COP30 na Amazônia: entre o marco climático e o risco de vitrine política

A COP30 na Amazônia pode fortalecer o marco climático e a voz dos povos tradicionais, mas também corre o risco de se tornar apenas uma vitrine política

Alícia Sá* Publicado em 02/10/2025, às 06h00

Alícia Sá acredita que a COP30 pode ser um marco, mas isso depende de como será construída - Foto: Assessoria de Imprensa

Quando reflito sobre a COP30, acredito que ela pode ser um marco, mas isso depende de como será construída. A Conferência das Partes (COP) é o principal espaço internacional de discussão e tomada de decisão sobre as mudanças climáticas. Em 2025, pela primeira vez na história, ela será realizada na Amazônia: um marco simbólico e estratégico, porque coloca no centro das decisões climáticas o bioma mais biodiverso do planeta e essencial para a regulação do clima. Em contrapartida, é importante considerar seu potencial contraditório: ao mesmo tempo que pode se apresentar enquanto um espaço de escuta e valorização dos povos tradicionais e seus conhecimentos sobre a floresta, também pode se reduzir a uma vitrine política marcada por promessas vazias, soluções de mercado desconectadas das realidades locais e uso da visibilidade para fins de turismo verde e projeção internacional, em vez de compromissos reais com a justiça climática.

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É nesse contexto que a V Jornada Amazônica (2025) se tornou um espaço importante para pensar e conversar sobre a Amazônia e os principais desafios enfrentados em relação à sua preservação. Mais do que discutir onde será feita a conferência, a Jornada buscou refletir sobre quem terá voz nesses processos e quais pontos de vista precisam ser ouvidos com urgência. Foi um debate além de discussões sobre redução das emissões de carbono, foi um encontro que instigou uma reflexão profunda sobre novas formas de relação com a natureza, romper com a lógica colonial de exploração e garantir os direitos e a escuta de quem sempre viveu de forma sustentável, trabalhando em conjunto e harmonia com a floresta. 

Acredito que o maior diferencial da Jornada seja a oportunidade de dialogar diretamente com vozes que falam a partir do território, da experiência, da resistência e do futuro. Tivemos a presença da fundadora do Instituto Socioambiental (Marina Khan), assim como a participação de integrantes de movimentos sociais ligados às questões de justiça climática, como Josefa de Oliveira, do Movimento Xingu Vivo. A Amazônia muitas vezes é vista como algo distante, cujos desafios parecem não nos atingir. Mas estar diante dessas vozes, ouvir diretamente de quem enfrenta no dia a dia as dificuldades da região, causa um impacto muito maior e nos mostra que, na verdade, estamos mais próximos do que imaginamos. Esse contato quebra a sensação de distância (e até de apatia) e faz com que as questões amazônicas deixem de ser um tema abstrato para se tornarem urgências reais, que exigem respostas coletivas e imediatas.

*Alícia Sá é aluna do Gracinha desde 2023 e atualmente na Terceira Série do Ensino Médio, tem 17 anos e sempre teve interesse em questões relacionadas às atualidades e que equilibrassem conhecimentos tanto de Ciências Humanas quanto Matemática. Pretende se graduar em Ciências Econômicas (Economia)

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