Especialista explica que crianças de 0 a 6 anos devem receber estímulos adequados ao desenvolvimento cognitivo e socioemocional na escola
Redação Publicado em 30/07/2022, às 17h14
A procura por escolas de educação infantil costuma ser dilema vivenciado por muitas famílias, em especial as de primeira viagem. O mês de julho é ideal para decidir em qual local a criança ficará após o período de férias ou início da vida escolar. Aos seis meses de vida, alguns bebês precisam contar com cuidados de terceiros e, na hora de decidir onde matricular a criança, é fundamental encontrar escolas adequadas ao desenvolvimento infantil. São diversos os aspectos a serem observados ao escolher o local e a quem delegar a educação de crianças de 0 a 6 anos.
A pedagoga e especialista em Gestão Escolar Juliana Diniz, que atua como diretora de Qualidade e Excelência do Grupo Vitamina, dono de 37 escolas de educação infantil no Brasil, explica que a partir dos anos 90 o ensino ganhou relevância ainda maior no país porque passou a integrar a Educação Básica, com diretrizes mais amplas, em que os cuidados básicos com a criança - que são essenciais - e a educação devem compor as estratégias educacionais.
Para Juliana, os desafios atuais da educação nessa fase extrapolam os aspectos de cuidados e assistência, que são indissociáveis ao ato de educar. A eles, soma-se a necessidade da oferta de propostas pedagógicas que considerem a criança e seu universo o centro do processo de desenvolvimento.
As vivências, segundo ela, devem priorizar possibilidades de exploração do cotidiano, de investigação e descobertas, para potencializar as aprendizagens e construção de autonomia. Assim como garantir a integração da família no processo - participando do centro e com comunicação genuína, oportuna e bilateral com as equipes.
1 - Formação continuada de educadores - As famílias precisam se assegurar de que a escola invista em educação continuada para os professores. Observar essa questão faz diferença, segundo Juliana. Ela diz que nos últimos anos há vastas pesquisas sobre novas metodologias e práticas mais aderentes à forma de aprender das crianças dessa geração e, além disso, a organização da educação no Brasil passou por recentes e importantes atualizações com a nova BNCC. A escola deve garantir espaços formativos contínuos, que aprimorem a atuação docente. Abordagens que vão desde capacitações em primeiros socorros, como ajudar uma criança engasgada, até aprofundamento sobre a ciência da aprendizagem e do desenvolvimento infantil. Juliana ressalta que o espaço deve ser rico em possibilidades e, acima de tudo, seguro, principalmente do ponto de vista da estrutura física, já que a faixa etária exige atenção. “Crianças de 0 a 6 anos estão em processo de construção de autonomia e precisam de espaços e cuidados seguros. Para isso, os profissionais devem estar preparados para lidar com situações que são comuns ao cotidiano dessas crianças, como quedas ou engasgos”, enfatiza. Nas escolas do Grupo Vitamina todos os educadores têm capacitação em primeiros socorros, com aprendizados, por exemplo, sobre manobra para desengasgar crianças em situações de perigo.
2 - Proposta Pedagógica - A proposta educacional da escola é outro fator a ser considerado, já que a prática do dia a dia deve ser a mesma declarada pela equipe pedagógica. “Cada uma tem sua concepção, suas fortalezas e oportunidades. O mais importante é que os responsáveis tenham a convicção da coerência entre o que a instituição declara ser e o que é na prática”, diz Juliana. Uma forma de checar esse aspecto é visitar a escola e observar a organização do espaço: têm espaços de convivência? As crianças estão brincando? Estão felizes? As atividades que praticam são de repetição/instrução ou são atividades de criação, investigação? Nas salas têm espaços variados para os interesses das crianças ou são mesas e cadeiras em fileiras com o professor no centro? As paredes das escolas são lugares vazios? Cheios de produção de adultos? Ou é o espaço para expor o criação e construção das crianças? Observar o clima da escola e como o espaço está organizado é um bom começo.
De acordo com a especialista, estudos atuais apontam que as crianças aprendem mais e melhor quando protagonizam experiências ricas e intencionais. “Quando o ambiente for excessivamente fabricado por adultos, com materiais muito estruturados, há sinais de que a criança não é o centro do processo, por exemplo. É relevante fazer escolhas em que os valores institucionais dialoguem com os valores da família, afinal, a parceria entre ambas será determinante para o pleno desenvolvimento da criança”. Outro aspecto valioso é conhecer como a rotina na escola é criada e valorizada. A organização do tempo diário é fundamental para a formação das crianças “A rotina clara e intencionalmente programada é condição para a desenvolvimento de crianças seguras e autônomas”, destaca Diniz.
3 - Espaço desenhado para o aprendizado - O espaço precisa ser estimulante a descobertas, onde as crianças possam criar, construir e testar suas hipóteses. Segundo Juliana Diniz, as crianças precisam de espaços planejados para explorar e criar, cheio oportunidades de aprendizagem. “Os pequenos necessitam de locais que privilegiem a brincadeira e o fazer, a relação com a natureza. Acredito que o espaço também educa. Quando intencionalmente preparado, pode ampliar as experiências sensoriais, a criatividade e as experiências emocionais e relacionais”, afirma. A especialista acrescenta que é essencial o espaço, como ambiente de modo geral, ser devidamente preparado para que a criança se sinta bem, segura com o outro e com ela mesma. “O início da jornada escolar é disruptivo, porque a criança sai do seu núcleo familiar e começa a sua inserção em uma vida em sociedade, em grupo. Nesse momento, ela precisa ser permeada por uma série de cuidados de integração, de socialização, de inclusão e, sobretudo, em prol do desenvolvimento de competências socioemocionais. Por isso, o ambiente tem de proporcionar experiências colaborativas, de grupo, em que a criança possa ter a oportunidade de aprender a viver com o outro”, destaca.
4 - Relações de qualidade - Os pais precisam saber, de modo evidente e explícito, o que são relações de qualidade. Juliana explica que é preciso haver sintonia entre o que a escola e os pais acreditam. “Somos todos seres dialógicos e com as crianças não é diferente. Elas precisam de um ambiente que favoreça a troca, a convivência saudável e que, principalmente, seja acolhedor e respeitoso. Para se assegurar de que a escola mantenha este cuidado, Juliana diz que é preciso estar atento ao analisar o clima da escola, que deve ser saudável, leve e inspirar confiança. “Esses são elementos menos tangíveis à nossa percepção, mas com olhar sensível podemos ver como as profissionais se tratam e como se dirigem às crianças, como lidam com o choro, como a afetividade é parte da relação, e sobretudo, se os educadores têm clareza de que as crianças devem ser atendidas em todas as suas necessidades”, ensina.
5 - Nutrição como parte do processo - A alimentação tem papel fundamental em todas as etapas da vida, especialmente nos primeiros anos, que são decisivos para o crescimento e desenvolvimento pleno. Assim, é essencial saber como é ofertada a alimentação, qual a qualidade do que é servido e como funciona a rotina alimentar das crianças. O cardápio deve ser diversificado, dando à criança a oportunidade de desenvolver um processo alimentar não seletivo e rico tanto em micro quanto em macronutrientes. Juliana esclarece que a boa escola segue alinhada às orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Organização Mundial da Saúde (OMS), em que, por exemplo, crianças com menos de dois anos de idade não devem ingerir açúcar nem sal. “É preciso observar esses detalhes, fazer a escolha consciente e acompanhar a rotina de alimentação na escola. Uma boa experiência nutritiva nos primeiros mil dias de vida, por exemplo, potencializa muito o desenvolvimento humano", reforça a especialista.
6 - Integração com a família: De acordo com Juliana Diniz, a boa relação entre escola e família precisa estar presente em todo o contexto educativo, afinal, é a ação conjunta e dialógica entre elas que vai potencializar o desempenho social e cognitivo da criança. “As famílias devem observar atentamente como a escola integra a criança no cotidiano dos pequenos, de como se comunica, a transparência na relação e como viabiliza sua participação ativa. Temos experiências incríveis nas quais as famílias são convidadas a compor vivências, interagir diretamente na construção de conhecimentos e valores.” Para a especialista, é importante que o trabalho colaborativo seja focado em garantir integração constante com as famílias no processo educativo e que assegure que a relação ativa com os responsáveis seja pilar central para o desenvolvimento. “A vida no século 21 tem nos exigido cada vez mais formação integral e complexa e, portanto, com competências que extrapolam os aspectos cognitivos. É preciso que a educação escolar se comprometa com a formação de crianças confiantes em si e no outro, que desenvolvam ao máximo suas potencialidades, que sejam autônomas, criativas e solidárias. E que principalmente, que tenham a capacidade de se relacionar positivamente com o meio - social e natural”, finaliza Juliana Diniz.
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