É preciso quebrar preconceitos e entender tudo o que envolve a saúde mental, inclusive a relação com a dislexia
Juliana Amorina* Publicado em 23/07/2024, às 06h00
A dislexia é uma condição do neurodesenvolvimento que vai além das dificuldades de aprendizado, como leitura e escrita. Frequentemente, nos deparamos com impactos à saúde mental de pessoas em várias fases da vida, com sintomas graves como ansiedade, medo excessivo, insegurança e até mesmo depressão.
Desde cedo, crianças com dislexia podem se sentir diferentes de seus colegas. O desafio em acompanhar o ritmo da leitura e escrita na escola pode levar à frustração, vergonha e uma sensação de inadequação. Esses sentimentos são exacerbados quando a dislexia não é reconhecida ou compreendida, tanto por professores quanto por familiares. A falta de compreensão e apoio pode resultar em baixa autoestima que muitas vezes acompanham o indivíduo ao longo de sua vida.
A dislexia não tratada também aumenta os níveis de estresse e ansiedade. O ambiente escolar, com suas demandas de leitura e escrita, pode se tornar uma fonte de constante pressão. Essa pressão pode levar à ansiedade por desempenho, em que o indivíduo teme falhar e ser julgado por suas dificuldades. Além disso, a persistente sensação de estar sempre lutando para alcançar o mesmo nível de desempenho de seus pares é mentalmente exaustiva, contribuindo para um quadro de estresse crônico.
Em muitos casos, a dislexia está associada à depressão. A repetida experiência de fracasso acadêmico e a percepção de que nunca serão "bons o suficiente" mergulha o indivíduo em um estado de desesperança. A depressão pode se manifestar de várias formas, incluindo perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, isolamento social, alterações no apetite e no sono, e, em casos extremos, pensamentos suicidas.
Para tratar os problemas de saúde mental decorrentes da dislexia, é essencial uma abordagem integrada que combine intervenções educacionais e terapias psicossociais. O primeiro passo é um diagnóstico precoce e preciso, que permite a implementação de estratégias educacionais personalizadas. Ferramentas tecnológicas, como aplicativos de aprendizagem e software de leitura assistida, podem ser extremamente úteis para aliviar a carga de trabalho e facilitar o processo de aprendizagem.
Além das intervenções educacionais, o apoio psicológico é crucial. Terapias cognitivo-comportamentais (TCC) podem ajudar a modificar padrões de pensamento negativos e desenvolver habilidades de enfrentamento. A TCC é eficaz na redução de ansiedade e depressão, ensinando o indivíduo a desafiar suas crenças autocríticas e a construir uma autoimagem mais positiva.
Grupos de apoio e aconselhamento também são vitais. Compartilhar experiências com outros que enfrentam os mesmos desafios podem proporcionar um senso de comunidade e reduzir o sentimento de isolamento. Esses grupos oferecem um espaço seguro para expressar sentimentos e aprender estratégias de enfrentamento de seus pares.
A participação ativa da família e dos educadores no processo terapêutico é igualmente importante. A criação de um ambiente de apoio e compreensão em casa e na escola pode fazer uma diferença significativa na vida de uma pessoa com dislexia. Educadores bem informados podem adaptar suas metodologias de ensino para atender às necessidades individuais dos alunos, enquanto os familiares podem fornecer encorajamento constante e reforçar a autoeficácia da pessoa.
Quando não abordada adequadamente, a dislexia acaba por causar implicações importantes na saúde mental, ao gerar ansiedade e potencialmente levar à depressão. Mas com um diagnóstico precoce, intervenções educacionais adequadas e apoio psicológico, é possível mitigar esses efeitos e promover uma vida equilibrada e produtiva para indivíduos com dislexia. A chave está na compreensão e no suporte contínuo, permitindo que essas pessoas desenvolvam todo o seu potencial e vivam de maneira plena e confiante.
O Instituto ABCD é uma organização social sem fins lucrativos que se dedica, desde 2009, a gerar, promover e divulgar conhecimentos que tenham impacto positivo na vida de brasileiros com dislexia e outros transtornos de aprendizagem, com o objetivo de garantir que todos tenham sucesso na escola, no trabalho e na vida.
* Juliana Amorina é diretora-presidente do Instituto ABCD
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