Rede de apoio tem papel fundamental para o sucesso do aleitamento materno, especialmente para bebês hipotônicos
Dra. Mônica Vilela Carceles Fráguas* Publicado em 15/08/2024, às 06h00
Os benefícios do leite materno já são bem conhecidos. As crianças que são amamentadas têm melhor desenvolvimento cognitivo, menor risco de obesidade, diabetes e até mesmo de leucemia. Já os bebês que não recebem leite materno têm mais risco de contrair pneumonias, otites e diarreia. Nem sempre o início da amamentação é fácil e alguns bebês podem ter mais dificuldades do que outros. Vários fatores influenciam para que a mamada comece e evolua bem. Um deles é a prontidão do bebê para sugar, ou seja, ele precisa procurar pelo peito da mãe, abrir bem a boca, abocanhar e manter uma boa sucção e deglutição efetivas.
Quando o parto acontece entre 39 e 40 semanas o recém-nascido já está bem maduro e, em geral, procura o peito com vontade e suga bem. Enquanto aqueles que nascem com 37 a 38 semanas, apesar de serem considerados de termo, ou seja, não serem prematuros, podem ser mais sonolentos e demorarem dias para mamar com eficiência. Os prematuros, bebês que nascem com 36 semanas ou menos, geralmente são menos ativos, mais sonolentos, tem a sucção irregular e mais fraca. Nestes casos, as mães precisam de mais ajuda nos primeiros dias.
Além disso, recém-nascidos com síndromes que tenham em seu quadro clínico alterações neurológicas, por exemplo, crianças com Trissomia do cromossomo 21 (Síndrome de Down), ou com doenças neurológicas, podem ser hipoativos e hipotônicos, ou seja, o tônus muscular é menor, e são mais molinhos. Consequentemente, acabam buscando menos o seio materno e sugam com dificuldade. Por isso, é muito importante identificar o bebê que tem dificuldade para sugar para tentar prevenir problemas como hipoglicemia, desidratação, perda de peso excessiva, hiperbilirrubinemia (acúmulo de um pigmento, chamado de bilirrubina, que é excretado pela bile) e reinternação.
Ainda que o recém-nascido não consiga sugar bem ele precisa ser alimentado e algumas medidas podem ser realizadas para ajudar neste processo e garantir que ele receba o leite materno, que proporciona tantos benefícios para o binômio mãe e bebê. Uma das primeiras ações que pode contribuir é o contato pele a pele na primeira hora de vida que deve ser incentivado sempre que houver condições. Esse contato com a mãe pode estimular e despertar o bebê, além de aumentar a produção de leite. Além disso, ele pode ser feito em qualquer momento, não somente na primeira hora. Em alojamento conjunto, a mãe pode, sempre que quiser, colocar o bebê somente de fralda em contato com a pele de seu abdome e tórax. Na UTI Neonatal este método é usado com frequência e se chama método Canguru.
Neste processo a mãe precisa ter ajuda para posicionar e colocar o bebê no seio e uma equipe bem treinada em amamentação pode mostrar como despertá-lo, mostrar posições diferentes e auxiliar na pega. Outro ponto que deve ser destacado é a importância de ordenhar o colostro com regularidade para garantir a alimentação do recém-nascido. Se o bebê não sugar, para manter a produção, as mamas devem ser ordenhadas pelo menos a cada três horas pois a produção depende da retirada do leite das mamas. Durante a sucção, a mãe pode ordenhar a mama aumentando a saída de leite, facilitando a mamada.
As mamadas dos bebês hipotônicos são, em geral, mais longas, portanto, uma rede de apoio, tem papel importante ajudando em casa e nos cuidados com o lactente. A sucção do prematuro tende a melhorar em alguns dias ou semanas, já a dos bebês hipotônicos com alguma síndrome ou alteração neurológica poderá levar algumas semanas ou meses.
Para finalizar, a família, os amigos e o companheiro ou companheira têm papel fundamental nessa caminhada. Respeitar esse momento e reconhecer as particularidades de cada bebê é essencial para um processo saudável e empático.
* Dra. Mônica Vilela Carceles Fráguas, pediatra e neonatologista do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista e consultora de lactação certificada pelo IBCLC