Reflexões maternas: navegando pelos altos e baixos da jornada que a maternidade me apresentou
Bianca Aichinger* Publicado em 13/05/2024, às 06h00
Quase 15 anos depois de ter me tornado mãe pela primeira vez, olho pra trás e vejo que a maternidade foi um elemento impulsionador do meu crescimento pessoal. Este processo, que foi até mais doloroso do que o ato de trazer crianças ao mundo, trouxe grandes reflexões, autoconhecimento, e me permitiu desenvolver habilidades antes desconhecidas.
Neste artigo e reflexão, compartilho um pouco do que aprendi nesta jornada, esperando que possa trazer insights e mudanças positivas para outras mulheres, que ainda estão no meio da tempestade.
1. Terceirizar o que não agrega valor
Ao voltar dos Estados Unidos de mudança, com minha filha mais velha à tira colo, que tinha um ano à época, recebi um dos conselhos mais importantes da minha jornada de mãe que trabalha: “terceirize o que não te agrega valor”. Dar comida pro bebê me agrega valor, mas escolher os legumes que vão na sopa não.
Lá fui eu montar uma rede de apoio que me ajudou com as coisas que não gosto ou não sou boa, para que eu pudesse priorizar aquilo que era precioso para mim.
Tony Robbins, palestrante e escritor, disse que “para onde vai o foco, a energia flui. E onde a energia flui, tudo em que você se concentra cresce”. Na época não sabia quão importante este aprendizado seria, mas, ao refletir sobre como pude integrar maternidade e carreira, percebo como este foco proporcionado por esta reflexão foi
2. A culpa não leva à lugar nenhum
Por muito tempo vivi culpada. Não digo que senti culpa porque isso significaria que passei por momentos de culpa. Culpa por estar trabalhando. Culpa por não estar trabalhando. Culpa por estar com meus filhos. Culpa por não estar com meus filhos. Todo dia, toda hora, o mesmo sentimento pesando no meu peito. Até que fui a um evento corporativo em um resort que incluía também as famílias de outros executivos, organizado pela empresa em que meu marido trabalhava na época. De todas as esposas, eu era uma das únicas que trabalhava. E dentre as que trabalhavam, eu, sem dúvida, era aquela que mais trabalhava.
Eis que estávamos na piscina, e, ao observar outras famílias, me dei conta de que os filhos das mães que não trabalhavam não desgrudavam delas. Essas mulheres nem conseguiam conversar, pois o tempo todo tinha alguém pendurado nelas. Minhas filhas, pelo contrário, com 3 e 5 anos na época, corriam pra todo lado.
Exploravam os espaços, conversavam e brincavam com outras crianças, sorriam e curtiam. Esta observação me fez refletir bastante sobre como estava criando minhas meninas, e me questionar sobre toda a culpa que sentia. Se estavam seguras e felizes, estavam bem. Não tinha motivo para sentir culpa.
3. Mães felizes criam filhos felizes
A experiência da piscina me trouxe outro grande insight: fazer o que era bom para mim era bom para elas. Me cuidar e trabalhar me faziam bem. Mães que estão bem têm serenidade para cuidar dos seus filhos com amor e paciência e para focar no que é importante. Esta piscina foi um grande game-changer emocional pra mim, pois me deu liberdade pra tocar a minha vida de uma forma mais leve.
4. Rápido e devagar na carreira
Durante um evento corporativo, uns anos atrás, ouvi o Abílio Diniz falando que o importante era nunca parar. Naquele momento refleti sobre o meu percurso, e refleti que, se estava ali naquele dia, com 3 filhos incríveis, uma família e uma carreira executiva que me enchia de orgulho, foi porque eu nunca parei. Neste processo me permiti desacelerar em alguns momentos, estudei, trabalhei em um ritmo mais leve, refleti, mas estes períodos de desaceleração, sem nunca parar totalmente, sempre foram seguidos por momentos de muita ação e muito movimento, que teriam sido muito mais difíceis caso eu tivesse de fato pausado.
5. Autocompaixão não é um luxo ou uma fraqueza, mas uma necessidade
Eu sempre me cobrei muito, mas houve uma etapa da minha vida da mãe que trabalha em que eu me cobrava ser nota 10 em todos os aspectos da minha vida: maternidade, trabalho, casamento, como filha, com o cuidado da minha saúde. Passei uns bons anos sem parar, e sempre me sentindo insuficiente. Naquele momento, ser nota 7 em tudo (mesmo que o “tudo” fosse esse tanto de coisas) não era bom. Com minha transição de carreira, uns anos depois, aprendi a ter compaixão comigo mesma, e também conquistei clareza do que é importante.
Consigo, assim, me organizar de forma mais leve, e buscar o equilíbrio com um olhar mais gentil, e de mais longo prazo. Existirão semanas em que eu só vou trabalhar – nestes períodos preciso cuidar do meu sono. Em outras semanas, vou cuidar da minha família. E, em outras, terei mais tempo pra mim: vou ler e dançar como se fosse fim de semana. E assim a balança está sempre em movimento, mas com um balançar mais sereno.
6. Crianças têm muitos recursos
No primeiro dia do primeiro módulo da minha formação em coaching, em 2020, fui apresentada aos princípios da prática. O primeiro deles é: “as pessoas tem recursos”. Lembro como se fosse hoje da minha confusão ao final do dia, na volta pra casa. “Como assim, as pessoas não precisavam do meu direcionamento? Como assim eu não sou mais capaz que as outras pessoas?” Confesso que tive que desconstruir algumas coisas em que acreditava firmemente, e que guiavam meus comportamentos, para poder entender este princípio e colocá-lo em prática.
Neste processo, em que investi muita energia, entendi que ouvir e perguntar eram intervenções mais poderosas do que falar, e não só no trabalho com executivos: o mesmo se aplicava aos pequenos! Aprendi a escolher minhas batalhas e a tentar parar de impor minhas idéias e expectativas em casa, e de controlar tudo e todos.
Acho que, de todas as lições, esta foi uma das mais difíceis, porque requer muita prática, e porque nem sempre agimos com a razão. Quando bate o medo ou o cansaço, voltamos para o nosso padrão mais natural e instintivo, e, no meu caso, é neste ponto que deslizo.
7. Autoconhecimento: meus filhos trazem à tona o pior de mim
O senso comum prega que nossos filhos fazem com que nos tornemos nossa melhor versão. No entanto, o oposto da máxima também pode ser uma grande verdade, mesmo que não admitamos.
Aqui em casa não é diferente: oscilo entre uma mãe carinhosa e interessada, às vezes até divertida, e a Úrsula da Pequena Sereia: grosseira e mandona.
No entanto, o tempo e o autoconhecimento me permitiram entender meus padrões de comportamento, e desenvolver estratégias que me permitem passar mais tempo no meu lado luz do que no meu lado sombra. Hoje entendo o processo e meus gatilhos, e sou capaz de desarmar as bombas antes que elas detonem.
Uma dica para as mães (e quem não é mãe também) é: invista em seu autoconhecimento. Como dizem os estóicos, esta é a verdadeira fortuna.
8. Passa rápido, muito rápido
Quando os filhos são pequenos e nossos dias são uma repetição infindável de rotinas às vezes massacrantes e noites mal dormidas, pensamos que isto nunca vai acabar. No começo, há dias em que parece que a vida passa em slow motion.
Aí um dia você acorda e suas filhas estão do seu tamanho, e assim como você, adoram Coldplay e Harry Styles. O tempo passou, e, quando se olha para a frente, entende que só tem mais alguns anos com toda a trupe em casa. Logo irão todos pra faculdade, e teremos todo o tempo do mundo para trabalhar e desenvolver nossos hobbies.
Só de pensar que minha filha mais velha irá para a faculdade e sairá de casa em menos de 5 anos, meus olhos se enchem de lágrimas. Esta reflexão, que tenho com muita frequência, me permite estar presente e curtir cada minuto deste caos que é a grande família com adolescentes.
9. Somos exemplo
“Palavras comovem, exemplos arrastam” é um provérbio brasileiro que muito ouvi quando criança. Pois esta pílula de sabedoria é uma grande regra da educação de filhos: somos modelo de valores, de caráter, de comportamento. Somos observados o tempo todo, e somos o grande modelo copiado por nossos filhos. Não é à toa que outro provérbio brasileiro “o fruto não cai longe do pé” reflita uma grande verdade.
Depois de muito tempo vivendo o “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, no início da adolescência da minha filha mais velha entendi de fato a diferença entre estas duas formas de enxergar a educação dos filhos.
Portadora de uma comunicação pra lá de assertiva e direta, me assustei ao ver minha filha sendo grosseira com os irmãos (e comigo também). Ao chamar sua atenção, ouço que “se você fala assim, porque eu não posso usar o mesmo tom?”.
Não posso dizer que o exercício da comunicação gentil seja algo natural para mim, mas o desenvolvimento de uma comunicação mais leve e de uma escuta mais dedicada mudou a dinâmica das relações em minha casa. Ao ser mais intencional com meus comportamentos e, principalmente, comunicação, o ar que respiramos mudou, nossa família ficou mais harmoniosa e leve e nossas refeições, muito divertidas.
10. Desenvolver é diferente de ensinar
Ensinar é o ato de transmitir conhecimento, habilidades ou informações a alguém, fornecendo orientação e instrução sobre um determinado assunto.
Por outro lado, desenvolver alguém implica em um processo mais amplo e abrangente, que vai além da simples transmissão de conhecimento. Desenvolver alguém envolve ajudar essa pessoa a crescer, evoluir e alcançar seu potencial máximo. Isso pode incluir não apenas a transmissão de conhecimento, mas também o estímulo ao pensamento crítico, o fortalecimento das habilidades sociais e emocionais, o encorajamento da autonomia e da autoconfiança, e a promoção do autoconhecimento e da empatia.
Ensinar pode ser mais fácil, mas desenvolver é o que de fato faz a diferença. Quando apoiamos nossas crianças em seu desenvolvimento, seja com questionamentos que facilitem seu autoconhecimento, seja com provocações que facilitem o desenvolvimento de pensamento crítico, estamos apoiando o desenvolvimento de ferramentas que evoluem com o tempo, e que tem o poder de permitir com que nossos filhos sejam de fato independentes.
Na conclusão deste artigo sobre dicas de maternidade é crucial reconhecer que a jornada da maternidade é única e cheia de desafios, mas também de momentos de grande alegria e realização. Ao longo do texto, exploro diversas dicas e conselhos para ajudar as mães a enfrentar os altos e baixos dessa jornada com mais confiança e equilíbrio.
É fundamental lembrar que não existe uma fórmula mágica ou um manual definitivo para ser uma mãe perfeita. Cada mãe tem suas próprias experiências, habilidades e desafios únicos. No entanto, algumas práticas, como a busca pelo equilíbrio, o cultivo da autocompaixão e a busca por apoio quando necessário, podem fazer toda a diferença.
Como mães, é importante lembrar que estamos sempre aprendendo e crescendo junto com nossos filhos. Devemos celebrar as pequenas vitórias, aprender com os desafios e, acima de tudo, confiar em nossa intuição e no amor que temos por nossos filhos.
Que este artigo sirva como um guia útil e inspirador para todas as mães, lembrando-as de que não estão sozinhas nessa jornada e que, juntas, podemos criar um ambiente de apoio, compreensão e amor para nós mesmas e para nossos filhos.
*Bianca Aichinger é coach e sócia-proprietária da Quantum Development e mãe de três.
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