Especialistas ressaltam a importância de manter controle sobre o que as crianças estão consumindo na internet
Redação Publicado em 20/05/2023, às 06h00
Estimular a prática de comportamentos de risco e autoagressivos, muitas vezes sob a falsa impressão de atitude inofensiva ou até mesmo de brincadeira. Desta forma os pediatras classificam os chamados “desafios” promovidos na Internet, tema de um documento divulgado nesta semana pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Na avaliação dos especialistas, essas dinâmicas são divulgadas e ampliadas com rapidez em imagens, vídeos e como jogos on-line, em diferentes plataformas, causando risco à vida, à integridade física e psicológica e, em alguns casos, fatalidades ou danos irreversíveis a crianças e adolescentes.
É responsabilidade de todos nós, pediatras e sociedades em geral, denunciar e alertar sobre conteúdos de vídeos e desafios perigosos na internet, para que estes sejam rapidamente bloqueados e excluídos. As empresas de tecnologia já possuem recursos e expertise profissional para aplicar algoritmos e inteligência artificial para redesenhar o ambiente digital, garantindo a proteção social da infância e adolescência. Portanto, é urgente a elaboração de recomendações e políticas públicas para que estas companhias se comprometam com a implementação dessas medidas de proteção”, defende o presidente da SBP, dr. Clóvis Francisco Constantino.
Desde 2016, a SBP, através do seu Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital, produz uma série de documentos de alerta sobre os riscos do uso precoce, excessivo e prolongado de telas por crianças e adolescentes. No recém lançado “#Menos Jogos Perigosos #Mais Saúde”, a entidade aborda os efeitos nocivos, os danos à saúde e, principalmente, as fatalidades que ocorrem no Brasil e no mundo em razão desses “desafios perigosos” e “provocações” nas redes digitais.
Para os pediatras, como a maioria desses desafios convidam à agressão física ou psíquica, devem ser considerados como violência e crime. “Vale destacar que há um ganho material para aqueles que promovem esses atos, devido à recompensa pelo número de visualizações e prestígio no mundo virtual. Nesse sentido, a SBP lamenta que, mesmo diante da gravidade da situação, os envolvidos nesses crimes não sejam responsabilizados e não recebam punição adequada por praticarem essa indução direta ou indireta através da Internet”, frisa Evelyn Eisenstein, coordenadora do GT Saúde na Era Digital.
Pesquisas observacionais da Internet, realizadas nos Estados Unidos, França e Brasil, descreveram mais de 100 maneiras de nomear esses “desafios”. Os padrões de comportamento de risco mais frequentemente identificados entre os adolescentes são: práticas de sufocamento, asfixia ou apneia; práticas de autoagressão ou hétero-agressão; e ações como o uso de pílulas mágicas com teor desconhecido de pó branco ou colorido, jantares com detergentes como bebidas e pastilhas de sabão como refeição, engolir chips e bolinhas magnéticas, dangerous selfies, dentre outras.
Além disso, o texto traz dados de alguns estudos, como os da tese de doutorado da pesquisadora Juliana Guilheri, publicada em 2017, na qual ela pontua que 60% das crianças, entre 9 e 17 anos, já experimentaram algum tipo de jogo de apneia; e 50% delas tentaram desmaio voluntário. O Instituto Dimicuida, sediado em Fortaleza (CE), também coletou dados informais sobre esses desafios em todo o Brasil, através das mídias ou de comunicados, entre 2014 até novembro de 2022. Esse levantamento detectou a ocorrência de mais de 50 casos fatais ou de crianças e adolescentes gravemente feridos, com idades entre 7 e 18 anos, decorrentes desse tipo de ação criminosa.
Entre as recomendações dos pediatras para evitar fatalidades entre as crianças e os adolescentes, a SBP destaca a importância da atualização da comunidade médica e especialmente dos pediatras sobre orientações a respeito da prevenção dos riscos e da segurança on-line em cada consulta. Também é fundamental a conscientização sobre os riscos on-line para os educadores escolares, psicólogos e profissionais da área de saúde mental que trabalham com crianças e adolescentes em diferentes comunidades e circunstâncias.
O documento ressalta, ainda, que os pais são os responsáveis legais e morais pelos cuidados de seus filhos. Por isso, precisam estar presentes na supervisão de suas atividades nas redes digitais, com regras claras na convivência diária sobre segurança, privacidade, bloqueio de mensagens inapropriadas, violentas ou discriminatórias, que possam causar danos físicos ou mentais, e com a orientação para a não-prática desses desafios.
A proteção da saúde física e mental da criança e do adolescente no ambiente virtual é também uma prioridade da SBP. No ano passado, o GT Saúde na Era Digital da entidade publicou também a nota de alerta “#Drogas digitais: Riscos auditivos”, na qual especialistas abordam especificamente o i-doser, uma plataforma digital que se tornou popular entre os jovens e que utiliza sons de batidas eletrônicas e zumbidos de alta frequência, além de estímulos visuais, que “podem causar alucinações”, embora ainda não haja comprovação científica.
Alguns meses antes, também lançou o guia prático de atualização “#Sem Abusos #Mais Saúde”, que abordou a necessidade de se atentar ainda mais aos cuidados com os pequenos durante o isolamento social, vivido à época por conta da pandemia de covid-19. Também com foco nas consequências da pandemia, e com o objetivo de minimizar os impactos do uso excessivo da tecnologia, a SBP lançou publicações para orientar pais e responsáveis sobre como conciliar a rotina de crianças e adolescentes com a utilização saudável de smartphones, computadores e tablets. Clique aqui e aqui para ler os documentos.
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