Saúde emocional: a importância do apoio das empresas na volta da licença-maternidade

Quando as profissionais voltam ao trabalho depois da licença-maternidade elas precisam de apoio

Maria Barreto* Publicado em 17/08/2023, às 10h00

Nem sempre é fácil voltar ao trabalho depois da licença-maternidade -

O medo da possibilidade de demissão ou a vontade de mudar o rumo da vida no retorno da licença-maternidade é um tema recorrente, mas ainda sem muita possibilidade de solução. Uma recente pesquisa do portal Empregos.com.br revelou que mais de 56% das mulheres já foram desligadas ou conhecem outra mulher que foi demitida após o período assegurado por lei para que fique com o filho recém-nascido. A mesma pesquisa também revelou que apenas 5,5% foram promovidas grávidas ou depois da licença.

Ao mesmo tempo em que a insegurança de se manter no emprego atinge uma parcela considerável das mulheres, outras também não se veem mais atuando da mesma forma que antes. Foi o que aconteceu comigo.

Na época eu tinha 33 anos,  era executiva de uma grande empresa e viajava semanalmente à trabalho. Apesar da rotina intensa e o cansaço das viagens eu era apaixonada pelo meu trabalho e realizada. Fui promovida e aceitei mudar de estado. Meu marido topou pedir demissão e veio comigo.

Um mês após a mudança eu descobri a minha gravidez. Engravidar nunca foi algo óbvio para mim. Apesar de querer ter filhos um dia, vinha postergando essa decisão. Hoje tenho consciência do enorme medo que tinha de falhar como mãe ou como executiva. Engravidei sem querer e, apesar do desespero imediato de estar em uma nova cidade, sem rede de apoio, assumindo uma posição importante na empresa e com o marido ainda sem ter se re-colocado, rapidamente tudo se ajeitou e tive uma gravidez tranquila e feliz.

 

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Durante a minha licença maternidade, minha companhia passou por um processo de reestruturação. Naquele contexto eu não tinha medo de ser demitida, mas receio de frustrar a organização, o meu chefe e a minha equipe, afinal todos contavam muito comigo para que a área conseguisse lidar melhor com aquela situação. Ainda durante a licença, parte da minha equipe foi desligada.

Eu entrei de cabeça no mundo da maternidade e tudo que fazia era passar meus dias colada na minha filha - Dudinha. Conforme o tempo passava e o fim da licença se aproximava, mais eu sofria.

Foi então que eu entendi que não queria mais voltar para esse trabalho e para a minha velha rotina. Eu não me enquadrava mais à executiva que eu era até aquele momento. Entendi que eu era uma nova mulher e queria uma nova vida. Teria - e queria - me reinventar, ser uma nova profissional. Pedi demissão e iniciei outro desafio, também na carreira executiva e também em uma grande empresa - só que agora com esta minha nova identidade.

Segui me questionando sobre as possíveis soluções para que esse impacto vivido pelas mulheres fosse menor e de que forma as organizações poderiam acolher essa profissional. A pesquisa citada acima também mostra que apenas 16,2% das organizações ofereceram acompanhamento médico e/ou psicológico para as suas colaboradoras no processo de retorno ao trabalho. Foi então que, em 2022, cheguei ao Zenklub, empresa especialista em soluções para saúde emocional e bem-estar corporativo, entendi que precisava agir de forma efetiva para que esse tipo de apoio fosse implementado e, assim, ajudar companhias e colaboradoras.

Tomei consciência de que as organizações podem ajudar a mitigar os impactos da dupla jornada sobre o bem-estar da mulher, estimular a colaboradora a delegar tarefas entre os moradores do lar e um suporte com a readaptação às atividades profissionais de forma mais fácil e rápida. Criamos, então, o programa Maternidade e o Retorno ao Trabalho para  prevenir a exaustão materna e oferecer acompanhamento para a colaboradora na volta ao trabalho. Para as  empresas, a iniciativa chega para controlar o turnover, atrair talentos apoiando os sonhos das colaboradoras e para tornar o meio corporativo mais humanizado. Na prática, as colaboradoras que estão prestes a retornar ao trabalho depois da licença-maternidade passam a ter alguns pontos de contato prévios com a sua liderança e com o RH da organização e  a receber apoio psicológico em consultas com especialistas, tudo planejado previamente com o suporte de um profissional da psicologia.  

Por fim, um recente levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que 54,6% das mulheres com filhos pequenos conseguem trabalhar, enquanto esse número é de 89,2% para os homens. O Brasil perde muito deixando essa força de trabalho feminina fora do mercado  e acredito que caiba a todos os agentes da sociedade, inclusive às empresas, apoiar essas mulheres  e incentivá-las a manterem suas carreiras - e de forma saudável.

 

*Maria Barreto é Chief Revenue Officer (CRO) no Zenklub. Com mais de 12 anos de experiência no mercado de saúde, já passou por empresas como  Amil/United Health, Notredame Intermédica e Hapvida. Formada em Administração pela PUC-RJ, a CRO tem especialização em Educação Executiva pela Stanford University e um MBA pelo Ibmec. Sua filha faz 4 anos em agosto.

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