Reflexões sobre a convivência intergeracional e a evolução da liderança no ambiente corporativo
Ligia Kallas* Publicado em 15/07/2025, às 06h00
Há cerca de 15 anos, vivi uma situação que marcou minha trajetória, tanto como profissional quanto como mulher. Trabalhava em uma empresa familiar, cujo dono, um senhor de mais de 70 anos, mantinha regras que refletiam seus valores e visões de mundo, muitas vezes ultrapassadas. Certo dia, ao chegar na empresa e se deparar com uma funcionária sem maquiagem, ele decretou: “A partir de hoje, todas as funcionárias devem estar maquiadas diariamente, pois não quero acordar e ver mulheres feias.” As palavras foram quase essas. Aquilo me indignou profundamente.
Esse episódio, entre tantos outros que testemunhei, moldou minha visão sobre liderança. Comprometi-me a ser uma gestora diferente, guiada por respeito, empatia e escuta ativa. Hoje, liderando uma equipe diversa, formada por pessoas de diferentes idades, eu vivencio na prática os desafios e aprendizados do convívio intergeracional. Em especial, tenho refletido muito sobre a convivência com profissionais da geração Z. E me faço uma pergunta: até onde vão as mudanças necessárias, e onde começa a falta de bom senso?
Vejo, com entusiasmo, os avanços trazidos por essa geração. A coragem de ser autêntico, a defesa da saúde mental, a valorização da diversidade, a fluência com tecnologia e a busca por propósito são traços admiráveis. São jovens que não têm medo de se posicionar, que buscam ambientes de trabalho mais humanos e que não se contentam com o “foi sempre assim”. Há algo de muito poderoso nessa postura.
Por outro lado, como gestora, me deparo com situações que exigem equilíbrio. Já ouvi pedidos como “day off” para vacinar o cachorro, saídas no meio do expediente para assuntos aleatórios, ou vi pessoas assistindo séries durante o horário de trabalho. Quando questionadas, a resposta muitas vezes era: “Eu estava ocioso(a).” Em outros momentos, ideias pouco elaboradas são lançadas em reuniões com a expectativa de serem imediatamente reconhecidas e valorizadas. Quando faço ponderações, recebo feedbacks de que não estou valorizando a inovação.
Minha intenção aqui não é criticar gratuitamente nem idealizar o passado. Tampouco quero cair na armadilha do “na minha época…”. Mas é inegável que vivemos um momento em que o papel da liderança está sendo ressignificado. Como estabelecer limites sem parecer autoritário? Como incentivar a criatividade sem perder a consistência? Como acolher sem infantilizar?
Tenho aprendido que o caminho está no diálogo. Assim como me esforço para compreender novas demandas e formas de pensar, também espero que haja abertura para entender que maturidade, responsabilidade e colaboração são construções coletivas. Que liberdade e dever caminham juntos. E que fazer parte de uma equipe significa, sim, respeitar os combinados e contribuir para um ambiente saudável para todos.
A geração Z tem muito a ensinar, mas também precisa estar disposta a aprender. E, para isso, é preciso escuta dos dois lados. Liderar nunca foi simples, e talvez hoje seja ainda mais complexo. Mas sigo acreditando que, com respeito, empatia e disposição para crescer juntos, é possível transformar os desafios geracionais em grandes oportunidades de evolução mútua.
*Ligia Kallas é Head de Marketing da Kallas Mídia OOH
Mulheres são mais propensas a ter mais problemas oculares do que os homens
Lipedema não é vaidade: veja como alimentação e estilo de vida ajudam no tratamento
Naturaltech 2025 cria espaço de amamentação para mães visitantes
Burnout tem gênero? Mulheres lideram afastamentos no trabalho
Mulheres no telemarketing: protagonismo e transformação no mercado de trabalho