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Razões para levar a brincadeira a sério

Leticia Lyle fala sobre a importância da brincadeira para as crianças

Leticia Lyle* Publicado em 21/10/2023, às 06h00

Brincar deve ser direito de toda criança
Brincar deve ser direito de toda criança

Passado o frenesi da semana da criança e a inundação de registros pelas redes sociais, com estudantes fantasiados, cabelos malucos e muita diversão, é hora de olhar para essa semana atípica e pensar: Por que trazemos a brincadeira para as vidas das nossas crianças e adolescentes com tanta intensidade como nos dias que antecedem o 12 de outubro?

A relação entre brincar e aprender é um dos aspectos mais fundamentais do desenvolvimento infantil. Foi Albert Einstein quem cunhou uma das frases que considero uma máxima para o olhar que a escola precisa e pode ter sobre o brincar: "A brincadeira é a mais elevada forma de pesquisa".

As palavras de Einstein ecoam verdadeiramente quando se trata de compreender como as crianças aprendem e se desenvolvem enquanto brincam. A ciência da aprendizagem já há muito tempo vem destacando consistentemente o papel crucial da brincadeira no desenvolvimento cognitivo, social e emocional das crianças.

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A brincadeira não é uma maneira de passar o tempo; é uma via de exploração e educação. Quando as crianças brincam, estão engajadas em um processo ativo de descoberta, onde aprendem sobre si mesmas, os outros e o mundo que as cerca. Através da brincadeira, as crianças praticam habilidades, experimentam o que estão aprendendo e desenvolvem uma compreensão mais profunda do ambiente que as rodeia.

Brincar amplia as possibilidades de futuro

A brincadeira oferece um terreno fértil para o desenvolvimento de diversas habilidades essenciais. Por exemplo, quando as crianças constroem castelos de blocos, estão desenvolvendo habilidades motoras finas, coordenação e raciocínio espacial. Quando brincam de faz de conta, estão explorando a imaginação e praticando habilidades sociais, como compartilhar, colaborar e negociar papéis. A resolução de quebra-cabeças desafia seu pensamento lógico e cognitivo. Cada tipo de brincadeira oferece oportunidades únicas para o crescimento e a aprendizagem.

O benefício extra de explorar o mundo de um lugar seguro

Além de todas as habilidades cognitivas sendo mobilizadas, a brincadeira desempenha um papel fundamental no desenvolvimento socioemocional das crianças, pois permite que elas expressem suas emoções, compreendam e gerenciem seus sentimentos. Brincar de faz de conta, por exemplo, pode ajudar as crianças a lidar com situações difíceis e complexas, permitindo-lhes processar emoções e experimentar diferentes cenários. É uma forma segura e criativa de explorar o mundo emocional.

Assim, a brincadeira também é uma forma de empoderar as crianças a se tornarem aprendizes ao longo da vida. Já que, ao serem convidadas a se adaptar a novos ambientes, enfrentar desafios desconhecidos e testar parcerias, estão percorrendo uma jornada completa de aprendizagem e desenvolvimento.

O brincar do adulto não é o mesmo da criança

Como pais, educadores e mentores, temos a responsabilidade de criar um ambiente que promova a brincadeira e o aprendizado como parceiros inseparáveis. Devemos incentivar as crianças a sonhar grande, a explorar, a fazer perguntas e a buscar respostas. Devemos apoiá-las em sua jornada de descoberta e, tudo isso, requer muita maturidade.

Quando somos convidados a brincar com as crianças, isso significa estar junto, nos deixarmos inebriar pela curiosidade e pela descoberta do olhar infantil sobre o mundo. Mas, para que todos aprendam, é fundamental que a entrada do adulto na brincadeira seja diferente da entrada da criança. É responsabilidade do adulto garantir segurança e boas experiências em contextos brincantes. Cabe a nós oportunizar um mundo repleto de narrativas e referências diversas e plurais.

Brincar deve ser direito de toda criança

Por fim, temos que levar a brincadeira a sério porque entendemos que ela não é um luxo, mas uma necessidade para o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes. Cabe a nós garantir que elas tenham tempo e espaço dedicado à brincadeira. Cabe a nós a indignação diante da impossibilidade de brincar que assola tantas crianças no Brasil e no mundo. Garantir que elas brinquem é garantir que o nosso futuro vai ser melhor do que qualquer presente.

*Leticia Lyle é diretora pedagógica da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe.