A arte transforma vidas: cor, afeto e consciência na escola pública

Um olhar atento para o outro ou para si mesmo através do autoconhecimento é importante para analisar o que se passa, para entender o que se passa e trazer acolhimento para quem precisa. Na vida, todos passamos por momentos conturbados e  muitas vezes achamos não haver solução. Nesse contexto, a arte é uma excelente ferramenta  transformadora e de conscientização, trazendo reflexões e temas polêmicos para o debate na sociedade.

Com esta obra que está sendo entregue  na Escola Estadual Leopoldo Santana, no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, trago à tona reflexões sobre a saúde mental e o combate ao suicídio reforçando que a arte transforma vidas. A cor amarela e suas derivações prevalece na fachada interna da escola e retrata uma criança abraçada com um esquilo, que representa o afeto, o carinho, o acolhimento, a reciprocidade mútua e o valor do contato com a natureza.

Nela pontuo alguns sinais que podem ser os gatilhos para problemas de saúde mental, muitas vezes atrelados aos jovens por meio da internet e, principalmente, o bullyng praticado nas escolas e muitos alunos sofrem muitas vezes calados.

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Nessa escola já tem um trabalho voltado para esta campanha, onde pintei o rapper  Emicida em oração retratado em uma caixa d’água com 17m de altura, que tem muito significado aqui. O rapper foi pintado a pedido dos próprios alunos que veem no artista uma voz, e expressa o significado de ser da periferia e viver em vulnerabilidade social, representando-os de certa forma através da música.

A expressão em oração do Emicida nesta obra representa a dor e a fé, pois um aluno se suicidou se jogando de uma caixa d´água. Este menino era aluno do EE Leopoldo Santana, sofria bullyng e havia sido acolhido pela direção. Entretanto, com a pandemia, ele não conseguiu lidar com o isolamento e tirou a própria vida.

Tanto o mural na fachada quanto a pintura na caixa d’água tem como objetivo promover o diálogo sobre temas muitas vezes considerados tabus, como o suicídio e saúde mental, e como lidar com essas situações.

A obra busca sensibilizar estudantes, professores e funcionários, tanto desta escola como de outras da rede pública, sobre a importância de estar atento aos sinais de sofrimento emocional e através da arte transmitir uma mensagem  de solidariedade e encorajamento, reforçando a ideia de que ninguém está sozinho.

A conscientização sobre a prevenção do suicídio é uma responsabilidade coletiva. Campanhas  e iniciativas artísticas como esta em escolas são passos importantes para criar uma sociedade mais empática e informada para construir um futuro mais saudável para todos.

*Dicesarlove é artista de rua e muralista, autoditada e imprime em suas obras seu estilo peculiar e marcante. Trabalhou nos Emirados Árabes, Japão, Suécia, Holanda, Colômbia e Estados Unidos. Na Flórida (USA), criou o projeto “obras desaparecidas”, em Wynwood-Miami, onde fez um mural com Frida Kahlo pintando a obra desaparecida desde 1955, “A Mesa Ferida”.