Os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal (TEAF) têm tratamento?

Reconhecimento precoce das alterações provocadas pelo consumo de álcool durante a gestação, por parte de pediatras, é essencial para o tratamento do TEAF

Helenilce de Paula Fiod Costa* Publicado em 26/06/2025, às 06h00

O tratamento para TEAF requer o suporte de toda a família - pexels

O álcool ingerido na gestação é considerado um importante agente capaz de causar alterações físicas e comportamentais no feto e no recém-nascido, sendo a causa mais frequente de deficiência mental na criança.

No entanto, há diferentes graus de intensidade com que o álcool ingerido pela gestante pode lesar o feto. As formas mais graves são a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) - de parcial até formas mais específicas, como anomalias congênitas (cérebro, coração e rins são os órgãos mais comprometidos) e distúrbios do neurodesenvolvimento, o que constitui o chamado “Transtornos do “Espectro Alcoólico Fetal (TEAF)” ou Alterações Fetais Devidas ao Álcool” ou, em inglês, FASD - "Fetal Alcohol Spectrum Disorders”.

Esclareço que os TEAF não são um diagnóstico, mas um termo geral que engloba várias doenças: a Síndrome Alcoólica Fetal, grave à parcial, as anomalias congênitas ligados ao álcool, os distúrbios neurológicos e de comportamento e desenvolvimento da criança.

Atualmente algumas opções têm sido recomendadas para as gestantes no pré-natal com o objetivo de tentar proteger o feto dos agravos do álcool, como administração de antioxidantes (vitaminas B, C, E), suplementos alimentares como ácido fólico, selênio, colina e os ácidos graxos de cadeia longa cujos resultados ainda não estão comprovados.

O tratamento, de modo geral, deve sempre incluir esses quatro componentes: (1) informação e conhecimento, (2) medicamentos (3) psicoeducação e (4) apoio e suporte social e do poder público à criança e suas famílias.

Não existe um tratamento curativo uma vez que as lesões instaladas nos vários órgãos permanecem por toda vida

O tratamento pós natal é principalmente voltado às anomalias cerebrais, cardíacas, renais, deficiência do crescimento, distúrbios do comportamento e dificuldades escolares. 

O importante é o reconhecimento precoce das alterações provocadas pelo álcool no feto/criança pelos pediatras, os quais devem estar aptos a fazer o diagnóstico diferencial com as síndromes genéticas.

As intervenções não medicamentosas incluem reabilitação, educação especial e suporte social, o que é efetivado por meio de uma equipe multidisciplinar, composta por pediatras, neurologista, cardiologista, nefrologista, oftalmologista, fisiatra, fisioterapeuta, nutrólogo, psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional e equipes de saúde treinadas, aliados a professores que reconheçam as dificuldades escolares, principalmente em matemática, requerendo um ensino personalizados.

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O tratamento medicamentoso é meramente sintomático e dirigido principalmente às manifestações do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sendo que os mais recomendados são os psicoestimulantes. Vale ressaltar que a necessidade de uso de medicamentos deve ser decidida pelo médico.

Estudo com a administração de colina em crianças menores de quatro anos com TEAF mostrou resultados satisfatórios em relação às deficiências de aprendizagem e retenção do conhecimento. A colina é um nutriente essencial para a produção de acetilcolina - um neurotransmissor que desempenha papel de estimular a memória e controle dos movimentos musculares involuntários, da atenção e do sono. As fontes de colina são: ovos, leite, amendoim, nozes, soja, fígado de frango, brócolis, alcachofra, atum e salmão e carnes de maneira geral.

Já estudos populacionais de crianças com TEAF mostram que resultados adversos são mais prováveis quando faltam serviços de apoio e sobrecarga do cuidador/família. A complexidade de criar uma criança com TEAF aumenta na adolescência e na idade adulta jovem.

Finalizando, ensinar os jovens a fazer escolhas saudáveis, incluindo evitar o uso excessivo de álcool em geral e abstinência na gravidez é a melhor forma de prevenção!

 

* Helenilce de Paula Fiod Costa é Mestre em Pediatria pela UNIFESP, Presidente do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-nascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo, e Coordenadora do grupo de trabalho dos transtornos do espectro alcoólico fetal da Sociedade Brasileira de Pediatria.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres

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