Sara Hughes como ser professor tem atraído poucos jovens no momento de escolha profissional
Sara Hughes* Publicado em 16/08/2023, às 14h00
Ser professor tem se tornado um desafio que tem atraído poucos jovens no momento de escolha profissional. Os números mostram um cenário alarmante. De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Península, apenas 5% dos estudantes matriculados no Ensino Médio demonstram interesse em se tornar professores. E o mercado de trabalho já sofre a consequência disso. Em setembro de 2022, um estudo do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp) mostrou que o Brasil poderá atingir um déficit de 235 mil professores na Educação Básica até 2040.
Essas pesquisas apontam ainda para algumas das dificuldades enfrentadas pelos profissionais que optaram pela carreira docente. Segundo dados do Instituto Península, os maiores desmotivadores da carreira educacional são a falta de paciência para exercer a docência e a descoberta de outras áreas mais atrativas. Seria mais positivo se a sociedade valorizasse o professor, disponibilizando suporte e investimentos para a educação e dando autonomia para que o professor seja protagonista da aprendizagem.
Ser mediador do conhecimento exige o desenvolvimento de habilidades e competências que vão além do conteúdo em sala de aula. O aluno do século XXI terá novos desafios e, para isso, precisa ter em sua bagagem ferramentas. O professor atual tem essa missão: apoiar o aluno nesse processo de aprendizagem, apresentando e auxiliando ele na descoberta dessas ferramentas, que serão utilizadas ao longo da sua jornada.
Para isso é preciso inovar a educação! Buscar novas oportunidades, trazendo uma nova visão de mundo dentro da sala de aula para os alunos e professores, buscando grandes temas relevantes que tragam significado para os estudantes. A educação no Brasil precisa assumir seu protagonismo no crescimento do país. Com esse propósito, é preciso um esforço conjunto do governo, da sociedade civil e das instituições educacionais.
Por parte das instituições de ensino, é necessário, por exemplo, melhorar a elaboração e a aplicação do planejamento estratégico – tendo como base indicadores concretos, com evidências que apoiem o aluno –, oferecer formação continuada com foco em estratégias para que o professor passe a ser mediador do aprendizado, capacitação em metodologias ativas, desenvolvimento socioemocional. Desta forma, o educador passa a ver o processo como um todo, onde tudo deve ‘transbordar’ as paredes da escola, especialmente as novas habilidades, que são as socioemocionais e cognitivas.
O uso da tecnologia aplicada na educação, que já estava em movimento crescente antes da pandemia e agora vem ganhando ainda mais espaço, deve seguir avançando. Ao longo destes seis meses iniciais de 2023, o mundo tomou conhecimento de ferramentas tecnológicas que fazem uso da IA (Inteligência Artificial), promovendo questionamentos, inclusive, no meio educacional. Contudo, dispositivos como ChatGPT são realmente uma ameaça à qualidade de aprendizagem, ou eles estão recebendo o título de ‘vilões’ injustamente?
Entendo que o problema não está na tecnologia, mas na forma como a utilizamos. A discussão não deve ser se as ferramentas como ChatGPT devem ou não ser utilizadas na educação, mas sim como usá-las de forma segura, adequada e efetiva para estender o pensamento. E de como avaliar seu uso. É importante pensar e discutir seu uso, seus possíveis impactos e desafios. Assim, ao invés de proibir ferramentas como ChatGPT, devemos identificar como elas devem ser utilizadas para melhorar o processo de aprendizagem.
O que fica claro é que, o papel do professor permanece sendo essencial sempre! Precisamos que os alunos gostem de aprender, queiram aprender e saibam buscar o conhecimento independente da escola. Precisamos aprender sempre, professores e alunos. Precisamos ter curiosidade e criatividade.
Fortalecer o protagonismo do professor, por meio de cursos de formação e aperfeiçoamento, contribui nesse cenário tão necessário, dando espaço e voz além de proporcionar constantes debates dentro das escolas.
*Sara Hughes: Sara é americana, mas está no Brasil desde 1996. Em 2008 fundou uma escola inovadora e bilíngue no Brasil, a FourC Bilingual Academy, onde atua como Diretora Geral e mantenedora. Em 2016, criou a Scaffold Education, empresa de tecnologia aplicada à aprendizagem corporativa sendo, portanto, cofundadora e CEO. É presidente fundadora do Instituto LideraJovem, organização da sociedade civil (OSC) que atualmente mobiliza, por meio de projetos, mais de 1.500 jovens por ano, impactando mais de 20 mil pessoas.
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