Entenda porque os jovens precisam assumir responsabilidade quando querem liberdade
Larissa Fonseca* Publicado em 07/10/2025, às 06h00
Nos últimos anos, tornou-se comum ouvir adolescentes e jovens repetirem com orgulho: “Não quero trabalhar com CLT”, “Não quero seguir padrões”, “Quero ser livre para escolher.” É inspirador ver essa coragem de sonhar diferente e buscar novos caminhos. O problema surge quando esse discurso não vem acompanhado de responsabilidade.
Muitos jovens rejeitam a rotina que veem nos pais, com longas horas de trabalho, empregos que nem sempre são a realização de um sonho e contas para pagar todo mês. Mas, ao mesmo tempo, seguem usufruindo dessa estrutura e desses privilégios como a cama arrumada, a comida pronta, a mensalidade da escola ou da faculdade paga, o celular novo, o lazer garantido. E quando aparece uma dificuldade ou um desejo de consumo, a mão estendida é quase sempre para o pai ou a mãe que sustentam tudo isso com muito esforço.
A incoerência aparece aí: querer liberdade, mas não assumir o preço dela.
Sonhar e desejar é legítimo, mas liberdade sem compromisso e responsabilidade não passa de fantasia. Escolhas exigem investimentos, seja em dinheiro, em dedicação, esforço, renúncias ou consciência.
Me questiono se os jovens e adolescentes de hoje já pararam para pensar de onde vem o que os pais usam para bancar suas escolhas e seu estilo de vida. Será que refletem que muito do que têm hoje custou trabalhos que os pais nem sempre amaram e escolhas que envolveram (e envolvem) também abrir mão de coisas? Será que percebem que seus pais deixaram, e ainda deixam, de priorizar vontades próprias para fazer o que era e é preciso para garantir resultados? Pais e mães não são provedores automáticos. São pessoas com sonhos, desejos e limites, que também precisam ser respeitados, preservados e cuidados. Talvez esteja na hora de os filhos compreenderem que a juventude é tempo de construir junto com o usufruir, e que os pais têm o direito (e dever) de aproveitar aquilo que conquistaram.
Não seria justo que os pais, que já plantaram, possam agora colher e usufruir, enquanto os filhos, já beneficiados por essas conquistas, assumem a batalha de erguer seus próprios projetos e contribuir também com os pais? Aliás, em várias culturas, a retribuição aos pais faz parte natural da vida adulta. Já na nossa, o olhar muitas vezes fica restrito ao próprio umbigo, e o resultado é uma relação injusta e dolorosa para ambos os lados.
Aí está uma lição que muitas vezes se perde no discurso fácil do “faça só o que gosta e quer”. Para usufruir de certas conquistas, é inevitável fazer também o que não se gosta ou não se quer, mas que é necessário. Nada vem pronto. Conquistar e manter resultados exige disciplina, esforço e, sobretudo, renúncia. São justamente essas renúncias que muitos jovens resistem em aceitar, como se fosse possível colher sem plantar.
Pais e mães precisam ajudar os filhos a entender que escolhas vêm acompanhadas de consequências, e que autonomia não se constrói às custas do outro, mesmo que esse outro seja pai ou mãe. Ao contrário, ela nasce do equilíbrio entre liberdade e responsabilidade.
Sonhar é lindo, mas bancar o próprio sonho é o que o torna possível!
Pais e mães não devem apenas sustentar os sonhos dos filhos, mas devem mostrar eles têm um custo.
Ensinar que conquistas exigem esforço, renúncias e constância é talvez um dos maiores legado que podem deixar. Não se trata de desencorajar os filhos a sonhar, mas de lembrá-los de que todo sonho tem um preço e que aprender a pagar por ele é o que transforma adolescentes dependentes em adultos responsáveis.
*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres
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