Lucas é Chef de cozinha e Pesquisador da cultura afrodiaspórica caipira
Monique Prado* Publicado em 15/12/2023, às 06h00
Sabe aquela memória nostálgica de vó, em que as nossas mais velhas mantinham reunidas as famílias em volta da mesa numa tarde de domingo com conversas atravessadas e música brasileira tocando de fundo? Esse é o cenário perfeito para o Chef Lucas Abreu, cria de Guadalupe, Zona Norte do Rio de Janeiro.
Para o cozinheiro, observar de perto os seus avós cozinhar foi decisivo para sua escolha profissional.
"Enquanto homem negro, periférico, Chef de cozinha e pesquisador de culturas alimentares, tenho sido influenciado pela cultura caipira e afrodiaspórica, honrando principalmente a alimentação do nosso povo".
Lucas Abreu morou por quase um ano na pequena cidade de Desterro do Melo, Minas Gerais, o que aumentou ainda mais o seu interesse pela gastronomia afrodiaspórica. Lá o cozinheiro pode conviver e aprender com agricultoras e quitandeiras da cidade.
O Lucas carrega o legado de ser o primeiro chef negro a chefiar um restaurante na cidade São João Del Rei, no restaurante e bar Cura, onde instalou uma cozinha orientada a alimentação afrodiaspórica priorizando a contratação de cozinheiras pretas.
Proporcionar uma experiência gastronômica com consciência das influências de seus antepassados, pessoas pretas em diáspora, é o que tem feito o chef Lucas Abreu seguir pesquisando em outros territórios.
"Enquanto pesquisador da comida caipira e afrodiaspórica, tenho como principal objetivo colocar na mesa as influências alimentares que estão vivas na minha trajetória".
O chef acredita em uma gastronomia afetiva, nutritiva e sem desperdícios, Para ele, a alimentação afrodiaspórica remete à experiências sensoriais, às memórias e às histórias narradas pelas pessoas mais velhas que abriram caminhos para que o Chef acesse diferentes territórios, cheiros, aromas, paladares, texturas e sabores e técnicas criados por pessoas negras, as quais absorveu em sua prática gastronômica.
O jovem cozinheiro reforça "Minha cozinha é afetiva, ancestral e contemporânea. Afetiva porque remete às memórias da minha criação. Ancestral porque honra os meus mais velhos, além dos agricultores que fui encontrando pelo caminho;. Contemporânea porque dialoga com técnicas e preparos modernos, respeitando as bases da cozinha caipira do prato."
Atualmente Lucas está na Casa Crespa com a Residência Gastronômica. A Casa conhecida como quilombo urbano pelas frequentadoras, é um espaço criativo, colaborativo, afrocentrado e independente gestado por mulheres negras que mantém vivos a memória e os saberes da população negra através de oficinas e formações voltadas a gastronomia e ao empoderamento negro, além de festas que celebrem a negritude.
*Monique Prado é pesquisadora em Direitos Humanos e Humanidades na Universidade de São Paulo e former fellow no do programa americano African Descendant Social Entrepreneurship (2023)
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