Entenda como o brincar livre e a curiosidade impulsionam a criatividade das crianças e suporte na primeira infância
Yolanda Basílio* Publicado em 30/01/2025, às 06h00
A criatividade da criança vem da sua curiosidade natural e da forma como o cérebro delas está sempre explorando, aprendendo e conectando coisas novas. Quando uma criança brinca, inventa histórias ou transforma uma caixa em um castelo, ela está usando partes do cérebro ligadas à imaginação, como o córtex pré-frontal, responsável por pensar em ideias diferentes, e o sistema límbico, que está conectado às emoções.
No cérebro da criança, os neurônios (as células cerebrais) estão em pleno desenvolvimento e criando muitas conexões, especialmente até os 6 anos. Essa fase é como se fosse uma "tempestade criativa": elas têm menos medo de errar, porque ainda não estão presas a regras rígidas ou julgamentos. Por isso, é tão comum ver crianças pensando fora da caixa, porque o cérebro delas funciona mais livremente.
O brincar é essencial para estimular essa criatividade. Ao explorar, experimentar e até "falhar" durante as brincadeiras, elas aprendem a resolver problemas e desenvolver ideias novas. Estar em ambientes que incentivem a curiosidade, como contato com a natureza, acesso a materiais simples para criar (como papel, tintas e blocos) e, principalmente, ter adultos que as incentivem e valorizem suas ideias, ajuda a potencializar esse processo criativo. Portanto, a dica aqui é “não é a quantidade de tempo que importa, mas sim a qualidade e a intenção por trás desses momentos”.
Além disso, pequenas ações no dia a dia podem estimular esse potencial, criando um ambiente seguro e cheio de possibilidades para que a imaginação floresça. Aqui vão algumas formas práticas de contribuir: Valorize as ideias delas Quando a criança cria algo, como um desenho ou uma história, demonstre interesse e faça perguntas. Em vez de dizer "Que lindo!", tente algo como: "Conta mais sobre o que você desenhou!" ou "O que te inspirou a fazer isso?". Isso ajuda a mostrar que o processo criativo é importante.
Deixe que a criança experimente diferentes brincadeiras e atividades, sem exigir que tudo seja feito "do jeito certo". Permitir que ela faça bagunça, experimente materiais diferentes ou invente as próprias regras na brincadeira
Muitas vezes, queremos ajudar demais e acabamos interferindo. Por exemplo, se a criança está montando algo com blocos, evite corrigir ou dar sugestões o tempo todo. Deixe que ela descubra suas próprias soluções e caminhos.
O brincar livre, sem roteiros ou brinquedos muito específicos, é um grande estímulo à criatividade. Coisas simples, como caixas de papelão, panelas, colheres, lençóis ou materiais recicláveis, podem virar brinquedos incríveis.
Expor a criança a diferentes formas de arte, música, histórias, natureza e culturas pode expandir a visão de mundo dela. Leve-a a museus, teatros, parques ou até mesmo para observar o céu e contar histórias sobre as estrelas.
Ensine que errar faz parte do aprendizado e que as ideias nem sempre saem perfeitas na primeira tentativa. Quando a criança se sente segura para experimentar, sem medo de críticas, ela se torna mais criativa.
Brincar com a criança, contar histórias ou até inventar jogos juntos são formas de fortalecer os laços e estimular a imaginação. Esses momentos mostram que a criatividade pode ser algo divertido para toda a família.
Acima de tudo, a criatividade é como uma plantinha: precisa de espaço, luz (apoio) e água (estímulos). Quanto mais os familiares valorizarem o potencial único da criança e incentivarem seu espírito curioso, mais ela se sentirá confiante para explorar, criar e sonhar.
E sim, o brincar é uma das melhores formas de estimular a criatividade da criança! O brincar é como um "laboratório de criação" para elas: um espaço onde podem combinar fantasia, curiosidade e aprendizado de forma leve e natural. É uma habilidade inata; todas as crianças nascem com uma curiosidade natural e uma tendência para explorar o mundo ao seu redor por meio do brincar.
No entanto, os adultos têm um papel essencial em nutrir, apoiar e expandir essa habilidade. Desde os primeiros meses de vida, os bebês já começam a brincar de maneira espontânea. Movem as mãos, exploram objetos ao alcance e interagem com sons e texturas. Isso mostra que o brincar faz parte da natureza humana, sendo uma forma de aprendizado, conexão e descoberta do mundo. Mas, é nosso papel criar condições e oferecer estímulos que ajudem a criança a explorar todo o seu potencial. Sem essas oportunidades, o brincar pode ser limitado ou mesmo inibido.
Imagine uma criança brincando no quintal, criando uma aventura com gravetos e folhas. Durante essa atividade, ela desenvolve a criatividade ao transformar objetos simples em ferramentas mágicas, fortalece a coordenação motora ao correr e manipular os materiais, e aprende habilidades sociais ao dividir a brincadeira com amigos ou irmãos.
O brincar saudável, sem telas, oferece benefícios cruciais para o desenvolvimento infantil. Ele promove a aprendizagem ativa, fortalece a saúde emocional e física da criança, além de proporcionar momentos de conexão real e afetiva. Ao brincar livremente, as crianças desenvolvem habilidades essenciais para a vida, como resolução de problemas, empatia e autonomia.
Brinquedos prontos, por sua vez, são projetados para ajudar a criança a desenvolver habilidades específicas, como raciocínio lógico, habilidades motoras finas (com quebra-cabeças, blocos de montar) ou até mesmo noções de formas e cores. Eles têm a vantagem de serem mais seguros e muitas vezes vêm com instruções ou ideias de como brincar, facilitando a imersão da criança na atividade. Criar com sucatas, por outro lado, oferece uma experiência mais livre e criativa. Essa forma de brincadeira estimula a criatividade, a resolução de problemas, e a autonomia, pois a criança tem que tomar decisões sobre o que criar e como fazer. Além disso, envolve habilidades de construção e manipulação, que são importantes para o desenvolvimento motor.
Não precisa escolher sempre um ou outro. Aqui, eu acredito que o equilíbrio entre brinquedos prontos e a criação com sucatas é essencial, mas, especialmente na primeira infância, o mais rico para as crianças é a oportunidade de criar, explorar e viver experiências. Durante essa fase de desenvolvimento, elas estão formando conexões importantes com o mundo ao seu redor, e ter a liberdade de usar materiais simples para criar o que imaginam pode ampliar imensamente seu repertório. Brinquedos prontos podem ser valiosos em alguns momentos, pois estimulam habilidades específicas, mas é no processo de explorar e inventar que a criança realmente expande sua criatividade, raciocínio e habilidades motoras de maneira mais profunda. Portanto, a ênfase na criação e exploração deve ser maior, permitindo que a criança se sinta livre para experimentar e aprender de forma genuína.
Quando as crianças não estimulam sua criatividade, elas podem enfrentar dificuldades em resolver problemas, uma vez que a criatividade é essencial para encontrar soluções inovadoras. Além disso, podem desenvolver baixa autoestima e confiança, já que a expressão criativa ajuda a criança a se sentir única e capaz. A falta de oportunidades para criar também limita o desenvolvimento da inteligência emocional, dificultando a expressão e o entendimento das próprias emoções. Isso pode resultar em uma maior rigidez de pensamento e menor capacidade de adaptação a novas situações. Por fim, a falta de estímulo criativo pode reduzir a curiosidade e a motivação para aprender, afetando negativamente o desenvolvimento geral da criança.
Para ajudar filhos únicos a brincarem sozinhos, é importante oferecer brinquedos e atividades que incentivem a criatividade e a imaginação, como blocos de montar e materiais de arte, para que possam explorar suas próprias ideias. Também é útil criar um ambiente estimulante e confortável, onde a criança tenha liberdade para brincar de forma independente, com espaço para explorar e se concentrar. Além disso, valorize os momentos de brincadeira solo, elogiando suas criações e mostrando que brincar sozinha é uma oportunidade de se divertir, aprender e desenvolver habilidades de forma autônoma.
A criatividade dos pais também é fundamental na hora de resolver conflitos ou desafios do dia a dia, pois permite que encontremos soluções mais leves e criativas para situações cotidianas. Lembro de uma vez em que uma aluna simplesmente não queria colocar o sapato para ir embora da creche. Eu poderia ter insistido na situação, mas percebi que isso só geraria mais resistência. Então, usei a criatividade para transformar o momento em algo divertido. Propus de levá-la até os pais em uma nave especial (uma caixa de papelão grande) e que, para entrar na nave, ela precisava calçar as "botas de astronauta". Ela se animou tanto com a ideia que rapidamente colocou os sapatos, e a situação se resolveu de forma tranquila. Esse tipo de abordagem criativa não só resolve o problema, mas também fortalece o vínculo entre pais e filhos, mostrando que é possível encarar desafios com leveza e imaginação!
*Yolanda Basílio é psicóloga, psicomotricista e consultora parental. Atua com Educação Infantil há 15 anos e hoje está como CEO da POPPINS, um ecossistema todo dedicado aos cuidados da Primeira Infância.
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