservar.

 

Assim como suas memórias,

Veio valente, ritmada e faceira

Nos cordéis de Jarid Arraes.

 

À bruxaria de Dandara Suburbana

Emprestou volúpia e excitação

Para gozar e viver a sexual tensão.

 

Aquilombando os espíritos, unguento

Perfumando a coroa no Ori

De Beatriz Nascimento.

 

Jovem, pesada e forte

Reina nos saraus e slams

Onde seu magnetismo a faz norte.

 

Presente também em cada oriki,

Cantos, giras e saberes

Existentes nos terreiros de axé.

 

Amiga das orais tradições,

Passeia pungente e eloquente

Por bocas, ouvidos e corações.

 

Fluída, por diversas outras paragens

Sempre em movimento permanente,

Onde corpos pretos se fazem presentes.

O escritor Renan Wangler

 

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NOTAS DE ESCURECIMENTO POR ESCRITO – Série de questões/conversas enviadas para escritoras negras e escritores pretos que gentilmente responderam

 

Escritor de hoje: RENAN WANGLER

CONVERSAS

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Por gentileza, se apresente:

RENAN WANGLER: Criado na comunidade Cidade Alta, no subúrbio do Rio de Janeiro. Bibliotecário por formação, poeta por expressão, seja nas letras, música ou nas artes visuais, minha poesia é ferramenta de autoconhecimento e (re)existência. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como a sua ancestralidade está nos seus escritos?

RENAN WANGLER: Meus escritos são frutos das minhas andanças, pois por onde ando, por onde meus sentidos alcançam, seja exterior ou interior a viagem, busco identidade. Expresso registros dessa busca por autoconhecimento. Nesse processo a ancestralidade se faz evidente, e ser ciente, vem me mostrando de onde vim e para onde devo ir nessa caminhada ascendendo, como na filosofia Bantu, meu sol vivo. Buscando conhecimento e sabedoria para ancestralizar minha vida, me tornar digno de ser lembrado como exemplo de algo bom.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é, para você ser um escritor negro no Brasil?

RENAN WANGLER: Eu vislumbrei ser escritor antes de entender o que era ser negro no Brasil. 

Minha lembrança mais antiga de criatividade expressa na escrita se deu na escola, quando a professora esperava uma descrição de cada quadrinho sem texto de uma tirinha infantil, para daí desenvolver a conexão entre eles. Eu escrevi uma história com início, meio e fim, correspondendo com os três quadros, tal qual ilustrações. Porém, já enquanto estudante de biblioteconomia, tinha vergonha de entrar em uma livraria e folhear os livros, por não ter dinheiro para comprá-los e com receio de olhares dos vigilantes atentos. Antes de entender o porquê desse sentimento, através de um primeiro fracasso na composição musical me arrisquei poeta. Fiz um livro, fiz sarau, fiz palestras e oficinas para jovens, fiz revista literária digital... Aí senti o peso do meu lugar de sobrevivente na sociedade, e desisti…

Fui convocado mais tarde pela poesia periférica no projeto Literatura de Gaveta, hoje Editora Oriki. Ali comecei a entender o que é ser escritor periférico, e as possibilidades de produzir da margem, ao passo que em concomitância me apropriava, paulatinamente do ‘ser negro’. Com isso meus primeiros indícios do Afrosurto. Segundo  Aza Njeri, o Afrosurto é um mal psíquico que se manifesta quando pessoas negras brasileiras, em suas vivências individuais, desmistificam o mito da democracia racial e assimilam o racismo ao qual historicamente estão submetidas.

Já em São Paulo, no Quilombo Cabeça de Nego, aquilombamento em contexto estudantil no Instituto Federal de São Paulo, onde me aventurei sem concluir a licenciatura em Geografia, lá me reconheci nos outros jovens pretos, me apropriei de saberes orais e  em pesquisas acadêmicas conheci conceitos decoloniais. Afrosurtei de vez. Ali conheci através de Akins Kintê os Cadernos Negros. 

Adquiri, através de Cosme, grande divulgador e recrutador do Quilombhoje, um exemplar do Cadernos Negros: poesia afro-brasileira, volume 41, e o convite para o lançamento da edição 42, na porta do Teatro Oficina, onde pude assistir o espetáculo Odara. 

Na série histórica, publiquei nas edições 43, 44 e 45. Em contato com escritores, pesquisadores e professores de Literatura Negrobrasileira, tenho aprendido o ofício e a responsabilidade de ser um escritor negro. 

A responsabilidade se evidencia em um episódio que recordo da época de palestrante e oficineiro no Rio de Janeiro, quando uma menina retinta, surpresa ao me ver, falou: 

- Ih! O poeta é que nem eu! 

Recordando esse episódio, registrado no prefácio do livro: Palavra Rito Frutos da Diáspora, tudo fez sentido:

Ser escritor negro no Brasil é resistir, é persistir em se ancestralizar em vida, é ser exemplo para que outros leiam que é possível ser o que desejarmos. É ser fruto carregando a semente da ancestralidade às próximas gerações.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Inspiração ou transpiração?

RENAN WANGLER: Acredito que sem inspiração a transpiração se torna mais exaustiva, o labor mais árduo, e o garimpo de preciosos minérios poéticos mais escassos. É importante alimentar a inspiração consumindo poesia.

À medida que se consome poesia, alimenta-se uma mistura de estímulos internos e elementos apreendidos pela exposição poética e seus atravessamentos. Ativando o motor criativo da mente e do coração. Na perspectiva ancestral o coração é o núcleo da memória afetiva e do raciocínio indissociável da emoção. Quanto mais consumimos, mais a expressão se faz necessária, tamanha a pressão interna da poesia enquanto sentimento bruto, produto do estado de espírito sensível atravessado. Onde é necessário pôr para fora tamanha energia criativa a borbulhar.

Quando a inspiração explode, é como energia magmática de um vulcão trazendo à tona minérios formados no núcleo de nossos seres. Transpiramos no sutil e hábil labor técnico, de lapidar e dar forma a essa preciosa rocha poética natural, potencializando a preciosidade da jóia literária produzida.

Logo, o equilíbrio se faz necessário, para a magia fluir e fruir.

Capa do livro de Renan Wangler

 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais são os seus principais temas?

RENAN WANGLER: Busca pelo autoconhecimento, através de análise e registros do produto de diversos atravessamentos cotidianos que surgem no decorrer de minhas andanças e no contato com as expressões de culturas tradicionais,  artísticas periféricas urbanas, afro-diaspóricas e africanas pré coloniais e contemporâneas.

Formação de identidade: nas vivências da espiritualidade, nas relações afetivas, na ressignificação de conceitos através de uma guerra de narrativas, na abordagem investigativa da história e cultura africana e afro-diaspórica, em sua maior diáspora, o Brasil.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual é o seu processo de escrita?

RENAN WANGLER: Através das leituras, onde utilizo os sentidos, a cognição e a sensibilidade. Leio muito além da escrita, observo e absorvo do mundo o que me atravessa. 

Dos atravessamentos vem a inspiração. A forma depende do foco do momento, a expressão fluente ainda é escrita na forma: poema. Mas como arte é ato de brincar,  brincante passeio entre gêneros literários, também performando na música e nas artes visuais. Vou me apropriando das técnicas, consumindo e às vezes regurgitando arte poética. 

Uma característica essencial do processo: é necessário fruir e fluir, tanto na leitura quanto na escrita, se no momento não está rolando, se está custoso, saio e volto depois. Às vezes deixo por meses e retomo quando frui e flui. Mesmo os textos onde trabalho dores é preciso tirar algum prazer do ato da expressão, seja um alívio de desabafo, ou um ato masoquista de abrir, analisar e dissecar uma chaga. É fundamental fruir e fluir.

Costumo voltar em textos descansados do calor da criação e quando julgo necessário, remodelar dando foco à forma, ao sentido e a mensagem comunicada, aparando as arestas à matéria minerada. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Tem um narrador ou eu lírico que sempre utiliza em sua literatura?

RENAN WANGLER: Não existe um específico, mas vários onde empresto um pouco de mim até não saber onde eu começo e onde eles terminam. Inclusive gosto da prosa em primeira pessoa, onde a descrição da linha de raciocínio de cada eu lírico, permite ir evidenciando uma personalidade. Isso é fascinante, compor uma persona no que é dito e não dito, nas linhas e nas entrelinhas, uma vez que o próprio se apresenta e narra suas percepções dos fatos.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: O que também se faz palavras em seus escritos

RENAN WANGLER: A Oralidade, responsável pela disseminação de conhecimento oral nas tradições africanas, penso que sou fruto de uma diáspora africana portanto carrego a semente para semear essa ancestralidade por onde eu ou minha arte andar. Essa oralidade que provoca, que embala, que acalenta, que afaga, mas também denuncia o opressor e convoca os irmãos ao aquilombamento, se faz palavras quando a registro na forma escrita.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é você, leitor?

RENAN WANGLER: Tenho o hábito mais frequente de ouvir música, observar artes visuais urbanas, a flora e a fauna que resistem entre outros estímulos ao caminhar diariamente pelas ruas de São Paulo. Com relação à leitura da escrita literária, a ocasião reina. Vivo e trabalho rodeado de livros. Sou do tipo que tem mais de dez livros na cabeceira e ocasionalmente lembro de terminar um antes de começar outro. Mesmo que em telas: em séries, filmes, redes sociais e documentários, a leitura é constante e diária, pois minha curiosidade é constante.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como foi e é para você a publicação do Livro?

RENAN WANGLER: Vide Bula: Notas Versos & Pensamentos (2010), o primeiro, consolidou a minha condição de escritor. Empoderou. Só com o livro na mão, parece, que de fato somos escritores. Mas também me mostrou as dificuldades de produzir, divulgar e comercializar livros em um país de poucos leitores, principalmente leitores de poesia. Fato que inicialmente promoveu uma descrença na possibilidade de viabilização de uma carreira literária.

Dualidade: No País das Maravilhas (2020), o segundo, publicado em São Paulo, foi como um prazer do primeiro gole de cerveja gelada em um dia quente. Reanimou. Embora lançado virtualmente, em meio a uma era pandêmica. Um renascimento de Fênix. Depois de dez anos da primeira publicação, tamanha crueza da estrutura social e racial, em esmagar sonhos da classe trabalhadora. Por não acreditar que teria condições financeiras de publicar novamente em vida, reuni em um arquivo toda minha produção literária, até o momento, para ser publicada de forma póstuma, caso houvesse o interesse. Dualidade: No País das Maravilhas, são somente dois, de seis capítulos desse projeto terminal.

Palavra Rito: Frutos da Diáspora, o terceiro e mais recente publicado até então, é um canto de resistência, um registro de uma busca por autoconhecimento, é um eclodir de um novo poeta, através de uma crisálida onde me revesti de escritas pretas, para amadurecer e transformar minha literatura. Até o ponto que a reconheci diante do espelho e pude voar seguro de quem sou, de onde vim e para onde voo, tal qual Sankofa a ave mitológica africana.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Para que você escreve?

RENAN WANGLER: Para me expressar. Dar forma ao que transborda  da minha sensibilidade criativa. Mas também para desabafar, para refletir, para me desafiar, para me comunicar, para viver.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quais suas negras influências?

RENAN WANGLER: Luta e resiliência de minha mãe, me criou solteira. Dedicação e generosidade para lecionar de minha irmã mais velha, me ensinou a ler antes da escola. Parceria da  minha irmã do meio, me apresentou entre outros o rap, o samba, o cinema, a praia e a cultura suburbana carioca. Amor ao próximo de minha avó, me deu carinho, colo e afeto. Meu pai me ensinou que a ausência, às vezes, pode ser a melhor influência a se oferecer.

Na literatura: Brás Cubas, de Machado de Assis, é referência de prosa. O ato de escrever a vida, na escrevivência Conceição Evaristo. A fé no nosso trabalho literário de Carolina Maria de Jesus. O olhar social de Elaine Freitas. Os jogos de palavras e ritmos de Cuti e sua valorização da literatura Negrobrasileira. A malemolência literária de Akins Kintê. As visões e provocações para a prosa e dramaturgia de Plínio Camilo. 

Na música: as referências e citações de Lews Barbosa. A lírica bereta de Black Alien. O eu lírico marginal carioca de MV Bill. A realidade social dos Racionais MC 's. A genialidade criativa de Sabotage. O talento e foco de Irmão Black na voz:, -“Mandando um salve para nós”. O Coco criativo  e espiritual de Afroito. A energia brincante de Mainha, flor do maracatu, Luciana Félix. O swing do Manguebeat e a (des)organização de Chico Science e Nação Zumbi. A rítmica e a oralidade do Cordel do Fogo Encantado. A poesia lírica do Samba do Fundo de Quintal e Originais do Samba. O balanço e o amor Black de Gerson King Combo. 

Nas artes visuais: a versatilidade de Tigo CNX. As ressignificações de Basquiat. As instalações do mestre Bertoneto. O desenho técnico e de observação de Dharlan Teles. As provocações, as identidades com as cores e o olhar para arte urbana de Ana Raylander. A dedicação e paixão pela arte de Martista.  As ilustrações dos arquétipos da favela de Cau Luís. A ancestralidade kemética representada na arte de Tiago Ahmose e nas pinturas de Izzy Bay. Na diversidade técnica da arte afrocentrada da jovem Artisa.

Entre muitos outros atravessamentos e  leituras por onde ando, cada um deixa uma impressão, que de alguma forma exerce influência e alimento para  inspirar minhas representações e expressões artísticas.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual foi o seu primeiro e decisivo ato literário?

RENAN WANGLER: Acreditar. E registrar em um caderno tudo que produzia, a ponto de pedir para minha mãe transcrever cada poema para preservá-los, ao fim da vida útil do caderno. Esse caderno virou um blog, esse blog virou meu primeiro livro, Vide Bula: Notas Versos & Pensamentos (2010).

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Conceição Evaristo cunhou um termo escrevivência. O termo aponta para uma dupla dimensão: é a vida que se escreve na vivência de cada pessoa, assim como cada um escreve o mundo que enfrenta. Essa ideia se faz letras em seus escritos?

RENAN WANGLER: Totalmente, ao passo que descrevemos nossas vivências registramos a possibilidade de troca e de estímulo para outras vivências trilharem seus enredos épicos escritos ou não. Mas como protagonistas de suas histórias.

Essa ideia ainda descreve com verdade a minha ânsia por expressar poesia, produto do estado de espírito sensível. A vida é uma sucessão de atravessamentos, em cada atravessamento é produzido um abalo sísmico sensorial liberando energia criativa poética. Energia quando expressa na escrita, reverbera nossa vivência de forma ativa, ora denunciando, ora reconstruindo escritas impostas, ora mostrando potenciais possíveis ecoando e amplificando em outros corpos sintonizados.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Como é você sendo Ancestral em seus escritos.

RENAN WANGLER: Possuo o desejo genuíno que minha escrita seja fruto, e como fruto carregue a semente da ancestralidade,  por isso continuo minha busca nas oralidades, nos saberes dos mais velhos, através de leituras e escutas tradicionais desvelando verdades e histórias, buscando construir uma identidade fidedigna com a cultura ancestral, decolonial preservadas em diversas tecnologias pretas ao nosso redor.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Cuti afirma que a LITERATURA NEGRO-BRASILEIRA além do negro em primeira pessoa, também prepara o leitor negro. Como tem sida a sua preparação

RENAN WANGLER: Desde o contato com os Cadernos Negros, especializei meu consumo de escritas negras,  edificando meu olhar e minha expressão na busca pela continuidade de valores, ideias e filosofias ancestrais que encontro nessa busca pessoal que conduzo. Sim, me visto, preparo e me armo dessa literatura negro-brasileira. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Para quem você escreve?

RENAN WANGLER: Escrevo para todos que valorizam e acreditam na importância de vidas negras e suas expressões. Seja por identificação  com a busca ou pela vontade genuína de observar e absorver dessas vivências  escritas, podendo semear essa ancestralidade, que espero imprimir em meus escritos, assim disseminando pomares por onde minha escrita alcançar. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Qual a função social da sua literatura?

RENAN WANGLER: Produzir atravessamentos, provocações e reflexões. Semeando ancestralidade para a alforria da mente.

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Quando se descobriu negra ou negro?

RENAN WANGLER: Recentemente, no último terço  da minha vida, quando venho obtendo letramento racial, assim buscando na literatura  e na oralidade,  em suas diversas formas de se apresentar, a identificação com os relatos e trajetórias escritas. 

Foi aí  que olhei para os outros dois terços e vi a razão  de diversas dores e sofrimentos que vivenciei e ainda vivencio em todos os aspectos da nossa existência  e a crueza a nós imposta. Mas também a potência e beleza da nossa cultura,  gerando amor próprio. Fundamental para atingir o equilíbrio emocional  e assim permanecer blindado ao enfrentar o racismo estrutural e estruturante que após a descoberta, se mostra ainda mais escancarado e cruel. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: Oralitura - definido por Leda Martins que usa o termo para designar as histórias e os saberes ancestrais passados não apenas através da literatura, mas também em manifestações performáticas culturais. Esse conceito se faz palavras em seus escritos?

RENAN WANGLER: Palavras e em atos performáticos, onde declamo, toco e canto nossos símbolos, valores, vivências e ancestrais míticos. 

NOTAS DE ESCURECIMENTO: O que não foi perguntado, porém você gostaria de abordar?

RENAN WANGLER: Gostaria  de deixar um apelo aos leitores, sobre a importância  de se consumir e estimular a literatura, sobretudo  a literatura  periférica,  negro-brasileira e indígena. 

Adquiram livros, arte e artesanato desses artistas, pois cada investimento nos saberes e culturas tradicionais, alimenta a economia de seres às vezes esquecidos ou apagados das grandes mídias onde o valor monetizado não  acompanha o valor cultural e espiritual dos registros.

Presenteie  os seus com arte e livros. Pois neles estão contidos algo vital ao autor, sua verdade, razão e emoção. Nas entrelinhas destes artefatos nos deparamos com o cerne de cada artista. O que os fazem seres únicos. 

Quando adquirir não for possível, indiquem, curtam, compartilhem, marquem seus amigos para a arte reverberar, alcançar e atravessar a quem ler.

 

*Esta coluna  Notas de Escurecimento, de Plínio Camillo,  é publicada às terças-feiras aqui neste site marianakotscho

Quem é Plínio Camillo?

Plínio Camillo

 

Nascido em Ribeirão Preto em 26 de novembro de 1960, reside em SãoPaulo, capital, desde 1984, tendo vivido em Santo André, Piracicaba e Campinas. Escrevinhador. Ator, consultor literário,roteirista, diretor teatral, palestrante,consultor educacional, oficineiro, educador social.

Apresentador do programa do YouTube : Notas de Escurecimento

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