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A escala de trabalho e a saúde mental

Mudanças nas jornadas de trabalho: benefícios ou prejuízos?

Francisco Nogueira* Publicado em 19/11/2024, às 06h00

É preciso falar sobre trabalho e saúde mental
É preciso falar sobre trabalho e saúde mental

Não há o que temer neste debate. Mesmo quem acha que vai perder, tem muita chance de ganhar com as reduções das jornadas de trabalho. Abrimos mão de horas trabalhadas em troca de uma maior produtividade. Horas mais curtas, trabalhadas de maneiras mais eficientes. O Brasil tem condições de melhorar a sua produtividade e oferecer uma vida de maior qualidade para as pessoas de maneira que a mudança não causará prejuízo.

Uma pesquisa da Universidade de Oxford, no Reino Unido, defende ter encontrado uma relação causal entre felicidade e produtividade. Trabalhadores felizes produzem 13% a mais do que pessoas infelizes. Outra pesquisa feita aqui no país, constatou que trabalhadores brasileiros são 9% menos felizes que a média mundial. As duas pesquisas indicam que existe muito espaço para ganho de produtividade. O aumento do bem-estar do trabalhador deve ser acompanhado de aumento de produtividade, compensando as horas a menos de trabalho.

Nesse sentido, o Brasil tem um potencial muito grande de ganho produtivo dando mais liberdade, tempo livre, ajudando as pessoas a encontrar mais felicidade, conquista-se produtividade.

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Claro que isso não significa simplesmente cortar um dia de trabalho das pessoas. Para ser bem-sucedida, a mudança deve ser acompanhada de alguma transformação na organização do trabalho. E esse é um ponto importante. A discussão sobre o fim da escala 6x1 deve ser mais ampla. Deve ser sobre a organização do trabalho. Os acordos entre as partes, as novas possiblidades de processos e rotinas mais ágeis, a profissionalização, a formação dos trabalhadores, a busca por técnicas mais eficazes e seguras de trabalho, a necessidade fundamental de promoção da segurança psicológica no trabalho no mundo atual, a saúde mental nas organizações, entre tantos outros temas que deveriam acompanhar as discussões sobre essa proposta para que patrões e empregados percebam o quanto é possível atravessar essas mudanças com conforto e segurança quando observadas as técnicas necessárias que garantam o bem-estar das pessoas e a rentabilidade dos negócios.

Em 1919, a Organização Internacional do Trabalho determinou o padrão mundial de 8 horas diárias de trabalho. Apenas um século nos separa da época em que pessoas morriam nas fábricas de tanto trabalhar, fazendo jornadas de 12, 14, 16 horas por dia, inclusive crianças de 4 ou 5 anos.

Naquela época, foi grande a preocupação com essa decisão: o senso comum tinha certeza de que a redução da jornada iria reduzir também a produtividade e, consequentemente, os lucros das corporações.

Mas os resultados deixaram o presidente da Organização Mundial do Trabalho, o ministro francês Albert Thomas, muito espantado: como explicar que, ao reduzir a jornada de trabalho para 8 horas por dia/seis dias por semana, a produtividade estava aumentando ?

Falar sobre o fim da escala 6 x 1 em um momento em que o mundo já discute e experimenta os benefícios dos 4 dias de trabalho por 3 de descanso chega a ser um atraso. Afinal de contas, quem seria contra o descanso de um trabalhador?

*Francisco Nogueira é sócio da consultoria relações simplificadas, psicólogo e psicanalista