Endometriose: o desafio do diagnóstico e do tratamento no Brasil

A endometriose ainda enfrenta diagnóstico tardio e limitações no tratamento, afetando milhões de brasileiras com dor crônica e impacto na fertilidade

Redação Publicado em 06/10/2025, às 06h00

O diagnóstico da endometriose costuma ser tardio: em média, leva até sete anos para ser confirmado - Foto: Canva Pro

A endometriose é uma condição crônica que atinge entre 6 e 8 milhões de brasileiras em idade reprodutiva e continua sendo um dos grandes desafios da saúde pública no país. Apesar de sua alta incidência, o diagnóstico ainda é tardio: em média, leva até sete anos para ser confirmado. Durante esse período, muitas mulheres sofrem com dores pélvicas incapacitantes, comprometimento da fertilidade e impactos significativos na saúde mental e na qualidade de vida.

Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, os atendimentos relacionados à endometriose na atenção primária do SUS cresceram 76% entre 2022 e 2024, saltando de cerca de 82 mil para mais de 145 mil. O número de internações também aumentou significativamente: mais de 32% no mesmo período, ultrapassando 19 mil registros. Esses números demonstram não apenas a dimensão do problema, mas também a crescente busca por diagnóstico e tratamento adequado.

“O maior problema da endometriose ainda é a banalização da dor. Muitas mulheres ouvem por anos que cólicas fortes são normais, e isso atrasa o diagnóstico. Quando chegam ao especialista, já apresentam quadros avançados”, explica o Dr. Igor Chiminacio, referência nacional no tratamento da doença e um dos poucos profissionais no Brasil com formação em Neuropelveologia, área da ciência médica que investiga e estuda as causas neurológicas da dor pélvica crônica.

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Os métodos hormonais como DIUs e pílulas anti-concepcionais têm muitos efeitos colaterais e não tratam a doença, apenas controlam os sintomas. "Se eles funcionarem para os sintomas, a paciente pode ser observada,  é um indicativo de que a cirurgia não é necessária naquele momento. Mas se ela sente muita dor e tem dificuldade para engravidar, aí a cirurgia é bem indicada”, afirma o especialista.

Dr. Igor Chiminacio atua com uma técnica de cirurgia chamada excisão em bloco, que consiste na remoção mais abrangente das lesões da endometriose, incluindo as superficiais e profundas como um todo, inclusive as que afetam ou se aproximam das estruturas nervosas. “Esse tipo de cirurgia exige conhecimento anatômico específico e tecnologia de alta precisão, mas traz resultados muito superiores em relação ao controle da dor e preservação da fertilidade. Não basta cauterizar ou raspar a lesão. É preciso remover a doença de forma mais completa, evitando que ela continue lá após uma cirurgia”, explica. Essa técnica é uma variação da “Butterfly peritonectomy”, uma técnica já mais difundida fora em outros países, a qual o médico brasileiro vem aperfeiçoando nos últimos 20 anos.

O especialista destaca ainda que o diagnóstico da endometriose deve ser clínico, com apoio de exames de imagem específicos, como a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética especializada. “Um exame mal feito pode atrasar ainda mais o início do tratamento. Por isso, é fundamental procurar profissionais capacitados”, reforça.

Nos últimos anos, uma linha alternativa de entendimento da doença e investigação vem ganhando destaque nas redes sociais e entre pesquisadores: a teoria embrionária da endometriose. Ao contrário da explicação mais tradicional, baseada no refluxo menstrual, essa abordagem sugere que a origem da doença esteja relacionada à presença de células embrionárias fora do útero, que se desenvolveriam de forma anômala ao longo da vida. “É um conceito mais plausível e consistente, especialmente nos casos de endometriose em meninas antes da primeira menstruação ou em locais incomuns, como o pulmão. Isso mostra que a ciência ainda está evoluindo no entendimento completo da doença”, observa Dr. Chiminacio.

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