Dia Internacional dos Povos Indígenas: conheça os originários de Sergipe

Descubra a rica história e cultura dos povos originários de Sergipe, que resistem e lutam pela preservação de suas tradições

Díjna Torres* Publicado em 09/08/2025, às 06h00

Heloá, Pawanã Crowdy Kariri-Xocó e Danne Hinch - Foto: Francielle Nonato

O menor estado do país é também um dos que mais teve seus povos originários extintos ou exilados de suas terras durante o duro processo de colonização do Brasil. E é diante desta informação, que para celebrar o dia 09 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1994 para homenagear e reconhecer a importância dos povos indígenas em todo o mundo, falaremos sobre os povos originários de Sergipe, como forma de reconhecer os donos da terra e buscar promover a conscientização da população sobre a importância e a influência das aldeias em nossos modos de vida.

Atualmente no estado, destacam-se a aldeia Xokó, localizada no município de Porto da Folha, na Ilha de São Pedro, à beira do Rio São Francisco, e a aldeia Fulkaxó, com terras nos municípios de Pacatuba e Neópolis. Além dessas, a aldeia Kariri-Xocó, localizada no município de Porto Real do Colégio, estado de Alagoas, também convive em Sergipe por estar localizada na divisa com o estado, e fazer parte da história dos povos originários desta terra.

 

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“Kariri-Xocó é a junção de dois povos no lado de Alagoas, do outro lado do rio Opará, existiam os Kariri, e no lado sergipano, os Xocó. Apesar de nosso território estar no lado de Alagoas, temos uma relação muito próxima com Sergipe. Aracaju, a capital, foi a primeira cidade que conheci fora da aldeia, então nós temos essa relação com Sergipe. É importante saber também que independente de onde estamos geograficamente, a nossa luta é a mesma dos nossos parentes”, afirmou o pajé Pawanã Crody Kariri-Xocó.

Para Cacique Bá, da aldeia Xocó, há uma grande preocupação em manter a aldeia que foi construída por seus ancestrais, onde praticam sua cultura e tradições e toda a vida que pertence a esse bioma, que é a caatinga sergipana. “Muito se fala sobre a Amazônia, então eu digo que aqui é nossa Amazônia, a nossa Caatinga, esse bioma tão rico, essa mata que nos alimenta, nos inspira, nos renova. Por isso é importante que a gente fale sobre nosso território e leve a nossa história para que todos possam conhecer”, disse o cacique.

 

Originários: Primeira série sobre os povos indígenas de Sergipe

E para que a história dos povos originários de Sergipe circule por todo o país e também fora dele, com recursos da Lei Paulo Gustavo, a partir do Edital de Chamamento Público nº. 06/2023 - Tarcísio Duarte, para apoio a produção de obras audiovisual, será lançada Originários, a primeira série indígena sergipana.

Cacique Bá, da Aldeia Xocó e Héloa Foto: Francielle Nonato

 

A série conta com 6 episódios relatando histórias e narrativas contadas a partir da ótica dos povos originários e das aldeias que resistem em solo sergipano. A direção é feminina, com as diretoras Héloa e Danne Hinch, que desde o início deste ano percorrem os territórios das etnias Xokó, Kariri-Xocó e Fullkaxó, ouvindo lideranças, histórias de luta, de tradição, repleto de musicalidade, cores e belezas desses povos que vivem à margem do Rio São Francisco, conhecido pelos povos indígenas como Opará, para trazer ao público a narrativa histórica e cultural a partir da perspectiva dos donos da terra.

De acordo com a diretora e produtora executiva da série, Danne Hinch, um dos pilares do projeto Originários é romper com a lógica tradicional dos estudos acadêmicos, que historicamente moldaram a representação dos povos indígenas a partir de olhares externos.

“Em vez disso, optamos por escutar diretamente quem tem o direito e o lugar de fala: os próprios povos originários. A proposta é abrir espaço para que suas vozes, histórias, características e formas de existência conduzam a narrativa, sem filtros ou interpretações alheias” (Danne Hinch).

Para Danne, o processo de gravação junto à equipe foi de grande aprendizado e isso será refletido ao longo dos episódios que serão lançados no início do próximo ano. "Nosso caminho foi guiado pelo respeito e pela escuta. Fomos conhecer essas histórias contadas por eles mesmos, mergulhar em seus mundos, sentir suas presenças e nos conectar verdadeiramente.

Equipe em Xocó Foto: Francielle Nonato

 

Ouvir cada liderança, acompanhar momentos do cotidiano, presenciar rituais e expressões culturais nos permitiu registrar um material de extrema riqueza e sensibilidade. O resultado é uma obra que convida o público a uma imersão profunda nas tradições, modos de vida e espiritualidades desses povos — um encontro com a força viva da ancestralidade, concluiu. Vale lembrar que a primeira edição do projeto

Originários ocorreu em 2020, em meio a pandemia, gravada e produzida de maneira remota, sob a direção de Danne Hinch e Héloa, com a exibição na Aperipê TV. Héloa também foi quem conduziu as entrevistas com os protagonistas do programa, 8 indígenas das etnias Xokó (SE), Kariri-Xocó (AL), Xukuru (PE), Tukano (AM), Pataxó (BA), Tapajó (PA) e Kalapalo (Xingu).

Com o financiamento da Lei Paulo Gustavo, a série ganha uma abordagem cinematográfica e desenvolve de maneira mais profunda a relação das etnias e o território sergipano, retratando aspectos importantes da luta e vivências indígenas, a partir também da história da retomada ancestral da artista e ativista Héloa, entrelaçando trocas e saberes ancestrais.

“Devemos falar sobre os povos indígenas a todo momento, não somente no abril e no agosto indígena, e a série vem também com essa perspectiva de abordagem para ser difundida de maneira ampla, educativa, informativa e, principalmente, respeitosa com a história daqueles que são os donos da terra e que cuidam tão bem dela. Em tempos de PL da Devastação, é preciso trazer à tona cada vez mais a importância dos povos originários para a preservação da vida”, destacou a diretora e multiartista Héloa.

 

*Díjna Torres é jornalista e pesquisadora sergipana. Atua com temáticas de Direitos Humanos, Primeira Infância e questões socioambientais.

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