Como a população e as gestantes bebem no Brasil?

Consumo de bebidas alcoólicas é um grave problema de saúde pública mundial, sobretudo na gestação. Grávidas que bebem colocam o bebê em risco

Hermann Grinfeld* Publicado em 01/12/2022, às 06h00

Bebidas alcoólicas não devem ser consumidas na gestação -

Estimativas oficiais indicam que 52% dos brasileiros beberam pelo menos uma vez por ano e os 48% restantes relataram estar abstinentes, de tal forma que não fizeram uso na vida e tampouco nos 12 meses anteriores à entrevista.

As mulheres apresentam prevalência de abstinência maior, de 59%, mas nota-se que vem diminuindo ao longo dos últimos anos. Já os homens ainda bebem mais frequentemente, ou seja, 39% dos homens bebem pelo menos 1 vez por semana, dos quais 11% a 15% bebem diariamente.

A quantidade de bebida por ocasião de consumo também difere conforme o sexo, ou seja, enquanto a maioria das mulheres (68%) bebeu até 2 doses de álcool na última ocasião, 38% dos homens beberam 5 ou mais doses, dos quais 11% beberam 12 ou mais doses na última ocasião.

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Em relação ao perfil socioeconômico, as classes A, B e C são as de uso mais frequente, sendo que os índices de abstinência são maiores para as classes D e E (de prevalência entre 55% e 60%). Porém, dois terços dos entrevistados da classe A fizeram-no de forma “leve”, ou seja, até 2 doses, enquanto que 45% dos entrevistados da classe E beberam mais de 5 doses alcoólicas na última ocasião, relatando um padrão de beber mais “pesado”.

A cerveja e o chope são os mais consumidos (61% do total), sendo que o vinho e destilados ocupam, respectivamente a segunda (25%) e terceira (12%) colocações.

Diferença entre os sexos: não há diferença para o uso de cerveja, mulheres bebem mais vinho que os homens, em contrapartida, os homens bebem mais destilados que as mulheres. No que concerne ao uso de destilados, é feito preferentemente na forma de cachaça (66%) e prevalentemente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e por pessoas de baixa condição socioeconômica (31%).

Quanto ao padrão de consumo, o uso abusivo – definido como o consumo de 4 ou 5 doses de álcool, respectivamente, entre mulheres e homens – é mais prevalente entre os homens (21%) que mulheres (12%).

Consumo de álcool por gestantes: a ingestão de bebidas alcoólicas constitui um importante problema de saúde pública mundial. Na gestação tal consumo ganha maior importância, pois esse consumo pode levar ao comprometimento tanto da saúde materna quanto do feto. Na gravidez, o álcool pode levar ao abortamento, descolamento prematuro da placenta, hipertonia uterina, trabalho de parto prematuro e aumento do o risco de infecções.

Em relação ao feto, o consumo materno associa-se à deficiência de crescimento pré e pós-natal, atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, microcefalia, disfunção motora fina e dismorfismo facial, além de fenda palatina e anomalias cardíacas. O efeito tardio se manifesta por mudanças na capacidade intelectual, de aprendizagem, atenção e comportamento.

Estudos recentes mostram que não existe uma quantidade de consumo alcoólico que possa ser considerada segura durante a gravidez, e que as mulheres deveriam ser aconselhadas à abstinência alcoólica desde a concepção e durante todo o período de gravidez.

As estimativas de consumo de bebida alcoólica durante o período gestacional variam entre diferentes países. No Brasil, em um estudo realizado em seis capitais de estados da federação, nos quais se avaliou gestantes atendidas em hospitais públicos, verificou-se que 34,4% delas consumiam bebidas alcoólicas. Estas frequências foram estimadas em 12% nos Estados Unidos e na Suécia, 52% na França, 59% na Austrália e 60% na Rússia.

A boa notícia é que a imensa maioria da população geral adulta apoia o aumento de programas preventivos ao uso do álcool em escolas (92%), programas de tratamento para o alcoolismo (91%) e campanhas governamentais de alerta sobre os riscos do álcool (86%).

Faça parte deste movimento, ajude e compartilhe com amigos que o álcool deve ser zero na gravidez.

Gravidez sem álcool!                                                                                                           

 

* Hermann Grinfeld é pediatra e Vice-Presidente do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recém-nascido (SAF) da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

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