Uma narrativa poética sobre a transformação e a busca pela liberdade de uma mariposa em meio à natureza
Rosangela Nascimento* Publicado em 24/06/2025, às 06h00
Era verão, não se sabe ao certo o mês e ano, estava deitada na rede, dormia relaxadamente via tudo do alto, entre um balanço e outro, podia sentir o vento batendo levemente em seu corpo dormente. As plantas do quintal estavam viçosas, alegrando o ambiente.
De repente, percebeu que estava em movimento. Porém, não sentia suas pernas caminhando. Tentava mover os braços e de suas costas algo que se movia com muita velocidade. Nada entendia, fechou os olhos e se locomovia rapidamente.
Um reflexo diante de uma poça d’água via uma linda Mariposa, com asas enormes ereluzentes. Demorou a perceber que aquela Mariposa era ela de fato. Como isso é possível? Não conseguia compreender, na vida sempre acontece fatos que são difíceis de explicar.
Partiu num voo longo, à procura da rua da Misericórdia número desconhecido em lugar inexistente. Percebeu que quanto mais longe ia nada entendia. Resolveu parar de fugir e aceitar a verdade, a metamorfose, assim convivendo com a natureza e seu entorno.
Logo fez amizade com as primas borboletas, e, como na realidade, há diferença por toda parte. Logo ela faladeira, nasceu sem a boca, algumas mariposas nascem assim, não precisam comer.
Algo estranho acontecia, borboletas e mariposas voavam a se esconder, um predador se aproximava, e lá se vai à luta para sobreviver. Camufladas, escondidas esperavam o perigo passar. Esse perigo é constante, pois os predadores são inúmeras formigas, aranhas, sapos, louva-deus... Ufa!
Aliviada, resolveu sobrevoar outros ambientes e nem sabia ao certo para aonde ir. Assim, viaalguns parentes e como estavam. Diante das superstições alguns, a afugentaram com sustos. Outras felizes ficaram diante da bela Lepidóptera, que procurava um foco de luz. Com a luminosidade abriu suas asas e aquela sensação era incrível!
Tão incrível era a liberdade que um dia teve, esse sentimento permaneceu, à frente dequalquer desafio da cadeia alimentar. A natureza é ampla em todos os sentidos e suaperfeição aproxima ao universo poderoso, divindades chamadas Deus, Olorum, Alá...Essa divindade poderosa era o que dava sentido a tudo, tudo mesmo!
O decesso é recorrente, e, não se percebe quando se anula ou permite que outras pessoas tirem seu direito de ir e vir. Não se percebe, pois, a vida é tão intensa que se acredita que tudo passa. Aprender a viver um dia após o outro é uma receita válida. Para nascer algonovo, tem que deixar ir perder para ganhar. O ciclo da natureza sempre segue como numa ciranda, um passo na frente cruzando e descruzando.
A vida é efêmera, assim se foi a Mariposa num voo entre luzes!
*Rosangela Nascimento é uma escritora negra brasileira que tem se destacado na literatura afro-brasileira. Graduada em Letras (FACHO) e Comunicação Popular (UFAPE), é extensionista em Literatura Afro-Latino-Americana e Caribenha pela UFRGS e possui formação em Direitos Humanos. Poetisa, blogueira, educadora e pernambucana radicada no Rio Grande do Norte, é responsável pela Biblioteca Comunitária Auta de Souza e membro da União das Mulheres de Tibau do Sul.
Sua estreia na literatura se deu por convite do grupo Quilombhoje, integrando os volumes 38 e 39 da série Cadernos Negros. Participou de eventos importantes, como o 4º Festival de Literatura Negra, ao lado de autoras negras renomadas. Sua primeira obra autoral, Mariposa Negra, publicada pela Editora Triluna, aborda temas centrais como discriminação racial, gênero e classe.
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