Não é frescura, nem falta de limites. É um distúrbio alimentar com base clínica, que compromete o bem-estar de crianças
Maria Fernanda Cestari* Publicado em 22/05/2025, às 06h00
Quantas vezes você já ouviu a frase: “em casa que tem comida, criança não passa fome”?
Essa ideia persiste — e machuca. Porque há crianças que não comem. Não porque são birrentas. Não porque estão "manipulando" os pais. Mas porque sofrem.
O nome disso é Distúrbio Alimentar Pediátrico (DAP). Um diagnóstico ainda pouco conhecido fora dos consultórios, mas que afeta milhares de famílias brasileiras — muitas delas sem acesso ao cuidado que precisam.
O DAP não está ligado apenas ao autismo ou a quadros neurológicos. Ele também pode aparecer em crianças com desenvolvimento típico, que passam a recusar alimentos de forma persistente, seletiva e angustiante.
Essa recusa pode ter origem em quatro áreas-chave:
Mas o que acontece na prática? Pais são julgados como permissivos. Crianças são chamadas de difíceis. E o diagnóstico se perde entre culpabilizações e orientações genéricas como “não ceda”, “deixa com fome” ou “não force”.
Enquanto isso, o prato continua vazio. E o sofrimento, invisível.
É hora de incluir o DAP nas conversas públicas sobre saúde infantil. Porque reconhecer um distúrbio é o primeiro passo para tratar — e cuidar de verdade.
Maio é o Mês de Conscientização sobre o Distúrbio Alimentar Pediátrico.
E essa pauta precisa chegar muito além dos consultórios.
*Maria Fernanda Cestari é fonoaudióloga e professora na área de alimentação infantil. Atua com foco em alimentação infantil, autora de materiais educativos sobre questões alimentares
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres