Especialista em pesquisa clínica reforça a importância de unir veterinários e médicos para prevenir novos surtos de doenças infecciosas
Redação Publicado em 04/05/2025, às 06h00
De acordo com últimos dados da Organização Mundial da Saúde Animal, corroborados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 75% das doenças infecciosas emergentes que afetam humanos tiveram origem animal. Alguns exemplos são o ebola, a febre amarela, a raiva e a gripe aviária. Além disso, 80% dos agentes que apresentam potencial para serem usados como armas de bioterrorismo são patógenos zoonóticos.
A Dra. Greyce Lousana, presidente executiva da Sociedade Brasileira de Profissionais de Pesquisa Clínica, médica veterinária e uma das maiores referências em pesquisa clínica no País, enfatiza que a próxima pandemia não será evitada apenas com vacinas, mas com vigilância constante dos habitats onde os vírus circulam. “Se não tivermos uma interação entre médicosveterinários e demais profissionais de saúde, o futuro da humanidade será cada vez mais caótico. É fundamentartermos uma visão ampla nesse ecossistema”, reforçaa especialista.
Ela explica que, enquanto a Medicina Humana foca no tratamento e cura de doentes, a Medicina Veterinária atuacomo um pilar na prevenção de futuras epidemias. “Écomum pensar no médico como quem trata e cura pessoas e pouco se fala sobre o papel do veterinário nas pesquisas clínicas, que tem o desafio de prevenir e impedir novas epidemias”, ressalta a Dra. Greyce.
A febre amarela, por exemplo, é uma doença causada por um vírus transmitido por mosquitos, e possui dois ciclos de transmissão (urbano e silvestre). No ciclo urbano, a transmissão ocorre a partir de vetores urbanos (Aedes aegypti) infectados. No ciclo silvestre, os transmissores são mosquitos com hábitos predominantemente silvestres, sendo os gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes.
No Brasil, os ministérios da Saúde, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Meio Ambiente, diretamente ou por meio de secretarias e autarquias subordinadas, vêm criando normas e orientações voltadas à aplicação prática da saúde única. O envolvimento de múltiplos atores é fundamental para o desenvolvimento de estratégias inovadoras, a incorporação de tecnologias e a inovação para vigilância e controle de doenças.
Até o momento, foram confirmados 32 casos de febre amarela em 2025, com a maioria dos casos concentrados na região de Campinas. Outras regiões afetadas incluem Bauru, Piracicaba e São José dos Campos. Além disso, dois casos foram importados de Minas Gerais, e dois ainda estão sob investigação para determinar o local de infecção. Este é o maior número de casos e mortes desde 2018, quando o estado enfrentou um surto significativo.
A vacina é a principal ferramenta de prevenção da febre amarela. O Sistema Único de Saúde (SUS)disponibiliza vacina contra febre amarela para toda população. Desde abril de 2017, o Brasil adota o esquema vacinal de apenas uma dose durante toda a vida, medida que está de acordo com as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A integração dos esforços da medicina veterinária com os demais segmentos da saúde humana não é apenas uma necessidade emergente, mas um caminho vital para a manutenção da saúde global. A prevenção eficaz de pandemias futuras depende de uma abordagem holística, onde a colaboração interdisciplinar é mais do que recomendada, é essencial.