Atendimento de crianças com SAF na rede pública: um caminho a ser construído

O atendimento por equipe multiprofissional é de extrema importância para crianças com síndrome alcoólica fetal (SAF) e suas famílias

Paulo Eduardo de Araújo Imamura* Publicado em 10/11/2023, às 06h00

A síndrome alcoólica fetal pode deixar sequelas permanentes -

O consumo de álcool pela gestante é um grande problema de saúde pública, porque pode provocar consequências graves para a própria gestante, para o feto e o recém-nascido.

Na gestante, a ingestão de bebidas alcoólicas pode causar riscos de sangramento, aborto espontâneo, descolamento prematuro de placenta e parto prematuro.

Com relação ao feto, o álcool, quando ingerido durante a gravidez pode interferir no processo do seu desenvolvimento causando malformações importantes da cabeça, do coração, rins, ossos, trato digestório e outros.

No recém-nascido, durante seu crescimento, pode causar prejuízos no desenvolvimento neurológicos, psicológicos e da motricidade. Estas alterações são conhecidas como Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal.

A SAF – Síndrome Alcoólica Fetal é a forma mais grave e incapacitante do Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal, incluindo malformações do crâneo, da face, distúrbios de aprendizado, de comportamento, distúrbios emocionais e de socialização.

 

São descritos os seguintes problemas:

1- Hiperatividade e atenção: dificuldade de manter a atenção na presença de situações podem distrai-la

2-Função socioemocional: comportamento antissocial, dificuldade de assumir as consequências de suas ações e agressividade em sala de aula

3- Aprendizado e memória: dificuldade de aprendizado, especialmente em matemática, dificuldade de planejamento e organização de tarefas e de memorização

Estudos mostram que estes problemas comportamentais não melhoram a medida que a criança entra na idade adulta, o que demonstra a importância de se desenvolver programas educacionais e de saúde para estas crianças.

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Como é grande a complexidade de problemas, seria importante que a criança pudesse ser atendida por equipe multiprofissional que fizesse intervenções comportamentais e educacionais prevenindo as deficiências secundárias da doença.

Infelizmente o serviço público ainda não está capacitado para proporcionar este tipo de atendimento e há falta de programas preventivos.

Os médicos da rede pública, por sua vez não estão capacitados para fazer o diagnóstico da SAF e há deficiência de programas de prevenção da SAF durante o pré-natal.

Apenas poucas universidades dispõem de programas de atenção à saúde da criança composta de equipe multidisciplinar com pediatra, neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e pedagogo.

Portanto há falta de locais capacitados para atendimento das crianças com Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal nos municípios do Brasil.

Se por um lado são necessárias mais iniciativas na formação e política pública para o atendimento às crianças afetadas pelo consumo de álcool na gestação; por outro lado, a prevenção é totalmente possível. Apesar de NÃO TER CURA, os Transtornos do Espectro Alcoólico Fetal podem ser perfeitamente evitados se a gestante não ingerir NENHUMA bebida que contenha álcool durante a gravidez.

Na verdade, o consumo de bebidas alcoólicas deve ser ZERO, porque não há uma quantidade de álcool ingerido que possa ser segura na gravidez.

Lutar pela conscientização das gestantes e familiares sobre os malefícios que o álcool pode causar é dever de todos nós.

ÁLCOOL E GRAVIDEZ. TOLERÂNCIA ZERO!

*Paulo Eduardo de Araújo Imamura é pediatra, neonatologista e Membro do Núcleo de Estudos dos Efeitos do Álcool na Gestante, no Feto e no Recémnascido da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

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