A advogada Fernanda Varella comenta sobre a importância da odontologia para a saúde
Fernanda Varella* Publicado em 12/10/2022, às 06h00
A odontologia é uma ciência antiga, datada de períodos pré-históricos. Achados arqueológicos no Egito, Grécia, Mesopotâmia e China, mostram que foi criada para minimizar dores de dentes, provocadas por bactérias e infecções.
O termo “dentista” foi usado pela primeira vez, na idade média, em 1363, pelo francês Guy de Chauliac. Em 1728, Pierre Fauchard publicou a obra “Tratados dos dentes para cirurgiões dentistas”, Claude Mouton em 1746 publicou o primeiro estudo sobre prótese dentaria, em 1754 Lecruse criou uma técnica especial para extração dos molares inferiores, e em 1794 John Greenwood aplicou a primeira coroa de porcelana. A anestesia começou ser usada nos idos de 1800.
Foi somente a partir do século XX, que a odontologia passou a ser usada para prevenção e não somente para cura.
A odontologia cuida de todo o sistema estomatognático, composto pelo crânio, cabeça, pescoço e cavidade bucal.
Mais do que a estética do sorriso, o cirurgião dentista tem a responsabilidade de avaliar a saúde do paciente como um todo.
Num mundo cada vez mais competitivo e vaidoso, não poderia ser diferente que os avanços acompanhassem ao apelo da busca frenética e eloquente pela perfeição corporal.
Essa busca pela beleza-padrão, impulsionada pelas redes sociais, incrementou a procura por procedimentos estéticos avançados, mesmo que impliquem na lesão permanente de órgãos e tecidos do corpo humano.
O que se esquece é que um dia “essa conta vai chegar”.
A velocidade dos procedimentos tambem é exigida aos profissionais cirurgiões dentistas, que para sobreviver num mercado altamente competitivo precisam chegar a“perfeição” almejada por seu paciente no menor espaço de tempo, eis que tudo é para ontem, e tecnologia para isso não falta.
Os congressos e as feras nacionais e internacionais são prova nesse sentido.
Não é certo mencionar que quanto mais brancos e perfeitos os dentes, mais saudáveis eles são, mas não é essa mensagem passada pelas celebridades e profissionais admirados nessa profissão.
São poucos os profissionais que têm consciência disso e muitas vezes não querem enxergar o resultado, a curto prazo, dos exageros cometidos nos consultórios.
Todos os procedimentos estéticos devem ser realizados com cautela, desde a utilização desenfreada do enxaguante bucal, principalmente aqueles a base de clorexidina, até a colocação de facetas, procedimentos de rinoplastia, bichectomia, dentre outros mais.
Com ênfase nas facetas utilizadas para alinhar os dentes e deixá-los com aparência perfeita em termos de cor e angulação, os pacientes enfrentam o desgaste de seus dentes naturais, para que as lâminas sejam colocadas, semelhante ao que acontece na colocação de uma unha postiça.
Alguns profissionais mencionam que o problema desse procedimento é que desgasta o esmalte dos dentes, pois são usados ácidos para descalcificação, mas sem alterar a funcionalidade dos dentes, de fato.
Há cirurgiões dentistas ainda que extraem os dentes em razão da estética, retirando da boca do paciente dentes saudáveis, sem qualquer necessidade fisiológica que a justifique, pelo contrário.
A controvérsia sempre é deixada a cargo da decisão tomada pelo cirurgião dentista e a exigência do paciente, que carrega uma infinidade de informações extraídas das redes sociais, e o exagero dos procedimentos.
Há também controvérsias, como é o caso da cirurgia ortognática, utilizada para corrigir alterações de crescimento dos maxilares, procedimento com cobertura pelos planos de saúde, que tem indicação estética ou funcional, para corrigir distúrbios da mandíbula, articulações e respiração.
O número de procedimentos estéticos vem crescendo de forma avassaladora, e isso preocupa. De acordo com uma reportagem na revista ISTOÉ dados registrados pela Sociedade de odontologia Estética (SBOE) há um crescimento de 300% na busca por procedimentos estéticos na odontologia, deixando o Brasil como segundo colocado na estética bucal do mundo.
Especialistas consideram que estamos vivendo uma “febre” na estética odontológica, essa obsessão pode causar riscos graves a saúde, e inúmeros casos de erros e suas consequências desastrosas podem ser encontrados nas notícias Brasil afora.
No Brasil contamos ainda com uma peculiaridade, estamos entre o povo mais vaidoso do mundo, segundo o instituto Gallup, 61% da população considera a aparência o fator mais relevante para o sucesso.
Segundo matéria na revista VEJA há três causas para o exagero com a estética: uma de ordem patológica(paciente que sofre de dismorfofobia, um distúrbio de imagem corporal em que enxerga defeitos que não existem), o segundo é a baixa autoestima (que faz com que ache que nada está suficientemente bom), há também o adolescente, que apesar de comumente perfeito, quer agradar o “olhar” dos amigos.
Não podemos esquecer do sonho da longevidade, pessoas que querem manter-se jovens a todo custo e fazem uso dos tratamentos estéticos sem qualquer moderação.
Na tentativa de frear a situação os Conselhos de Odontologia, apesar de reconhecerem a HOF – Harmonização Orofacial como especialidade odontológica, limitam e exigem especialidade para atuação, vedam alguns procedimentos e sua publicidade e a realização de procedimentos em áreas anatômicas fora da cabeça e pescoço.
Os órgãos de classe e a Anvisa, cada um em uma área especifica, devem exercer essa fiscalização.
Concluindo, de qualquer maneira que se olhe o cenário, é bom ser cuidadoso, pois até mesmo os padrões de beleza mudam, num dia os dentes brancos e alinhados e o rosto angulado, por exemplo, é padrão de beleza, noutro não passa de aberração.
*Fernanda Varella, advogada especialista em saúde e direitos do consumidor e sócia do Varella Advogados.
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