Suplementação deve ser receitada levando em conta as necessidades metabólicas da paciente, principalmente quando é gestante
Dra. Bruna Pitaluga* Publicado em 23/11/2022, às 06h27
É costume dizer a uma mulher, depois que ela engravida, que a partir daquele momento deverá comer por dois. Na verdade, a gestante deve comer duas vezes melhor. Durante a gestação, a grávida precisa alimentar-se de uma maneira que forneça os nutrientes necessários para a manutenção de sua saúde e o pleno crescimento e desenvolvimento do feto. Na maioria das vezes, contudo, aquilo que a mulher apreende dos alimentos não é suficiente para que esses dois objetivos se cumpram. Assim, a ênfase na suplementação nutricional.
No entanto, essa estratégia deve ser empregada de maneira bastante criteriosa. É preciso, antes de tudo, cuidar do básico, como, por exemplo, o tipo de alimento que a grávida costuma ingerir. A suplementação nunca compensará uma dieta equivocada baseada em alimentos industrializados, processados e ultraprocessados, como doces, bolachas, massas e suco de caixinha. Assim, para que a suplementação surta efeito, a gestante deve preferir alimentos naturais, como carnes, frutas, legumes e verduras.
Dito isso, é preciso deixar claro que a prática da suplementação não é uma solução mágica de todos os problemas nutricionais da gestante, mas uma estratégia de apoio a sua condição fisiológica. Ou seja, não deve ser receitada pelo médico ou médica obstetra a esmo, mas, sim, seguindo critérios bastante rigorosos. Para isso, conhecimento é fundamental. Há um universo de informações que devem estar no radar do profissional responsável pelo acompanhamento pré-natal para que ele possa estipular os suplementos adequados.
Como, por exemplo, a informação de que a gestação, em seu aspecto metabólico, não deve ser observada apenas do ponto de vista da paciente. A Medicina, historicamente, sempre se preocupou com o metabolismo materno e esqueceu de relacioná-lo com os metabolismos da placenta e do feto. Assim como a mãe, o feto possui glândulas adrenais, pâncreas, tireoide, que têm importantes funções metabólicas. Já a placenta atua temporariamente como esses órgãos. Levar isso em consideração é de suma importância para nortear a conduta do médico em relação à suplementação nutricional da paciente.
Reiterando, não se trata da suplementação pela suplementação, mas sim de uma estratégia consciente das vias metabólicas que são apoiadas pelo recurso. A paciente que for ao consultório médico em busca de uma grande quantidade de suplementos ou da “novidade da semana” nesse quesito, certamente, irá se decepcionar. Isto porque a prescrição, além de bastante criteriosa, é, via de regra, totalmente individualizada, levando em conta, por exemplo, as deficiências nutricionais da paciente, nutrientes importantes para a gestante, e as condutas relevantes.
É papel do médico que faz o acompanhamento pré-natal explicar para a sua paciente que nenhum suplemento funciona sozinho, atuando em conjunto com outros. Portanto de nada adiantará para a gestante ingerir uma grande quantidade de um suplemento e ser negligente com os demais que também são necessários.
Lembrando que, antes da suplementação, no acompanhamento clínico pré-natal, vem o cuidado com aspectos básicos da rotina da gestante, que exercerão influência no metabolismo da paciente. Assim, além de uma alimentação que priorize alimentos naturais, é preciso que a gestante pratique regularmente atividade física e tenha uma boa higiene do sono, cuidando principalmente de seu ciclo circadiano.
* Dra. Bruna Pitaluga é médica obstetra formada pela Universidade de Brasília – UnB, com mais de 20 anos de experiência profissional. Possui especialização em medicina funcional, pelo Instituto de Medicina Funcional (EUA) e é pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia – ABRAN.
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