Desde os 12 anos, eu falava que queria ser “escritora” - hoje, escrever faz parte de toda a minha vida.
Laura Redfern Navarro* Publicado em 30/10/2025, às 06h00
Jornalista. Pesquisadora. Poeta. Estas são as palavras que uso quando me apresento, quando envio um currículo ou quando me perguntam o que faço da vida. É curioso perceber como todas essas funções têm, como principal tarefa, escrever. Acho que isso diz muito sobre mim.
Para falar a verdade, a minha jornada com o amor às palavras começou cedo.
Aos 12 anos, eu fazia longas viagens de carro com a minha família e, para não ficar entediada, lia - ou melhor, devorava os títulos infanto-juvenis que recomendavam nas listas de férias da escola. Esse contato inicial intenso com a leitura fez com que eu me apaixonasse por histórias e, aquariana que sou, logo comecei a fantasiar em contar, eu mesma, novas histórias.
Foi aí que eu comecei a responder “eu quero ser escritora” para os adultos que me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse. E eu levei esse desejo muito a sério.
Em pouco tempo, eu já passei a usar o intervalo das aulas para escrever poemas, além de carregar pastas com papéis sulfite para anotar alguma ideia nova. Essa foi uma época muito produtiva para a minha escrita, que permaneceu como hábito durante a adolescência.
Como qualquer jovem, eu tinha curiosidade por temas complexos, mórbidos e pesados - lembro-me nitidamente da primeira vez que li A redoma de vidro, de Sylvia Plath, ou os poemas de Augusto dos Anjos. Eu tive blogs, também - e muitos! - onde publicava poemas, contos, resenhas e textos de opinião.
Nesta época, eu já tinha entendido que eu realmente queria ser escritora - não era só um hobby. Eu tinha rotina, meta, aspiração. Meus pais sempre buscaram me apoiar, por sorte, e passaram a permitir que eu frequentasse cursos livres em espaços como a Casa das Rosas, onde conheci meu primeiro “mentor”, o escritor e cineasta Donny Correia, que não só acompanhou a minha produção como me abriu portas para o mercado editorial.
A partir daí, meu sonho começou a tomar forma. Aos 16 anos, publiquei meu primeiro livro de poemas. Aos 18, meu primeiro romance. E, aos 19, ingressei na faculdade de jornalismo - eu queria escrever em uma coluna cultural.
Confesso que os dois primeiros livros são trabalhos dos quais não me orgulho tanto, que ainda não apresentam um fluxo e um estilo de escrita definido e afinado. Já com o jornalismo, a vida foi acontecendo, e hoje eu trabalho majoritariamente com assessoria de imprensa, embora também faça freelas de crítica cultural.
O meu amadurecimento como escritora se deu, curiosamente, durante a pandemia. Privada do contato com o outro, mergulhei intensamente em mim mesma e nos livros. Criei o @matryoshkabooks, uma plataforma para falar de livros e trazer meus experimentos com a escrita criativa. E eu cresci muito nesse processo - não falo de seguidores, mas de olhar, de ler, de escrever.
Aos 22 anos, quando estava concluindo a graduação, recebi uma das maiores notícias da minha vida até agora: havia vencido, em primeiro lugar, o ProAC (Programa de Ação Cultural do governo do Estado de São Paulo) com o livro de poemas e fotografias O Corpo de Laura. Logo, passei o ano de 2023 inteiro compondo e realizando cada uma das etapas do projeto, que foi publicado pela Mocho Edições.
Após essa obra, enfrentei um período conturbado com relação à criatividade. A dedicação tão forte me levou à exaustão. Fiquei um ano praticamente sem escrever.
No início de 2025, ingressei no Mestrado em Literatura e Crítica Literária da PUC-SP, com uma pesquisa focada em Alejandra Pizarnik e a estética digital dos Liminal Spaces, e tive a ideia de iniciar esse processo desdobrando minhas ideias em torno do tema para a poesia. Era o jeito, que eu encontrei, de compreender melhor a complexidade daquilo tudo - pensando, também, em uma publicação nova, que trouxesse um frescor acerca do que eu vinha compondo e criando.
Foi assim que surgiu minha nova plaquete, um sonho lúcido, que está sendo publicada pela editora Orlando.
As pessoas não imaginam a felicidade que é ter uma publicação nova, um livro ou um texto materializado. Não é sobre publicar por publicar: é sobre ter a sensação de que estou concretizando o sonho da Laura criança.
Talvez escrever sempre tenha sido isso: a forma que encontrei, desde os 12 anos, de dar sentido ao que sou.
*Laura Redfern Navarro é poeta, jornalista de formação e pesquisadora.
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