Projeto leva estímulos antes restritos às clínicas para o ambiente público e incentiva a convivência inclusiva
Redação Publicado em 22/12/2025, às 06h00
Belo Horizonte agora conta com o primeiro espaço multissensorial público e gratuito de Minas Gerais desenvolvido para crianças autistas, o Parque Girassol. Instalado no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro da capital, o projeto leva ao ambiente público estímulos sensoriais que antes estavam restritos a espaços clínicos, incentivando a convivência inclusiva e ampliando o acesso das famílias a vivências fundamentais para o desenvolvimento infantil.
Aberto a toda a população, o parque funciona de terça a sábado, das 7h às 21h, e aos domingos, das 7h às 17h. A proposta é criar um ambiente acessível, democrático e inclusivo, onde crianças típicas e atípicas compartilham o mesmo espaço de forma natural, fortalecendo o convívio e o senso de comunidade.
Ainda em fase piloto, o projeto foi idealizado pela Ativa Inclusão e pelo Instituto AMA. O Parque Girassol contou com um investimento aproximado de R$ 500 mil e recebeu apoio da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e da Fundação Municipal de Parques e Zoobotânica para uso do espaço. A manutenção diária será realizada pelo município, enquanto a Ativa Inclusão oferecerá garantia técnica dos equipamentos no primeiro ano.
Com cerca de 150 m², o Parque Girassol reúne plataformas de movimento, painéis sensoriais, rota de equilíbrio e elementos de estímulos táteis, pensados para contribuir com o aprendizado, o desenvolvimento da coordenação, da autonomia e da consciência corporal ao ar livre.
Os equipamentos foram desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar, formada por terapeutas ocupacionais, arquitetos, engenheiros, especialistas em acessibilidade e pais de crianças autistas, garantindo que o espaço unisse conhecimento técnico, experiência prática e sensibilidade às necessidades reais das famílias. Os brinquedos podem ser utilizados de forma livre ou como apoio terapêutico, quando a atividade é conduzida por profissionais.
Mais do que estruturas de lazer, os equipamentos do Parque Girassol foram pensados como recursos que favorecem a participação das crianças no espaço público. Todos os aparelhos contam com QR Codes que direcionam para tutoriais acessíveis, com Libras, audiodescrição e legendas, ampliando o uso por diferentes públicos.
De acordo com a terapeuta ocupacional Bárbara Moura, que integrou a equipe multidisciplinar responsável pelo desenvolvimento dos equipamentos, o parque considera as diferentes formas de processamento sensorial presentes no autismo.
“Algumas crianças sentem os estímulos de forma muito intensa, enquanto outras precisam de mais estímulo para perceber o próprio corpo. Por isso, os equipamentos do Parque Girassol oferecem entradas sensoriais variadas, como movimento, equilíbrio, força, coordenação, estímulos táteis e visuais, sempre de maneira organizada e segura”, explica.
Segundo a terapeuta, esses estímulos ajudam a ajustar o nível de alerta do corpo, melhorando a atenção, a consciência corporal e o planejamento motor, o que impacta diretamente na participação das crianças nas brincadeiras.
“No Parque Girassol, a criança tem acesso a um espaço público onde pode praticar sua autonomia, brincar e participar com mais independência. Um balanço bem utilizado pode ajudar na autorregulação e no foco. Um circuito tátil pode apoiar a tolerância a diferentes texturas e a organização sensorial. Estruturas de desafio motor contribuem para força, coordenação, práxis e também para a segurança emocional”, afirma.
Ela reforça que, no parque, o brinquedo vai além do lazer. “O brinquedo não é apenas diversão. Ele é um recurso de participação. Organiza o corpo, favorece a autorregulação e abre caminhos para que a criança autista se conecte com o mundo ao seu redor.”
Para Filipe Rosa, diretor da Ativa Inclusão, o projeto reflete uma visão de inclusão construída no cotidiano.
“Nosso compromisso era criar um espaço onde crianças autistas pudessem se sentir incluídas, seguras e acolhidas. Ao levar para o ambiente público estímulos que antes estavam restritos às clínicas, queremos promover saúde e reduzir barreiras que ainda limitam o acesso das famílias a vivências fundamentais para o desenvolvimento e a socialização. O Parque Girassol é aberto a todos e reflete o que acreditamos: inclusão se constrói na convivência diária, em ambientes que acolhem a diversidade sem segregar.”
Além de crianças autistas, o parque foi planejado para atender pessoas com diferentes tipos de deficiência, incluindo visual, auditiva e motora.
Há estudos para expandir o projeto para outras cidades brasileiras por meio de parcerias públicas e privadas. A iniciativa busca replicar um formato que apoia o desenvolvimento e a saúde de crianças autistas, fortalece a convivência entre famílias típicas e atípicas e contribui para a construção de uma sociedade mais acolhedora.
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