Entenda as razões que envolvem a decisão pelo congelamento de óvulos
Renata Olmos e Paulo Olmos* Publicado em 18/03/2023, às 06h00
Nos últimos 60 anos, os avanços na área da saúde feminina possibilitaram às mulheres novas conquistas no âmbito social e no mercado de trabalho. Graças ao impacto dos anticoncepcionais, as mulheres passaram a controlar o momento de decidir pela maternidade, prolongando o tempo e a possibilidade de maior dedicação aos estudos, e acesso a uma carreira profissional. Em apenas três décadas, a realidade da mulher na busca de sua realização profissional mudou muito. Como adequar o timing entre ser uma profissional bem-sucedida e ser mãe?
Essa jovem executiva de hoje, que entrou para o mercado de trabalho em condição de igualdade com os homens, teve necessidade de um longo tempo nos bancos das universidades para chegar aos postos que ocupa. A decisão para uma carreira vitoriosa deixa, muitas vezes, de lado a vida pessoal, afetiva e o projeto de ser mãe.
Cada vez mais, nos deparamos com mulheres que chegam em nosso consultório com o desejo de engravidar com óvulos próprios. No entanto, a postergação da maternidade, em grande parte dos casos, leva a um prejuízo da função ovariana que muitas vezes já impossibilita a concretização deste sonho, principalmente em virtude da qualidade dos óvulos em razão da idade.
O fato é que, a partir dos 35 anos, a mulher tem sua reserva ovariana em declínio e sabemos que desse ponto em diante ela ficará cada vez mais escassa. Esse é o momento em que os óvulos começam a diminuir em quantidade e qualidade, havendo um prejuízo enorme, mês a mês, na disponibilidade e saúde dos mesmos. Outros fatores que também influenciam negativamente nesta qualidade são a presença de doenças inflamatórias como endometriose, obesidade, tabagismo, uso de drogas e alterações significativas do sono.
Vivemos em um mundo novo, mas os óvulos não esperam o tempo que queremos. Eles têm o tempo da natureza. Novos casais se encontram frente ao desafio de optar entre família e trabalho. E algumas mulheres não encontram a oportunidade de terem o primeiro ou o segundo filho em função das carreiras. Esses fatores associados criam um cenário peculiar com relação à fertilidade e à reprodução humana.
Hoje, em nosso país, 15% das gestações acontecem em mulheres acima dos 30 anos. Se por um lado estes dados corroboram com a conquista das mulheres por maior liberdade e autonomia em suas decisões sobre o planejamento familiar, por outro, esse adiamento da maternidade faz com que elas se depararem com um fator limitador, biológico, que é o envelhecimento natural dos ovários e o seu impacto na fertilidade feminina. Podemos afirmar que uma epidemia de infertilidade vem se instalando no mundo nas últimas duas décadas, atingindo hoje, 15% dos casais em idade fértil.
Por tudo isso é importante que as mulheres tenham acesso à informação para tomar decisões. E nesse contexto, é fundamental que encaremos o planejamento reprodutivo para além da questão da anticoncepção. A mulher deve ter em mente quando deseja engravidar e quantos filhos pretende ter para planejar o futuro. Algumas mulheres com histórico familiar de menopausa precoce ou suspeita de endometriose, assim como aquelas que se submeteram a cirurgias pélvicas, deverão ser olhadas com mais cuidado, pois sua reserva ovariana poderá se esgotar ainda mais precocemente.
O congelamento de óvulos permite postergar a maternidade com mais segurança. Este procedimento já existe há 15 anos e até hoje, com este tempo de armazenamento, mostra resultados excelentes. A taxa de recuperação dos óvulos é de aproximadamente 90%, preservando a mesma qualidade do momento da coleta.
O advento do congelamento de óvulos, que ganhou o mundo a partir de 2008, permitiu que a mulher pudesse postergar a maternidade e deixasse de ter essa preocupação no início de suas conquistas profissionais, depois de árduos anos de preparação para tal.
O processo de congelamento de óvulos é um processo seguro e consiste em:
Os óvulos congelados não envelhecem e é possível utilizá-los quando chegar o momento adequado. Para além disso, o tratamento é praticamente isento de efeitos colaterais.
Este é o procedimento mais moderno para preservação da fertilidade feminina e, sem dúvida, um grande aliado das mulheres que acalentam o sonho da maternidade, mas que preferem decidir qual é a melhor hora para que isso aconteça em suas vidas.
*Renata Olmos é médica ginecologista obstetra, mestre em Reprodução Humana; Paulo Olmos é médico especialista em Reprodução Humana, mestre e doutor em Ginecologia.
Você sabia que alguns hábitos podem interferir na fertilidade?
É possível engravidar após diagnóstico de endometriose?
Congelamento de óvulos é opção para as mulheres que desejam adiar a gestação
Como preservar a fertilidade masculina em casos de doenças da próstata
Combate ao Estresse: sintoma pode influenciar na fertilidade