Assessora pedagógica fala sobre a relevância do Dia da Consciência Negra e o papel das instituições de ensino na formação de estudantes mais empáticos
Redação Publicado em 20/11/2024, às 06h00
Parte da sociedade brasileira acredita que o racismo não existe. No entanto, a negação do problema é um fator preponderante para a sua perpetuação. Por isso, é de grande importância haver um dia específico para se tratar intencionalmente dessa temática: o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Trazendo ao ambiente escolar, por mais que as crenças do senso comum tenham como base a igualdade, é perceptível no dia a dia, com todas as demandas que uma instituição de ensino possui, que ações de cunho discriminatório ocorram sem serem devidamente nomeadas, reconhecidas ou até prevenidas.
Dessa forma, a assessora pedagógica do programa Líder em Mim, Edy Umada, explica que ainda que pequenas ações sejam feitas nas escolas com o intuito de abarcar o tema, em determinado momento é necessário ter projetos mais efetivos. “Isso permitiria com que ficasse muito claro que esse tipo de comportamento (o discriminatório) não será mais tolerado", afirma.
Uma das maneiras de trabalhar essa questão em sala de aula, segundo aponta a especialista, seria enaltecer e valorizar a riqueza da cultura afro-brasileira, além de fomentar discussões sobre os direitos cerceados e buscar igualdade de oportunidade e de justiça para todos, independentemente da cor da pele. “Quando uma pessoa consegue enxergar e valorizar o outro sem partir da premissa que suas próprias características são as melhores e as únicas que podem ser aceitas, ela consegue conviver bem, com empatia e respeito”, explica.
De acordo com a especialista, para disseminar a riqueza da cultura afro-brasileira, a escola pode, ao organizar seu plano anual, buscar referenciais teóricos e estar atenta se o seu repertório contemplará e valorizará essa cultura.
A assessora pedagógica destaca que essa proposta implica em lembrar que a sociedade brasileira teve início em uma base na qual os indivíduos pretos eram escravos, vendidos como objetos e desconsiderados como integrantes dessa sociedade. “Mesmo com a abolição da escravatura, isso não fez com que esse conceito de subserviência desaparecesse”, analisa.
No decorrer das décadas, desde 1888 até os tempos atuais, não se pode negar que o preconceito ainda se manifesta em muitos pontos. Sendo assim, usar o Dia da Consciência Negra também é um ponto de partida para que as ações para essa erradicação sejam permanentes nas escolas. Os educadores, por sua vez, poderão trabalhar para fazer da igualdade uma rotina em suas práticas pedagógicas.
Um exemplo deste ponto de partida é o chamado “Letramento Racial”, um termo que não é novo, mas começou a ganhar evidência nos últimos anos e pode ajudar muito as escolas a traçarem um plano efetivo de trabalho e abordagem em relação ao racismo na sociedade. É um conjunto de práticas que visa conscientizar as pessoas sobre as relações raciais na sociedade.
O objetivo é que as pessoas possam:
- Reconhecer e questionar estereótipos, preconceitos, discriminações e injustiças raciais;
- Valorizar a diversidade e promover a equidade;
- Gerar senso crítico para o combate às atitudes racistas.
O conceito foi utilizado pela primeira vez pela socióloga afro-americana France Winddance Twine, em 2003. No Brasil, a psicóloga Lia Vainer Schucman traduziu o termo para o português. O letramento racial pode contribuir para a construção de uma sociedade mais igualitária. Na escola, é importante ter uma equipe preparada para promover conversas sobre esses temas.
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