SXSW é um conjunto de festivais que celebram a convergência da tecnologia, cinema, música, educação e cultura
Sílvia Piva* Publicado em 09/04/2024, às 06h00
O mês de março terminou, mas não as fortes emoções vivenciadas no festival SXSW 2024, especialmente no que diz respeito ao tema do poder feminino. Meus relatos se encarregarão de esclarecer o que pretendo dizer. Sou apaixonada pelos festivais de inovação, mas ainda não tinha participado do SXSW. Fui por conta da minha própria vontade de estar lá. Encontrei várias outras mulheres que fizeram o mesmo: organizaram suas rotinas de trabalho e cuidados com os filhos e mergulharam nesse caos de aprendizado que dura, em média, 8 dias.
Observar os contextos e movimentos sempre me fascinou, e, obviamente, chamou-me a atenção os grandes grupos de mulheres que percorreram esse caminho. Ir por sua vontade de desbravar um festival vibrante. Isso, por si só, já me fez sentir em casa.
Sabia que não me sentiria sozinha em nenhum momento.
E de fato, isso não ocorreu: ao contrário, tive o prazer de conhecer mais de 60 mulheres incríveis. Empreendedoras, criativas, donas de si. Mulheres acima dos 60 anos cheias de energia, com o sangue do empreendedorismo correndo em suas veias. Mulheres executivas, conselheiras, futuristas, criadoras de experiências tanto para os outros quanto para si mesmas.
Mas o evento foi além. Logo no primeiro dia do SXSW, deparei-me com a sessão de abertura: uma poetisa Ada Limon e a cientista da NASA Lori Glaze. A poetisa, altiva, expressava sua bravura por meio de palavras e tons. A engenheira demonstrava sua perspicácia na pesquisa e sua sensibilidade ao emocionar-se com a poesia. E assim, a exploração da ciência encontrou a poesia.
Nos dias subsequentes, uma enxurrada de mulheres incríveis se apresentou. Futuristas renomadas como Amy Webb, pesquisadoras da área de neurotecnologias, psicodélicos para cuidados com a saúde física e mental, liderança, ciência e tecnologia. Mulheres indígenas, negras, asiáticas, de 30, 40, 60 anos ou mais, presentes em todos os espaços. Em uma palestra sobre computação quântica, deparei-me com mulheres no palco e na plateia. Como não se sentir em casa assim?
E as idades? A heterogeneidade de idades foi outra revelação marcante do SXSW 2024. Conhecer empreendedoras que decidiram embarcar em novos empreendimentos quase na sétima década de vida foi uma grande inspiração. Mulheres, transpondo as fronteiras da idade e da tecnologia, mostraram que o ímpeto para inovar não conhece limites ou preconceitos.
Entre os corredores e espaços do SXSW 2024, a mescla de arte, ciência e tecnologia desafiou as convenções. Foi uma experiência que desorienta e reorienta, forçando-nos a questionar nossas próprias premissas sobre o que significa criar e inovar. Um aprendizado que não contém certeza alguma, mas sim novos horizontes criativos e intelectuais.
Esta incursão pelo SXSW 2024 foi um lembrete de que estamos à beira de uma era em que a interdisciplinaridade e a colaboração entre gerações e gêneros não são apenas desejáveis, mas essenciais.
A diversidade de pensamento, representada em cada esquina do evento, enfatizou a necessidade de romper com os silos, com os dogmas e com a rigidez, não apenas entre campos de estudo, mas entre culturas e continentes.
Ao me despedir desse grande festival, levo comigo uma sensação palpável de ter presenciado discussões que serão o cerne da revolução cultural e tecnológica do século XXI.
O SXSW 2024 foi um microcosmo do futuro, um lugar onde a próxima grande ideia pode surgir de um encontro casual ou de uma sessão improvisada. A verdadeira beleza desta experiência, contudo, foi reconhecer que, nesse futuro que estamos co-criando, as possibilidades são tão vastas quanto nossa capacidade de imaginar e realizar. E o melhor de tudo: as mulheres, de todos os tempos e lugares, estão lá.
*Sílvia Piva é advogada, Doutora em Direito do Estado pela PUC-SP, Pesquisadoria do IEA-USP sobre IA responsável, fundadora da Nau d´Dês.
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