As lições das enchentes no RS: qual o papel da escola frente às mudanças climáticas?

Diante do crescente desafio das mudanças climáticas que assolam o nosso planeta, o papel das instituições de ensino em relação à educação ambiental, em todos os âmbitos e níveis formativos, torna-se cada vez mais relevante na formação de uma geração consciente e engajada na preservação do meio ambiente. O Colégio Santa Inês, comprometido com as práticas sustentáveis, sociais e de governança, destaca-se ao incorporar estratégias de ESG (Environmental, Social, and Governance) em seu cotidiano, promovendo uma cultura de sustentabilidade que vai além das salas de aula.

Uma iniciativa inspiradora é a horta orgânica mantida na escola. Ela não só embeleza o ambiente, como também serve de palco para diversas atividades educativas e sustentáveis. Colaboradores e estudantes participam ativamente do plantio e cuidado das mudas, utilizando o espaço para estudos científicos e consumo de chás, temperos e hortaliças cultivados localmente.

Além disso, todos os anos, realizamos uma tradicional plantação de sementes de pinhão na Educação Infantil. Esse projeto, que ocorre há mais de 20 anos, já gerou mais de 2100 araucárias, o que contribui diretamente para a preservação dessa espécie ameaçada de extinção.

O plantio dos pinhões teve início em 2003 e, desde então, tornou-se um marco na educação ambiental oferecida pelo colégio. As sementes são plantadas pelas crianças e, ao longo do ano, os pequenos jardineiros cuidam das mudas, observam seu crescimento e fazem registros. Em dezembro, cada criança leva para casa a sua mudinha já enfeitada para o Natal, criando, assim, uma conexão especial com a natureza. No ano seguinte, elas são replantadas e passam a enfeitar as áreas verdes do colégio, os quintais das famílias e até o Jardim Botânico de Porto Alegre.

O compromisso com a sustentabilidade é um valor fundamental do Colégio Santa Inês. Firmamos com a comunidade escolar, constantemente, o compromisso da preservação do planeta. Ao mostrar a importância do cultivo sustentável, educamos pelo exemplo: estimulando uma vida mais saudável, consumindo o que plantamos e reduzindo o desperdício de alimentos e água.

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Em nosso ambiente escolar, tanto no cotidiano, quanto em atividades festivas, não utilizamos materiais descartáveis, como copos, recipientes, entre outros, assim como introduzimos, em sala de aula, a utilização de materiais não estruturados, selecionados pelas famílias, para trabalhar com as crianças. São produzidos trabalhos lindos, com os quais contribuímos com o cuidado do meio ambiente e reduzimos os custos na lista de materiais solicitados às famílias. Desde setembro de 2023, integramos a Rede de Escolas Associadas da UNESCO, e isso significa, na prática, que a escola e a comunidade escolar têm como missão desenvolver um olhar crítico do modo de pensar e, principalmente, de agir em relação às questões ambientais.

No Dia do Meio ambiente, por exemplo, a escola distribuiu sementes de canafístula para estudantes e educadores, a fim de incentivar o plantio e reforçar a ideia de que somos sementes para um mundo melhor. Dessa forma, incentivamos a biofilia, que envolve o cuidado do meio que nos cerca, assim como trazemos, para dentro dos nossos ambientes, plantas para serem cuidadas pelas crianças.

Também implantamos um Código Verde, uma espécie de guia de boas práticas sustentáveis, como evitar o descarte desnecessário de lixo e não permitir a utilização de copos plásticos. Dessa forma, inspiramos a comunidade a adotar ações que contribuam para um planeta mais resiliente.

Em resposta, dispomos de copos feitos de fibra de bambu para os visitantes da escola, enquanto a comunidade, já instruída, traz de casa seus copos eco, suas garrafinhas ou suas canecas. Assim, damos preferência para itens que possam ser higienizados e reutilizados, com baixo impacto ambiental. Dispomos de um coletor de óleo de cozinha e de materiais eletrônicos, para evitar que esses utensílios entrem em contato com plantas e animais na natureza, pois não podem ser descartados nas lixeiras comuns, sob risco de contaminação.

O selo FSC, presente em nossas produções literárias, certifica que os materiais foram produzidos com derivados de um processo orientado de maneira ecologicamente correta, socialmente justa e economicamente viável. Possuímos um coletor de água da chuva com a capacidade de 600 litros em nossa horta orgânica, o que possibilita a economia de água potável. Essa horta também abriga um minhocário alimentado com o húmus produzido a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos dos alimentos selecionados da cozinha das Irmãs Escolares. Incentivamos o plantio de diversas plantas, presenteando estudantes, familiares e educadores para ampliarem o verde, a fim de se conectarem com a natureza em ações específicas da escola.

Lembramos que o trajeto de casa até a escola pode ser mais sustentável. Por isso, recomendamos que os estudantes deem preferência ao transporte público ou dividam carona com colegas que morem próximos, bem como venham caminhando ou de bicicleta, quando possível, para reduzirmos a emissão de carbono. Recomendamos que as luzes sejam apagadas ao sair dos espaços e que computadores, climatizadores e demais eletrônicos sejam desligados após o uso, visando economizar energia. Colaboramos com a economia de água, orientando que, na hora da higiene pessoal, todos se certifiquem de que a torneira esteja aberta apenas durante o uso e não se esqueçam de desligá-la ao sair do ambiente. Aos que realizam as refeições na escola, orientamos que tenham cuidado ao lavar seus alimentos e utensílios.

No Colégio Santa Inês, apostamos na separação correta do lixo e contamos com a colaboração das famílias para fazerem o mesmo em suas casas. Com esses exemplos e essas ações concretas, o Colégio Santa Inês mostra que o papel da escola frente às mudanças climáticas não é apenas educar, mas também inspirar e mobilizar a comunidade para práticas mais sustentáveis e responsáveis, promovendo um futuro mais verde e saudável para todos.

Além de todas essas preocupações de sustentabilidade ambiental, investimos também na gestão de energia na escola, como forma de economizar, preservar a natureza e aproveitar a energia solar como uma dádiva da natureza.

Assim, entendemos que estamos contribuindo com o cuidado da casa comum e reconhecendo a raiz humana da crise ecológica. Partimos da reflexão de que há um modo desordenado de conceber a vida e a ação do ser humano, que contradiz a realidade até o ponto de arruiná-la.

Por isso, temos urgência de formar a nova geração com outras concepções e com capacidade de transformar o que precisa ser mudado.

*Irmã Celassi Dalpiaz é diretora do Colégio Santa Inês