Mariana Kotscho
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Acervo temporário conta com 111 títulos de autores indígenas no Instituto Moreira Salles

A maior coleção de escritores indígenas aberta ao público em São Paulo tem curadoria da Vaga Lume e está disponível durante a exposição “Xingu: contatos”

Redação Publicado em 05/03/2023, às 06h00

Imagens da exposição - Foto: Fabio Montarroios
Imagens da exposição - Foto: Fabio Montarroios

De objetos de estudo a sujeitos de sua própria história, a ocupação dos indígenas no meio literário tem aumentado nos últimos anos. Com um trabalho de 21 anos de implantação e manutenção de bibliotecas em comunidades tradicionais da Amazônia Legal, a Associação Vaga Lume colocou parte do acervo indígena criado nessas duas décadas à disposição do público no novo espaço de convivência do Instituto Moreira Salles, ligado à exposição “Xingu: contatos”, que segue até 09/04.

“Além de obras de autores indígenas que já tínhamos no acervo, contamos com a consultoria da pesquisadora e escritora indígena Julie Dorrico em uma curadoria específica para este projeto. Também incorporamos indicações de livros bibliográficos e fotográficos da biblioteca do IMS”, diz Priscila Fonseca, coordenadora de Cultura Local da Vaga Lume. “Ter um acervo como este num espaço aberto ao público e com entrada gratuita na Avenida Paulista é uma grande oportunidade para o público e para os autores”, ressalta. Essa pesquisa também resultará em novidades oferecidas futuramente às bibliotecas comunitárias da rede Vaga Lume na Amazônia.

São 219 títulos, apresentados em três categorias:

  • acervo infanto-juvenil 127 títulos
  • acervo bibliográfico e informativos: 71 títulos
  • acervo fotolivros: 21 títulos

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As obras literárias são, na maioria, infantis e juvenis, sendo mais de 90% de autores indígenas como Daniel Munduruku, Cristino Wapichana, Yaguarê Yamã, Eliane Potiguara, Olívio Jekupé e Marcia Kambeba. Entre os nomes do acervo bibliográfico e fotolivros estão Julie Dorrico, Kaká Werá, Ailton Krenak e Edson Kayapó. Há também diversos autores e ilustradores indigenistas relevantes no meio como Mauricio Negro, Leonardo Boff, Bettty Mindlin e Claudia Andujar.

“Dentro da especificidade da literatura indígena, esse acervo contempla uma diversidade de povos, territórios, linguagem, qualidade literária e qualidade estética, autores no contexto urbano e aldeados. Há uma diversidade no gênero textual: poesias, crônicas, mitos de criação, cordel, contos fantásticos”, explica a coordenadora de conteúdo da Vaga Lume Marcia Licá.

Segundo Márcia, que se identifica como mulher afro-indígena, nas últimas duas décadas houve um fortalecimento do grupo das escritoras e escritores indígenas. Um marco desse movimento foi o livro “Histórias de Índio”, de Daniel Munduruku, publicado em 1997 pela Cia das Letras - desde então, o autor já publicou mais de 50 títulos. Ela indica como outro marco importante nesse processo, a livraria online Maracá, a primeira especializada em livros de autoria indígena publicados no Brasil.

Construído por meio da parceria entre o IMS e a Vaga Lume, o espaço de convivência no 9º andar do IMS, conta com pufes e tapetes espalhados pelo chão, um ambiente de acolhimento para que adultos e crianças possam fruir o tempo e conhecer um pouco mais sobre as culturas dos povos originários. Além da biblioteca, o local conta também com curtas-metragens projetados em uma tela e um mural composto por ilustrações e palavras em kuikuro, com o qual o público pode interagir. Há mediadores disponíveis para conversar com o público e incentivar a fruição, leitura e interação, entre eles três indígenas - dois deles falantes de sua língua originária.

Segundo a Área de Educação do IMS, a motivação do projeto decorre “da constatação de que devemos como sociedade refletir cada vez mais sobre a história e a realidade atual dos povos originários do Brasil”. A coordenadoria de Diversidade e Inclusão do IMS, Viviana Santiago também complementa: “Ter a possibilidade de vivenciar um pouco da cosmovisão indígena é uma oportunidade para nos fortalecermos em nossas conexões de alteridade, fundamental para o reconhecimento do outro em sua inteireza, dignidade e humanidade”.