A importância da relação cotidiana entre escola e família para o desenvolvimento das crianças

Na relação cotidiana com as famílias, as escolas precisam transitar entre estímulo à participação ativa e delimitação de papeis na educação

Por Ana Paula Yazbek* Publicado em 05/09/2024, às 06h00

Escolas e famílias devem estar alinhadas -

Quando falamos sobre a importância da relação entre escola e família, devemos, primeiramente, especificar as diferenças de responsabilidades entre cada uma das partes na educação das crianças. Educar os filhos é um projeto a longo prazo, carregado de afetos, dúvidas, desejos, projeções e expectativas. Já educar alunos é um projeto circunscrito, com metas e objetivos definidos, com papeis e limites estabelecidos.

Dito isso, precisamos considerar os pontos de intersecção. Tanto no ambiente familiar como no escolar, devemos considerar as subjetividades de cada indivíduo. Numa escola em que a educação integral compõe seu projeto pedagógico, além do compromisso didático, ela deve assumir compromisso com o bem-estar físico e emocional das crianças, criar um ambiente seguro que promova autonomia e estabelecer parceria com as famílias para que a crianças percebam que existe uma continuidade de existência entre “casa-escola-casa".

Quando pensamos no trabalho da Educação Infantil, a presença dos familiares é essencial para o acolhimento das crianças. No início da vida escolar, é importante que as crianças vejam que seus pais e mães conhecem e sentem-se seguros em deixá-las na escola com os professores e professoras. Quando pensamos no Ensino Fundamental, a parceria e contato cotidiano é extremamente necessário. As famílias ficam mais seguras e se predispõem a cooperar quando percebem que seus filhos são reconhecidos como indivíduos.

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Uma pesquisa sobre motivação desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna, em 2021, apontou que o envolvimento dos pais e mães nas atividades escolares dos filhos traz resultados positivos, independentemente do contexto socioeconômico em que estão inseridos. Entre eles, maiores indicadores de engajamento estudantil, tornando crianças e jovens mais autoconfiantes, auto eficazes e motivados para aprender.

O mesmo estudo sugere que, quando os cuidadores participam de reuniões com professores, apresentações e de outras atividades da escola, mostram para seus filhos o quanto são importantes para eles. Além disso, quando estudantes percebem que seus pais e mães valorizam a importância do esforço e do sucesso acadêmico, eles passam a acreditar mais na sua competência como aluno. Isso é especialmente benéfico na adolescência, período em que ocorre maior risco de distanciamento da escola e adoção de comportamentos de risco para a saúde mental.

Diálogos e limites

Diante disso, fica evidente o quanto é importante que as escolas abram espaço de interlocução com as famílias. Tanto nas situações corriqueiras, do cotidiano, quando pais e mães levam e buscam seus filhos e filhas nas escolas e são bem recebidos por toda a equipe, - desde a portaria até a sala da direção, se for o caso -, como em momentos formais, como as reuniões de famílias ou a organização de comitês.

Vejo a prática cotidiana de acolher as famílias como a melhor estratégia para o estabelecimento das parcerias. A escola deve criar instâncias de participação claras: encontros temáticos com especialistas, fóruns de discussão, conversas cotidianas, reuniões individuais e reuniões de famílias periódicas.

Há, entretanto, alguns limites nessa participação.

É preciso considerar que, na escola, a criança explora seu papel como sujeito e não como “filho”. Isso é essencial para o desenvolvimento das crianças. Nessa experimentação, os conflitos, parcerias e desafios, em certa medida, precisam ser mediados sobretudo pelos educadores e educadoras. Quando uma dificuldade ou conflito se torna recorrente ou está causando algum tipo de sofrimento nas crianças, aí a presença e parceria com as famílias se torna fundamental.

Além disso, quando a criança apresenta algum tipo dificuldade de aprendizagem, cabe a escola assumir boa parte da responsabilidade para ajudá-la a superar. A escola pode compartilhar com as famílias algumas estratégias e, eventualmente, indicar especialistas (terapeutas/psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, entre outros) para auxiliar e acompanhar a criança e construir uma triangulação efetiva entre escola-família-especialistas.

É por isso que professores e professoras têm papel fundamental e devem investir na construção de um vínculo de confiança com os pais e mães. Devem cuidar da troca de informações sobre como estão as crianças, partilhando conquistas, vivências, fatos corriqueiros e não apenas os problemas, como usualmente se faz. As famílias, por outro lado, devem compreender, valorizar e confiar no papel que esses educadores estão desenvolvendo.

*Ana Paula Yazbek é mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em educação de crianças de zero a três anos pelo Instituto Singularidades, e diretora do Espaço Ekoa, em São Paulo.

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