Estudos mostram que o consumo dos pais pode influenciar o hábito dos filhos, mas determinadas ações podem minimizar risco da experimentação
Mariana Thibes* Publicado em 06/12/2023, às 06h00
Um novo estudo publicado na revista científica Journal of Adolescent Health reforça as evidências científicas de que o consumo de álcool dos pais influencia o hábito dos filhos. Conduzido por pesquisadores do Programa de Álcool dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), o estudo descobriu que adolescentes cujos pais bebiam regularmente ou em excesso tinham quatro vezes mais probabilidade de beberem sozinhos.
No Brasil, apesar de a legislação proibir o consumo de álcool antes dos 18 anos, 6 em cada 10 estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram bebida alcoólica e as meninas apresentam prevalência superior ao dos meninos. Além do período escolar, esse primeiro contato com o álcool acontece, em geral, em reuniões familiares com consentimento ou influência de pais ou parentes, conforme apontou pesquisa do Ipec.
Por outro lado, pesquisas científicas também mostram que determinadas atitudes dos pais são capazes de proteger os filhos do uso nocivo e pesado de álcool na idade adulta, e de seu consumo precoce, ou seja, antes da idade permitida. Então, quais seriam essas ações que poderiam minimizar o risco de experimentação por crianças e adolescentes?
Gosto de lembrar os pais e responsáveis que não existe uma fórmula certeira e que nem sempre é uma tarefa simples, mas algumas atitudes podem fazer a diferença e vale a pena lançar mão delas para prevenir o consumo precoce de álcool:
1. Seja exemplo: crianças e adolescentes imitam o comportamento daqueles que amam e admiram, especialmente pais e familiares. Por isso, o consumo frequente e intenso de bebidas pelos responsáveis e o compartilhamento de vivências pessoais com bebidas alcoólicas (brincando ou rindo dessas experiências) podem aumentar o risco de uso nocivo de álcool pelos filhos, criando expectativas positivas e normalizando esse tipo de comportamento.
2. Não permita o consumo de álcool por menores de 18 anos: ao contrário do que muitos acreditam, quando os pais ou responsáveis deixam bebidas alcoólicas acessíveis ou permitem o seu consumo em casa, os adolescentes têm mais chances de começar a beber mais cedo ou desenvolver problemas relacionados ao álcool.
3. Converse com seu filho sobre álcool: o diálogo aberto e amigável é uma importante ferramenta na proteção de crianças e adolescentes. Para essa conversa é importante mencionar como o álcool age no organismo e os prejuízos para a saúde, por isso mantenha-se informado sobre as consequências negativas do exagero do consumo, como perda do autocontrole, envolvimento em casos de violência ou acidentes, esquecimento do que aconteceu e o risco de desenvolver a doença do alcoolismo.
4. Estabeleça regras e limites: adolescentes cujos pais têm regras rígidas e claras quanto ao consumo de álcool são menos propensos a beber. Posicione-se de maneira clara e firme em relação ao assunto e estabeleça possíveis punições caso as regras sejam desrespeitadas. Explicar as razões da sua decisão é uma forma de ajudar o seu filho a desenvolver a própria capacidade de tomar decisões com base em informações.
5. Participe da vida do seu filho: o fortalecimento do vínculo e a construção de uma relação de parceria e confiança são importantes para a prevenção do consumo precoce de álcool. Mesmo que esteja muito ocupado, arranje tempo para falar com seus filhos e diga que estará disponível caso necessitem de alguma coisa. Você deve garantir abertura e confiança entre vocês. Para isso, promova atividades em família, conheça os assuntos de interesse do seu filho e procure sempre saber onde seus filhos estão e com quem, o que estão fazendo e como estão se comportando.
A mudança da infância para a vida adulta não é um processo fácil, é complexo e pode gerar conflitos. Manter-se firme nessas atitudes e prevenir o consumo precoce de bebidas alcoólicas, no entanto, trará benefícios para a saúde de crianças e adolescentes de curto a longo prazo.
*Mariana Thibes é socióloga e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. Possui doutorado em Sociologia pela USP e pósdoutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP.
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