A série serve como um retrato dos desafios emocionais da adolescência em 2025
Larissa Fonseca* Publicado em 10/05/2025, às 06h00
A adolescência é, por si só, uma fase intensa e delicada. É o momento em que os jovens estão construindo suas identidades, buscando pertencimento e tentando entender seu lugar no mundo. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão expostos à influência das redes sociais e do conteúdo digital.
A série Adolescência, da Netflix, toca exatamente nessa ferida: como ideias perigosas, como o discurso de ódio, a misoginia e a radicalização online, podem moldar o comportamento dos nossos filhos e colocar suas vidas (e a dos outros) em risco.
A história gira em torno de um jovem acusado de assassinar uma colega de escola. O que parece, à primeira vista, ser apenas mais um caso trágico de violência juvenil, revela-se um retrato profundo de uma geração que, muitas vezes, cresce sem recursos emocionais para lidar com a vida. A série escancara um conjunto de fragilidades que atravessam muitos adolescentes de hoje como: a dificuldade em reconhecer e nomear emoções, a ausência de autorresponsabilidade, a incapacidade de lidar com a rejeição e a frustração, e a busca por soluções imediatas e impulsivas diante de conflitos. Soma-se a isso a escassez de empatia e o vazio de referências saudáveis para lidar com a dor, o que torna esses jovens vulneráveis a ideias extremistas que oferecem pertencimento rápido e respostas fáceis, ainda que violentas e destrutivas.
Para famílias, pais e mães, Adolescência é mais do que um alerta. É um espelho. Mostra como muitos adolescentes estão crescendo sem o apoio emocional necessário, não por negligência intencional, mas porque seus cuidadores também carregam feridas, traumas e limitações não elaboradas. Estamos, muitas vezes, tentando educar emocionalmente nossos filhos sem termos sido educados emocionalmente nós mesmos. O resultado é uma geração de jovens que, diante da ausência de acolhimento real e diálogo sincero, busca suporte na internet, onde raramente encontram soluções saudáveis ou positivas.
Mais do que controlar o que os filhos consomem, é preciso que os pais e mães olhem para si: como estou lidando com as minhas emoções? Que espaço estou oferecendo para meu filho ser quem ele é, com suas dúvidas, dores e desejos? Quando os adultos se dispõem a crescer junto com os filhos, o vínculo se fortalece e a orientação, antes de ser uma imposição, passa a ser uma presença segura.
O papel da família, nesse contexto, é mais importante do que nunca. Precisamos estar presentes, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Precisamos ouvir sem julgar, conversar sem impor, observar sem controlar (e controlar o que e quando precisa!). Também é essencial fortalecer o senso crítico dos nossos filhos. Ajudá-los a identificar discursos manipuladores, a questionar conteúdos que desvalorizam outras pessoas, a entender que empatia, respeito e diversidade são pilares de uma vida saudável e justa.
Adolescência não é uma série fácil de assistir. Ela incomoda (e precisa incomodar). Porque nos obriga a refletir sobre o que está acontecendo debaixo do nosso próprio teto, nos celulares e telas que fazem parte do cotidiano dos nossos filhos.
Mais do que nunca, precisamos estar por perto, principalmente, para mostrar que, mesmo em tempos tão difíceis, é possível construir caminhos de afeto, diálogo e consciência.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres
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