A cannabis medicinal tem sido indicada para vários tratamentos, e um deles é para tratar a ansiedade
André Chiga* Publicado em 26/10/2024, às 06h00
A saúde mental é um dos pilares fundamentais para a qualidade de vida. Nos últimos anos, a ansiedade tem se destacado como uma das condições de saúde mental mais comuns em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 260 milhões de pessoas sofrem com transtornos de ansiedade, impactando profundamente suas vidas pessoais, sociais e profissionais.
A ansiedade, por definição, é uma resposta natural do corpo ao estresse, caracterizada por sentimentos de preocupação, medo ou apreensão. É uma emoção normal em várias situações, como antes de uma entrevista de emprego ou de uma prova importante. No entanto, quando a ansiedade se torna constante, intensa e interfere nas atividades diárias, pode ser classificada como um transtorno.
Os transtornos de ansiedade podem se manifestar de várias formas. Há o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), marcado por uma preocupação excessiva e constante com diversas situações da vida cotidiana; o Transtorno de Pânico, caracterizado por episódios repentinos de medo intenso, conhecidos como ataques de pânico, que podem incluir sintomas físicos como palpitações, falta de ar e tontura; Fobias Específicas, que são o medo extremo de objetos ou situações específicas, como altura, animais ou voar de avião; o Transtorno de Ansiedade Social, também conhecido como fobia social, que envolve medo intenso de interações sociais, muitas vezes levando ao isolamento.
O diagnóstico de um transtorno de ansiedade requer uma avaliação clínica completa, realizada por profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras. O primeiro passo é uma análise detalhada dos sintomas e do histórico do paciente. Em muitos casos, é utilizado o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que oferece critérios para identificar diferentes tipos de transtornos de ansiedade.
É importante que o diagnóstico seja feito corretamente, já que os sintomas da ansiedade podem ser semelhantes a outras condições, como transtornos do humor, depressão ou até problemas de saúde física, como doenças cardíacas. Exames clínicos e entrevistas estruturadas são fundamentais nesse processo.
O tratamento para ansiedade é multidisciplinar e deve ser personalizado para atender às necessidades individuais de cada paciente. As abordagens mais comuns incluem a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), uma das formas mais eficazes de psicoterapia para transtornos de ansiedade. Ela ajuda os pacientes a identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais que alimentam os sintomas da ansiedade. Os medicamentos são indicados em casos moderados a graves. Os antidepressivos (inibidores seletivos da recaptação de serotonina - ISRS) e os ansiolíticos podem ser prescritos. Eles ajudam a regular os níveis de neurotransmissores no cérebro, aliviando os sintomas de ansiedade.
Alguns casos podem se beneficiar do CBD(canabidiol). O CBD é um fitocanabinoide que age no sistema endocanabinoide do corpo humano, uma rede complexa de neurotransmissores e receptores envolvidos na regulação de diversas funções fisiológicas, incluindo humor, sono e respostas ao estresse. Ao contrário do THC, o CBD não altera a percepção nem causa euforia, o que o torna uma opção promissora para o tratamento de transtornos mentais, como a ansiedade, sem os efeitos colaterais associados ao uso recreativo da maconha.
Pesquisas iniciais sugerem que o CBD pode ajudar a reduzir a ansiedade ao modular a atividade de receptores específicos no cérebro, como o receptor de serotonina 5-HT1A, que desempenha um papel fundamental na regulação do humor e das emoções. Além disso, o CBD também parece interagir com o receptor CB1 no sistema nervoso central, o que pode contribuir para o seu efeito ansiolítico (Blessinget al., 2015).
Estudos pré-clínicos em modelos animais indicam que o CBD pode reduzir comportamentos associados à ansiedade, incluindo aqueles observados em situações de estresse social e medo condicionado (Campos et al., 2012). Esses resultados sugerem que o CBD tem potencial como um ansiolítico eficaz, embora mais estudos em humanos sejam necessários para confirmar sua eficácia e segurança.
Estratégias como a meditação, respiração profunda e yoga também podem ser incorporadas como ferramentas auxiliares no controle da ansiedade. Estudos mostram que o mindfulness tem efeitos positivos na redução do estresse e dos sintomas ansiosos (Hofmann et al., 2010).
As mudanças no estilo de vida, com a inclusão daprática regular de exercícios físicos, uma dieta equilibrada e uma rotina de sono saudável são aspectos essenciais para a melhoria da saúde mental. A atividade física, em particular, demonstrou reduzir significativamente os sintomas de ansiedade (Stubbs et al., 2017).
Buscar apoio profissional é crucial para quem sofre de ansiedade. Além dos psicoterapeutas e psiquiatras, o apoio de familiares e amigos também desempenha um papel importante no processo de recuperação. A conscientização sobre a ansiedade e seus efeitos pode ajudar a reduzir o estigma associado a essa condição, incentivando mais pessoas a procurar tratamento.
*André Chiga é diretor médico da Medra Brasil,médico palestrante, diretor do Hospital São Francisco, presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Executivos (Sobramex) e professor de Gestão Estratégica na Fundação Dom Cabral
Conexão com ambientes naturais pode melhorar a saúde mental, apontam especialistas
Jogos de azar online preocupam especialistas
Estudos mostram que cannabis medicinal pode reduzir efeitos colaterais da quimioterapia
Cannabis medicinal ajuda na qualidade de vida de pacientes com fibromialgia
Cannabis Medicinal: uma esperança para pessoas com autismo