A advogada Silvia Piva comenta a importância da reflexão sobre autorresponsabilidade e impactos das ações online
Sílvia Piva* Publicado em 27/02/2024, às 06h00
Falar de empoderamento dos jovens na era tecnológica pode parecer redundante, visto que a maioria já cresceu com a internet embutida em seu cotidiano. Abordar essa temática, no entanto, vai muito além de discutir sobre o acesso à internet ou à facilidade de uso dos aplicativos.
O foco dessa discussão, no entanto, é introduzir o conceito de autorresponsabilidade digital, uma noção que desafia a nova geração a desenvolver uma consciência crítica sobre seu trajeto no ambiente digital. Não se limita, portanto, ao conhecimento técnico: a autorresponsabilidade convoca os jovens a refletir sobre o impacto de suas ações online e suas decisões frente aos avanços da inteligência artificial (IA), considerando as consequências para si mesmos, seu futuro profissional e a sociedade em geral.
A compreensão desses impactos é concretizada por meio da educação, do diálogo e de um processo reflexivo contínuo, incluindo repertório para que os jovens detenham o conhecimento necessário para fazer escolhas informadas e éticas. Assim, eles se tornam muito mais do que usuários digitais e sim jovens críticos e conscientes, prontos para enfrentar os imensos desafios futuros trazidos pelas novas tecnologias.
Além disso, a era digital exige que os jovens empreguem a tecnologia de forma produtiva e inovadora, encorajando-os a transcender o papel de consumidores passivos de conteúdo. Contudo, essa transformação exige uma bússola filosófica. É neste ponto que introduzo a tecnofilosofia como um estímulo adicional para a reflexão dos jovens sobre o contexto tecnológico. Engajar-se com questões filosóficas permite que explorem profundamente as ramificações de suas escolhas tecnológicas, não apenas exercitando o pensamento crítico, mas também compreendendo as implicações mais amplas dessas decisões.
Hans Jonas, em "O Princípio Responsabilidade", nos incentiva a considerar as repercussões éticas e sociais de nossas escolhas tecnológicas. A tecnofilosofia, portanto, abre caminho para uma análise crítica do papel da tecnologia em nossas vidas, destacando como ela, quando orientada por valores éticos, pode ser um vetor de transformação social tanto individual quanto coletiva.
Para tornar esses conceitos tangíveis na vida dos jovens, podemos iniciar com passos simples: promover discussões sobre o papel da tecnologia e seus desafios, ensinar os jovens a discernir informações confiáveis das falsas online, enfatizar a importância da proteção de dados pessoais, bem como fazer escolhas por tecnologias que aprimorem seu conhecimento de forma saudável. Essas ações fomentam um uso da tecnologia que beneficia o desenvolvimento pessoal e estimula ações positivas.
Integrando a tecnofilosofia no cotidiano dos jovens, os preparamos para ser mais do que meros usuários digitais, transformando-os em cidadãos globais conscientes, prontos para moldar positivamente o futuro digital, e assim construir um mundo onde a tecnologia reflete os valores mais nobres da humanidade.
Jovens conscientes do seu papel diante da tecnologia podem promover, no médio prazo, o direcionamento da tecnologia para o bem, assegurando que as inovações sirvam para enriquecer nossas vidas e a sociedade, ao invés de desencadear consequências indesejáveis. Eles se tornam peças-chave na construção de um futuro em que a tecnologia, guiada por uma profunda consciência ética, contribui para o bem-estar coletivo e o desenvolvimento sustentável de toda a sociedade.
*Sílvia Piva é advogada, Doutora em Direito do Estado pela PUC-SP, Pesquisadoria do IEA-USP sobre IA responsável, fundadora da Nau d´Dês.
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