Dra. Ligia Santos esclarece qual a relação entre a obesidade e a chegada da puberdade antes da hora
Laura Kotscho* Publicado em 22/11/2022, às 06h00
Em novo vídeo para o site Mariana Kotscho, a ginecologista Dra. Ligia Santos fala sobre a relação entre a obesidade e a puberdade precoce. Mas, antes de saber a resposta, é necessário entender esses conceitos.
A doutora explica que, no período da fecundação, o feto recebe cromossomos sexuais, que determinam o sexo biológico. Ao longo da gestação, acontece a diferenciação de gônadas, surgindo pênis e testículo ou útero e vagina. No nascimento, o desenvolvimento dos caracteres sexuais para e fica estagnado durante a infância. É quando, a partir dos 8 anos para meninas, e 9 anos para os meninos, uma glândula que fica no cérebro, chamada pituitária, começa a lançar hormônios, dando início à puberdade.
Os hormônios, que são esteróides sexuais, vão atuar em nossas células germinativas e falar "opa, acorda, está na hora de vocês voltarem a funcionar. E esses hormônios que vão ser produzidos, como estrógeno, progesterona, testosterona, vão fazer com que ocorra os caractéres secundários. E aí vai começar a aparecer pelo pubiano, pelo axilar, odor axilar, a pele vai ficando mais oleosa, com acne. Isso tudo vai acontecer de 8 até os 13 anos nas meninas e 9 até os 14 anos nos meninos." explica Dra. Lígia Santos.
É importante ressaltar que a obesidade está ligada a diversos fatores, e não pode ser reduzida a preconceitos. Assim como afirma Dra. Ligia:
A obesidade é muito mais do que preguiça ou descontrole, as causas da obesidade são diversas e multifatoriais. Então nós temos pessoas que têm questões genéticas envolvidas, questões intraútero e ambientais envolvidas, até mesmos bactérias que estão ou não no intestino podem interferir na obesidade."
Na infância, a obesidade está ligada ao ambiente intraútero. Mães que, durante o pré-natal engordam muito, além poderem desenvolver uma diabetes gestacional, têm filhos maiores no momento do nascimento, com uma tendência maior a desenvolver obesidade. A parte disso, os hábitos alimentares do ciclo social da criança também podem refletir em uma obesidade na infância.
Muito da obesidade infantil é também de caráter ambiental, então são crianças que acabam se alimentando muito mal, principalmente com alimentos ultraprocessados, que são mais chamativos, muito saborosos, e faceis de serem feitos, como a bolacha, o salgadinho, macarrão instantâneo, refrigerante e tantas outras coisas que podem fazer parte da alimentação dessa criança " afirma a ginecologista.
Um outro fator que influencia o desenvolvimento da obesidade é a movimentação. Hoje em dia as crianças não participam de tantas brincadeiras que exigem esforço físico, em espaços abertos, fora de casa. Agora, além de ficarem confinadas dentro de casa, em apartamentos pequenos, muitas vezes a diversão está resumida a tablets e vídeogames, que não precisam de muita movimenação corporal, levando as crianças a se tornarem mais sedentárias.
Todos esses fatores podem contribuir para o desenvolvimento de uma obesidade precoce, inclusive em bebês. O que acontece é que, durante a infância, uma proteína chamada globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), é produzida em grande quantidade pelo organismo. Essa proteína se liga aos esteróides que estão na corrente sanguínea, impedindo que cheguem nos tecidos alvos, retardando a puberdade até os 8 ou 9 anos. Entretanto, se a criança possui obesidade, o SHBG é produzido em menor quantidade, podendo causando uma puberdade precoce.
Então, se uma criança desenvolve obesidade já na infância, isso pode causar uma puberdade precoce, trazendo diversas consequências.
Quando a criança começa a desenvolver os caractéres secundários antes dos 8 anos ou 9 anos, ela pode ter consequências como psicológicas ou comportamentais.
O bullying por exemplo, você já imaginou o quanto esse desenvolvimento acelerado pode interferir no relacionamento do seu filho com outras crianças que são da idade dele? Porque ele está mais a frente, está mais desenvolvido, ele é diferente do que aquelas outras crianças que ainda não se desenvolveram." comenta Dra. Ligia.
A ginecologista ainda alerta para algo muito importante:
Existe uma maior chance dessa criança que está em puberdade precoce sofrer abuso sexual. Nós sabemos que não tem perfil de predador sexual, não tem como a gente saber onde é que eles estão. Eles estão aí, soltos, rondando as pessoas e as nossas crianças. A gente pode no máximo mostrar para os nossos filhos um padrão de comportamento que é inadequado, dar algumas dicas, mas não existe uma forma de se prevenir 100%. E aí, uma criança que se desenvolve mais cedo acaba tendo uma aparência de ser mais velha do que realmente é, e acaba com esse conflito, ela chama atenção muito mais fácil deses predadores, mas tem uma mentalidade muito mais infantil, então ela fica muito mais exposta a abusos sexuais. "
Além disso, outras consequências que advém da obesidade são doenças como hipertensão, diabetes tipo II, doenças relacionadas ao osso -por conta do sobrepeso-, doenças cardiovasculares, cânceres relacionados a hormônios, como câncer de mama e de endométrio. E, se a obesidade é precoce, tudo isso pode acontecer bem antes do que se deveria.
Por fim, Dra. Ligia comenta que, apesar de hoje em dia a expectativa de vida é alta, ela pode ser abreviada por conta de medidas comportamentais que não foram corretas. Então, é necessário se atentar para uma qualidade de vida mais saudável, tanto para você, quanto para os seus filhos.
A primeira coisa começa com a gente, nós temos que dar o exemplo para que essas crianças possam ter uma vida mais saudável, então evitar de comprar alimentos ultraprocessados, ofertar mais verduras, legumes e frutas para essas crianças. A gente não pode ter medo de ofertar para elas, medo de dizer não [...] A gente também tem que mostrar que nós fazemos atividade física e mostrar o quanto atividade física é importante e incentivá-los a fazer atividade física." orienta a doutora.
Somados aos hábitos que, a longo prazo, fazem toda a diferença na saúde das crianças, é crucial que as crianças sempre tenham os exames em dia para que, se por ventura tiverem um diagnóstico de diabetes, as medidas possam ser tomadas.
*Laura Kotscho é repórter do site Mariana Kotscho
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