Livro “Um Dia no Zoológico” amplia acesso à leitura para crianças que utilizam comunicação alternativa

Obra gratuita organiza palavras essenciais em ordem alfabética e oferece suporte à comunicação aumentativa e alternativa (CAA)

Gláucia Araujo e Rachel Botelho* Publicado em 18/12/2025, às 06h00

Capa do livro `Um dia no zoológico` e suas autoras, Gláucia Araujo e Rachel Botelho - Inagens: Divulgação

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A literatura infantil ganha novos significados quando ultrapassa os limites da fala. Com o lançamento do livro ´Um dia no zoológico´, surge uma proposta pensada para crianças e jovens que utilizam outras formas de se expressar.

A obra nasceu da convivência das autoras com crianças e jovens que se comunicam de diversas maneiras e da inquietação diante do desafio vivido por muitas famílias: como apoiar a participação de crianças que não usam a fala como forma principal de comunicação durante a leitura? Em um cenário onde a diversidade comunicativa ainda encontra barreiras nas escolas e nos lares, o livro se apresenta como um recurso que amplia o entendimento sobre comunicação, leitura e inclusão. Não se trata de um projeto acadêmico, mas de uma resposta direta à falta de materiais estruturados que apoiem a comunicação aumentativa e alternativa (CAA) e favoreçam a leitura emergente.

Diferente das narrativas tradicionais, o livro é organizado por palavras essenciais em ordem alfabética, vocabulário que aparece com frequência em diversos contextos e que facilita combinações simples e funcionais durante a comunicação. Esse formato favorece o uso integrado com sistemas de CAA (comunicação aumentativa e alternativa) e amplia oportunidades de participação para crianças que ainda não decodificam palavras, mas já expressam ideias, observam, opinam e fazem escolhas.

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A proposta do livro é oferecer um material sem pré-requisitos, pronto para ser utilizado em casa, na escola ou em atendimentos clínicos, permitindo que o adulto antecipe o vocabulário, planeje interações e crie situações reais de conversa. O conteúdo também contribui para ampliar a linguagem, formular perguntas, comentar informações e relacionar o vocabulário ao cotidiano da criança.

A obra dialoga com pesquisas recentes de especialistas como Karen Erickson, Caroline Musselwhite, David Koppenhaver e Jane Farrall, que defendem que crianças com necessidades complexas de comunicação precisam ter acesso desde cedo à escrita, independentemente de utilizarem fala, gestos, pictogramas ou dispositivos eletrônicos como forma principal de expressão.

´Um dia no zoológico` oferece uma ponte entre comunicação expressiva, compreensão e alfabetização ao permitir que o adulto modele o uso da linguagem, explore palavras escritas e estabeleça relações entre essas palavras, símbolos e situações do dia a dia. A leitura compartilhada também é um eixo central da proposta.

A história apresenta dois irmãos em um passeio ao zoológico com a mãe, em um enredo repleto de elementos que fazem parte do universo infantil, como animais, ações e objetos. A criança pode escolher palavras livremente, relacioná-las a suas experiências e participar da narrativa de forma ativa, sem a necessidade de seguir a ordem das páginas. O vocabulário essencial presente no livro normalmente aparece em pranchas e dispositivos de comunicação, o que facilita a modelagem do adulto e aumenta as possibilidades de expressão da criança.

Um dos diferenciais mais importantes da obra é sua gratuidade. O livro pode ser acessado em versão digital ou para impressão, disponível na Amazon para Kindle, no site do Centro Aragonês de Comunicação Aumentativa e Alternativa (ARASAAC), no Comunicatea e nos perfis das autoras no Instagram. Simples de reproduzir, pode ser utilizado em salas de AEE, ambientes escolares, atendimentos clínicos e até mesmo integrado a dispositivos de CAA que leem PDFs.

A decisão de disponibilizar o material gratuitamente tem impacto significativo no contexto brasileiro, onde muitos recursos de CAA possuem custos elevados. A obra contribui para democratizar o acesso, fortalecer práticas pedagógicas inclusivas e ampliar o repertório de materiais acessíveis disponíveis no país. Ao organizar palavras essenciais em ordem alfabética, ´Um dia no zoológico` reforça o papel do adulto como mediador da comunicação e da leitura, sustentando práticas que exigem constância e reconhecem o tempo necessário para o desenvolvimento da linguagem. A obra também fomenta debates sobre inclusão, formação docente e políticas públicas, avançando na discussão sobre como garantir participação linguística para crianças que utilizam CAA.

Em um país com produção limitada de materiais nessa área, o livro se destaca ao reunir conhecimento técnico, sensibilidade pedagógica e compromisso com acessibilidade. Ele reconhece diferentes formas de comunicação e se aproxima de movimentos internacionais que defendem a alfabetização para todas as crianças, independentemente de como cada uma expressa suas ideias. Ao circular de forma aberta, a obra fortalece redes de educadores, famílias e terapeutas, valorizando a diversidade comunicativa e reafirmando que toda criança tem direito ao livro, à escuta e à participação. No centro de tudo, permanece o propósito que deu origem ao projeto: criar oportunidades reais de dizer, escolher e participar. Toda criança comunica — e toda criança merece ser reconhecida em sua singularidade.

Sobre as autoras

Rachel Botelho é uma daquelas pessoas que, desde menina, leva um livro consigo, acompanhada por sua vasta imaginação, e adora compartilhar histórias com seus filhos e alunos. Formada em Pedagogia e Psicologia, possui diversas especializações nas áreas de Educação Especial e Inclusiva, que são o foco de seu trabalho em escolas públicas. Acredita que ler não é apenas decodificar palavras, é viver experiências, criar laços, abrir janelas de possibilidades e promover interações significativas. Defende que toda criança merece ser vista, ouvida e incluída.

Gláucia Araujo sempre acreditou que toda pessoa tem algo importante a dizer. Pedagoga, mestre em Psicologia, esposa e mãe, atuou mais de 30 anos como professora, gestora e formadora em escolas públicas. Neste livro, abre-se a porta da imaginação para mostrar que existem mil jeitos de conversar e que todos eles merecem ser escutados com carinho. Uma história feita com afeto, que acolhe, ensina e inspira pequenos e grandes corações que trilham o caminho do letramento e da leitura compartilhada. Porque todo mundo tem algo lindo para contar. Só precisa de alguém disposto a ouvir.

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