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Adolescentes podem fazer musculação?

Entenda se o treinamento de força é bom e saudável para adolescentes

Dr. Adriano Leonardi* Publicado em 14/08/2023, às 14h00

A partir de que idade pode fazer musculação?
A partir de que idade pode fazer musculação?

Crianças e adolescentes estão cada vez mais participando de esportes competitivos. Também é fato que a medicina esportiva e a fisiologia lançaram uma nova luz sobre os efeitos do exercício nessa idade.

EEETal como nos adultos, o treino de força é essencial nos programas de treino das mais diversas modalidades, dada a noção de que os atletas devem treinar-se para a prática de algumas modalidades. Fortalecimento do chamado CORE (músculos abdominais que estabilizam o tronco), ganho de flexibilidade e treinamento para agilidade motora, ou pliometria também estiveram na mesa de treinamento nos últimos 20 anos. Mas o treinamento de força se tornou um tema bastante polêmico nos últimos anos. Afinal, adolescentes podem fazer musculação? O treinamento de força é bom e saudável para adolescentes?

Embora os procedimentos para aumentar a força com segurança em adolescentes estejam bem estabelecidos, muitos jovens atletas e pais estão procurando maneiras de obter uma vantagem competitiva. Eles são bombardeados com informações confusas e muitas vezes conflitantes sobre a segurança e eficácia do treinamento de força para adolescentes.

É bastante comum nos consultórios na prática clínica diária da medicina do esporte, os pais se preocuparem com o desenvolvimento muscular de seus filhos, atentando-se ao seu desempenho atlético e principalmente com o crescimento de seus filhos de forma que o desempenho físico melhore e eleve-se, mas ao mesmo tempo que minimize os riscos de lesões.

“Ouvi dizer que musculação no adolescente faz ele crescer menos. É verdade?”

Existe uma opinião geral de que as atividades relacionadas ao treinamento de força deveriam começar mais tarde e, portanto, muitas vezes são adiadas até o final da fase de crescimento, acreditando-se que o treinamento de força pode tornar os adolescentes cresça pouco e se torne um adulto mais baixo do que a média de sua família.

No entanto, essa crença tem pouca evidência científica para que isso seja uma verdade.

É essencial que os médicos ortopedistas e do esporte mantenham as informações atualizadas e possam ajudar a esclarecer algumas confusões e controvérsias sobre esse assunto.

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Muitas recomendações atuais parecem não ter base científica contra a prática de treinamento de força por crianças e adolescentes, desde que sejam seguidas algumas regras de segurança, como aprovação médica, orientação completa de profissional qualificado e progressão adequada.

Ao mesmo tempo, vários estudos, incluindo vários publicados pela Academia Americana de Pediatria e pela Associação Ortopédica Americana, fornecem resultados consistentes que apoiam os benefícios da atividade física intensa, a musculação, em jovens.

Vários estudos relatam melhorias nas habilidades motoras e na composição corporal na idade adulta, redução da gordura corporal e melhora da saúde óssea, especialmente se os esportes forem iniciados logo após a puberdade. Semelhante a outras atividades físicas, o treinamento de força demonstrou ter efeitos benéficos em vários indicadores de saúde mensuráveis, como condicionamento cardiovascular, composição corporal, densidade, mineralização óssea, perfil lipídico no sangue e saúde geral. Esses estudos até demonstraram benefícios de aumento de força, função geral e saúde mental em crianças com paralisia cerebral.

De acordo com as diretrizes da Comissão Europeia de 2008, os adolescentes em idade escolar devem participar diariamente de atividade física moderada a vigorosa por 60 minutos ou mais.

Obesidade, hábitos alimentares pouco saudáveis, estilo de vida sedentário e má saúde do coração durante a infância e adolescência podem aumentar o risco de problemas de saúde mais tarde na vida.

A musculação influencia no crescimento do adolescente?

A literatura recente indica que o treinamento de força não terá um efeito negativo no crescimento. Em contraste, vários estudos demonstraram um efeito positivo no crescimento, desde que as diretrizes de nutrição e atividade física específicas para a idade sejam atendidas.

Os pais podem ter certeza de que o treinamento de força (com moderação) não terá um impacto negativo no desenvolvimento da criança. O exercício pode realmente promover o crescimento ósseo e a mineralização em crianças, especialmente aquelas com risco de osteoporose ou osteoporose.

Apesar de recomendado, existe algum risco da musculação para a criança ou adolescente?

Como qualquer outro tipo de esporte, existem riscos que podem ser bastante reduzidos seguindo algumas dessas sugestões:

  • Supervisão apropriada por um adulto qualificado, professor ou personal trainer
  • Aquecimento e alongamento antes do levantamento de peso
  • Foco na melhor forma e execução ao invés da carga
  • Aumento gradual da resistência, bem como técnica, força e controle

Estudos atuais mostram que os benefícios do treinamento de força bem direcionado em adolescentes e adultos jovens superam em muito os riscos potenciais e são ainda menos comuns do que muitos esportes e atividades diferentes.

A explicação se deve ao fato de que, para realizar os levantamentos multiarticulares mais complexos associados ao levantamento de peso, é necessário um aumento gradual na carga de treinamento envolvida na técnica e no movimento.

Primeiro, o adolescente deve dominar os exercícios introdutórios com carga mínima. Os pesos são adicionados apenas sob supervisão profissional próxima e qualificada. Quando os adolescentes se envolvem em treinamento de força, a ênfase deve estar na técnica, e não no peso levantado.

Em última análise, o treinamento de força, quando prescrito e executado corretamente, ajuda os adolescentes a ter uma melhor composição corporal, incorporar a atividade física em suas vidas diárias, comer melhor e dormir melhor e evitar estressores. Em outras palavras, o treinamento de força ajuda a construir um adulto saudável.

*Dr. Adriano Leonardi (CRM/SP 99660) é médico ortopedista, com título de especialidade  na Sociedade Brasileira de Ortopedia e traumatologia (SBOT), especialista em cirurgia do joelho, com título de especialidade na Sociedade Brasileira de cirurgia do Joelho (SBCJ).