Associação Mensa Brasil alerta para dificuldades socio-emocionais e transtornos mentais em superdotados e importância da identificação precoce
Redação* Publicado em 14/06/2025, às 06h00
Maio de 2025 – A Associação Mensa Brasil, organização que reúne pessoas com altas capacidades intelectuais no País e representante da Mensa Internacional – principal organização de alto QI do mundo – acaba de lançar uma campanha para apresentar caminhos e oportunidades de superação de dificuldades sociais, sofrimentos emocionais e até transtornos mentais com a descoberta de altas habilidades.
Com o conceito “É preciso ir além”, a campanha da Mensa Brasil busca ampliar a identificação de brasileiros com superdotação e altas capacidades intelectuais, que é subnotificada em nosso País. A campanha, que conta com a parceria da produtora DOC Films e de diversas organizações de defesa de direitos de superdotados, acontece na sequência do anúncio público da atriz Fabiana Karla, que relata a descoberta tardia da superdotação em meio a uma trajetória pessoal de sensação de inadequação, conforme ela própria declarou recentemente na imprensa.
Com vídeos baseados em depoimentos pessoais de indivíduos que descobriram a superdotação de forma tardia – e que também sofriam de certos transtornos e dificuldades – a Mensa Brasil propaga a mensagem da importância da identificação de altas habilidades e do papel dos grupos de mútua ajuda entre os pares e dos ambientes de desenvolvimento das capacidades intelectuais.
Segundo Cadu Fonseca, presidente da Mensa Brasil, a entidade tem como principal missão identificar pessoas com alto QI e desenvolver meios de desenvolvimento pessoal e interpessoal dentro da associação. “Identificar e desenvolver pessoas com inteligência acima da média é uma ferramenta fundamental para ajudar um país a desenvolver políticas públicas nas áreas de superdotação/altas habilidades e educação inclusiva, que hoje não alcançam a população a ser atendida”, explica.
“Trazer esse problema para o debate público é imprescindível para alcançarmos o pleno atendimento dos direitos de indivíduos com alta inteligência. A Mensa tem papel fundamental neste trabalho, no sentido de contribuir com processos de identificação e proporcionar ambientes que ajudem no desenvolvimento de potenciais de seus membros”, acrescenta a vice-presidente de comunicação da a Fundação Mensa Brasil, Priscila Gomide.
“Por um lado temos o consenso acadêmico de que, por exemplo, o autismo envolve de 3 a 5% da população e que altas habilidades/superdotação (AHSD) igualmente envolvem de 3 a 5%. Mas quando vemos o Censo Escolar, observamos que há cerca de 900 mil autistas identificados, contra apenas 44 mil AHSD. Por isso é preciso ir além dos estereótipos, entender profundamente o superdotado, desmistificar suas capacidades e sofrimentos e, de fato, buscarmos o pleno direito à educação especial e à assistência de saúde tão necessária a este público”, completa Priscila.
Assista ao vídeo na home da Mensa Brasil: https://mensa.org.br/
Para a CEO da DOC. Films e criadora do movimento Gifted Brasil, Priscila Manni Gomide, é preciso ir além da atual abordagem das escolas com crianças com Altas Habilidades/Superdotação. “Descobri que minha filha e (posteriormente) meu marido são AH/SD a partir de muito empenho para entender de fato do que se trata a condição. Ainda é um longo caminho, eu mesma estou em processo de identificação, mas sinto que tanto a sociedade quanto as escolas precisam correr mais, avançar mais e compreender que essas pessoas, neurodiversas, precisam de suporte, individualização e acolhimento”.
Já a coordenadora do projeto Rais (Rede de Atendimento Integral ao Superdotado), Dra. Carina Rondini, aponta que a identificação precoce de AH/SD deve ir além do gênero, da raça e da condição socioeconômica. “É preciso criar possibilidades reais para que meninas negras da periferia tenham suas altas capacidades reconhecidas, cultivadas e afirmadas como parte legítima de suas trajetórias. A Rede de Atendimento Integral ao Superdotado (RAIS) luta para romper os filtros sociais que invisibilizam talentos, gerando sofrimento emocional e social duradouro — e propõe uma educação verdadeiramente inclusiva, que reconheça a potência onde a desigualdade tenta impor silêncio”, diz.
Em nota, a diretoria executiva do Conbrasd (Conselho Brasileiro para Superdotação) complementa: “É preciso ir além do silêncio institucional e da negligência histórica: é urgente ampliar os processos de identificação, reconhecimento e atendimento de pessoas com altas habilidades/superdotação em todo o território nacional. O Conselho Brasileiro para Superdotação reafirma seu compromisso com a defesa de políticas públicas inclusivas, baseadas em evidências, que promovam o desenvolvimento pleno de potenciais intelectuais e criativos — não como exceção, mas como direito de todos que dele necessitam.”
Para Natalie Banaskiwitz, neuropsicóloga e sócia fundadora da Clincog (instituição que atua tanto como clínica de identificação AHSD quanto como centro de formação de neuropsicólogos), é preciso ir além da negligência e do silêncio que ainda abandona tantas pessoas com altas habilidades/superdotação ao longo da vida. “É urgente ampliar o reconhecimento, os encaminhamentos adequados e a escuta qualificada para esse público, muitas vezes confundido, subestimado ou simplesmente ignorado”, pontua.
“Na Clincog, recebemos diariamente indivíduos que, apesar de seus potenciais, enfrentaram anos de invisibilidade, sofrimento emocional e falta de acesso a intervenções apropriadas. Nosso compromisso é transformar essas trajetórias de desencontro em possibilidades reais de compreensão, pertencimento e desenvolvimento — com respeito à singularidade de quem pensa e sente o mundo de maneira tão intensa quanto única”, complementa Natalie.
Segundo Denise Arantes-Brero, diretora do NPAS (Núcleo Paulista de Atenção à Superdotação) e conselheira da Fundação Mensa Brasil, é preciso ir além da visão estereotipada de gênio tão amplamente divulgada. “Precisamos compreender que o fenômeno das altas habilidades/superdotação é multifacetado se manifestando de diferentes formas. Romper com esses mitos nos ajuda a identificar melhor esses indivíduos, que para além do rótulo, buscam compreensão, pertencimento e atendimento às suas demandas específicas”, ressalta.
Para Domitila Miranda, neuropsicóloga e diretora do Instituto CBM (Cuidar, Brincar e Mediar), é preciso ir além e propor estratégias de acolhimento e identificação acessíveis, para todos, minimizando os impactos da invisibilidade e silenciamento de pessoas que, muitas vezes, passam uma vida toda sem entender porque se sentem diferentes. “O cuidado com a saúde mental e bem estar psicossocial dessas pessoas é urgente e não cabe mais em propostas capacitistas e reducionistas, que se preocupem somente com performance, sem priorizar a qualidade de vida integral. É necessário capacitar e esclarecer, para cuidar e individualizar”, explica.
De acordo com a presidente do Instituto Virgolim, Dra. Angela Virgolim, o reconhecimento das Altas Habilidades e Superdotação deve ser acompanhado de uma abordagem integradora, humanizada e contínua ao longo da vida. “A Pedagogia da Felicidade, que fundamenta nosso trabalho, compreende o indivíduo em sua totalidade — valorizando tanto as áreas de destaque quanto aquelas que exigem maior atenção. No caso de crianças e jovens, isso significa proporcionar enriquecimento como Atendimento Educacional Especializado (AEE), aliado ao suporte psicológico e educacional que envolve famílias, professores e a comunidade escolar. Já para adultos, muitos dos quais enfrentam os efeitos de uma identificação tardia, nossa missão é restaurar a autoestima, promover o autoconhecimento e abrir caminhos para a autorrealização pessoal e profissional, reconhecendo sua identidade única e seu potencial singular e com isso, gerando a compreensão sobre si e o sentimento de pertencimento”, diz
“O Instituto acredita que o talento é um direito humano e uma oportunidade estratégica para o país. Ao fortalecer indivíduos com AHSD, buscamos não apenas seu bem-estar e felicidade, mas também contribuir com a formação de pessoas capazes de gerar impacto positivo e diferenciado na sociedade, vivendo com propósito, pertencimento e sentido”, relata Angela.
Para Damião Silva, coordenador do projeto itinerante Vivendo a Superdotação e diretor técnico do Instituto Unicamente e pessoa superdotada, é preciso ir além da ideia de que superdotação se resume a desempenho. “Muitas pessoas superdotadas carregam histórias de silenciamento, confusão e sofrimento emocional, justamente por não terem sido compreendidas ao longo da vida”, comenta.
“No Instituto Unicamente, ouvimos relatos de quem cresceu sem nome para sua diferença, sem apoio emocional, e muitas vezes adoecido por um sistema que valoriza o produto, mas negligência a pessoa. O modelo atual de identificação é restrito, pouco acessível e centrado em critérios limitados (e que professores infelizmente não conseguem avaliar de maneira adequada) o que acaba excluindo quem não se encaixa no estereótipo do “aluno brilhante” e resultando em negativas de direitos já estabelecidos”, acrescenta Silva.
Segundo ele, Éé urgente que o Brasil desenvolva políticas públicas consistentes, que garantam formação adequada para profissionais da saúde e da educação, e que oportunizem o uso de modelos teóricos atuais, amplos e cientificamente validados para identificar e acompanhar essas pessoas.
“A superdotação não é um privilégio: é uma forma legítima de neurodivergência que precisa ser reconhecida, respeitada e acolhida com sensibilidade. Precisamos de uma nova cultura — que escute, cuide e valorize quem pensa e sente o mundo com intensidade”, conclui.
Fundada em 2002, a Associação Mensa Brasil é a afiliada brasileira oficial da Mensa Internacional. Ela congrega pessoas com altas capacidades intelectuais, tendo como único requisito de ingresso possuir QI acima de 98% da população em geral, comprovado por teste referendado de inteligência. A entidade coordena, representa e mobiliza seus associados, com foco em três objetivos principais: (i) identificar e promover a inteligência humana em benefício da humanidade; (ii) estimular pesquisas sobre a natureza, características e usos da inteligência; e (iii) prover um ambiente intelectual e socialmente estimulante para seus associados.
No Brasil, são cerca de 3,1 mil membros ativos, dentre crianças e adultos, com milhares de oportunidades para encontrar novos amigos, ter conversas estimulantes e fomentar novos projetos. Entre as atividades desenvolvidas para seus membros, destacam-se o encontro anual, uma atividade presencial para os mensans dos diversos cantos do país fortalecerem seus laços e assistirem palestras de especialistas em múltiplas áreas do conhecimento, e os chamados Encontros Regionais, realizados ao longo do ano.
A entidade conta também com o Programa Jovens Brilhantes, iniciativa que visa apoiar o desenvolvimento dos membros menores de idade, incluindo a promoção de eventos, encontros e grupo de responsáveis, entre outras atividades.
Além da oferta de bolsas e prêmios para financiar projetos inovadores de seus membros, a Mensa Brasil mantém diversos Grupos de Interesse para debates e estudos nas áreas de TI & Data Science, negócios, xadrez e assuntos nerds. Também apoia a realização de fórum exclusivos, onde cada grupo organiza seus próprios eventos, como a recente Copa Mensa Brasil de Xadrez.
Atualmente, a Mensa Brasil possui registros de 5,2 mil brasileiros identificados com altas habilidades, incluindo 2 mil crianças e adolescentes e 3,2 mil adultos.
Em qualquer uma das unidades da Mensa, espalhadas por mais de 90 países, o propósito de grupo, de pertencimento, de autoconhecimento e de desenvolvimento humano está sempre presente e tem feito a diferença na vida de seus membros.
Fundada em 1946, no Reino Unido, a Mensa Internacional é a maior organização de altas habilidades do mundo. Foi criada com o objetivo de promover a inteligência como ferramenta estratégica para o desenvolvimento e a evolução da humanidade. A palavra Mensa significa “mesa”, em Latim, em referência à natureza de mesa-redonda da organização, representando a união de iguais, inpendentemente de características como etnia, cor, credo, nacionalidade, idade, visão política, histórico educacional e/ou socioeconômico.
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres
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