Jornalista compartilha sua experiência com a infertilidade e a maternidade considerada "tardia"
Cláudia Lopes* Publicado em 19/07/2023, às 14h00
Embora a infertilidade seja vivenciada por 20% dos casais em todo o mundo, segue como uma dor silenciosa para a maioria de nós. Quem não passa por esse problema, não sabe que, às vezes, uma prima ou amiga chora todas as noites antes de dormir ansiando por um bebê. Muitas tentantes, como são conhecidas as mulheres que tentam engravidar, mas não conseguem devido a problemas de infertilidade, mantêm, em segredo, roupinhas e mantinhas guardadas no fundo de uma gaveta ou baú.
Eu, Cláudia Lopes, 56 anos, vivi essa dor por anos sem demonstrar até para amigas mais íntimas, principalmente pelo medo de julgamentos. O receio era ser questionada: “Como uma mulher com mais de 50 anos ainda pensava em ter um bebê?”. Mas a dor do colo vazio não me permitiu desistir jamais.
Fiz meu tratamento no Centro de Investigação e Tratamento da Infertilidade (CITI-Hinode) e foi na sala de espera, conversando com outras mulheres, que percebi que essa dor não era só minha. Resolvi formar, junto com outras, um grupo de apoio onde poderíamos trocar experiências sobre tratamentos e também desabafar sobre as nossas angústias. E, nesse grupo, pudemos acompanhar, com alegria, a vitória de muitas amigas.
Cada choro de um novo recém-nascido do grupo parecia trazer o nosso próprio sonho para mais perto. Hoje sou mãe do Anthony, de 3 anos, e, além de administrar dois grupos de tentantes em mídias sociais, também participo do grupo de mamães Hinode, que é para onde seguem as tentantes que conseguiram seus bebês. E, nesse grupo, continuamos juntas acompanhando o desenvolvimento de cada criança como se ela fosse um pouco de cada uma.
Isso nos mostra que a infertilidade também pode ser aglutinadora já que conseguiu reunir mais de 100 mães que tiveram que recorrer a tratamentos de fertilização in vitro (FIV) e que viraram grandes amigas num momento de angústia, mas que agora se reúnem para comemorar e colocar as crianças para brincarem juntas. Como todas as mães fizeram tratamento na mesma clínica, temos um carinho especial pela médica fundadora, a dra. Eliana Morita, a quem chamamos carinhosamente de “samurai da fertilidade”. Esse apoio emocional oferecido pela dra. Eliana tornou todo o processo mais leve, apesar de ser uma gestação de alto risco, com inúmeros exames e tratamentos, incluindo seis cirurgias por conta miomas e pólipos recorrentes.
Devo admitir que todo o caminho, até o nascimento do Anthony foi difícil, mas de muito aprendizado. A cada transferência, tinha 10% de chance de sucesso e o positivo veio na quarta tentativa. Durante todo o tratamento, meu companheiro, o inglês Stuart Clarke, me apoiava, trazendo calma e foco. Foi também, nesse período, que fiquei mais próxima de Deus e, para compartilhar essa fé, na medicina e na espiritualidade, busco estar próxima das mulheres que estão iniciando essa jornada, em busca do sonho da maternidade.
*Cláudia Lopes é jornalista e divide sua experiência no Instagram @fertilizacaoaposos40
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