Quando o corpo começa a mudar: 3 em cada 4 mulheres sentem os efeitos físicos e mentais da pré-menopausa antes dos 45

Estudos recentes mostram que sintomas físicos e mentais da transição para a menopausa podem começar mais cedo do que muitas mulheres imaginam

Redação Publicado em 15/11/2025, às 06h00

A mulher deve procurar um especialista quando perceber que os sintomas começam a interferir na rotina, no sono ou na vida social. - Foto: Canva Pro

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Você sabia que a pré-menopausa — ou perimenopausa, como também é chamada — está associada a mudanças significativas tanto no corpo quanto na mente? Segundo o relatório de 2023 da North American Menopause Society (NAMS), cerca de 75% das mulheres relatam sintomas vasomotores (ondas de calor e suores noturnos) nesse período, sendo que 25% descrevem impacto moderado ou severo na qualidade de vida. Já uma pesquisa longitudinal da Harvard Medical School, publicada recentemente no BMJ, observou que a perimenopausa está associada a um risco 2,5 vezes maior de sintomas depressivos e de ansiedade em comparação com mulheres no período reprodutivo regular. Essas descobertas reforçam a importância de um olhar mais atento à saúde feminina antes da chegada definitiva da menopausa.

A pré-menopausa é a etapa que antecede o fim completo da função ovariana — o momento em que os ciclos menstruais se tornam definitivamente irregulares até cessarem por completo. Embora não exista uma idade exata para o início dessa fase, ela costuma ocorrer entre os 40 e 45 anos, podendo se estender por vários anos. Em algumas mulheres, os sinais aparecem ainda na casa dos 30. Uma revisão publicada no The Lancet (2024) destacou que o início da transição menopausal ocorre, em média, aos 45 anos, mas pode começar até dez anos antes da última menstruação, com ampla variação individual.

Entre os sintomas mais comuns estão alterações menstruais, ondas de calor, suor noturno, insônia, fadiga persistente, secura vaginal, dor nas relações sexuais, dificuldades cognitivas leves — como lapsos de memória ou falta de concentração — e mudanças emocionais significativas.

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De acordo com a ginecologista Dra. Giovanna Perovano, da Clínica Bels e preceptora da Faculdade de Medicina do ABC, “a pré-menopausa é uma fase clínica em que os sintomas podem ser tão incapacitantes quanto os da menopausa definitiva. A decisão sobre reposição hormonal não é binária: é uma conversa entre paciente e médico que considera sintomas, histórico pessoal, expectativas e riscos — e muitas vezes a abordagem é escalonada e personalizada”.

A mulher deve procurar um especialista assim que perceber que os sintomas começam a interferir na rotina, no sono ou na vida social. Sangramentos muito irregulares, dores intensas, alterações de humor, perda de libido ou cansaço constante também merecem atenção.

Muitos associam a avaliação hormonal ao diagnóstico, porém — nos últimos anos — exames laboratoriais como a dosagem de FSH e estradiol nem sempre são necessários, pois os níveis desses hormônios variam de forma imprevisível durante essa transição. Ainda assim, alguns exames podem ser solicitados para descartar outras causas e avaliar o estado geral de saúde, como TSH (para verificar a função da tireoide), glicemia, colesterol, hemograma, função hepática e, conforme a idade e o histórico familiar, mamografia e densitometria óssea. A partir dessa avaliação, o médico define a melhor conduta terapêutica, que pode envolver tanto medidas não hormonais quanto hormonais.

O tratamento da pré-menopausa deve ser individualizado. Em casos leves, a adoção de mudanças no estilo de vida — como prática de atividade física regular, sono adequado e redução do consumo de álcool e cafeína — pode trazer alívio. Em outras situações, o uso de medicamentos não hormonais, como antidepressivos em baixas doses ou terapias cognitivas, pode ajudar a controlar sintomas como afrontamentos, insônia e irritabilidade.

As diretrizes atualizadas da International Menopause Society (IMS, 2024) reforçam que a terapia de reposição hormonal (TRH) é a intervenção mais eficaz para sintomas mais intensos da transição menopausal, como os vasomotores e geniturinários (ressecamento vaginal e dor nas relações), devendo ser avaliada com base no perfil clínico e nas preferências da paciente. A reposição pode ser feita de diferentes formas — oral, transdérmica (adesivos, géis, sprays) ou local, quando o estrogênio é aplicado diretamente na região vaginal para tratar sintomas específicos. Para mulheres que ainda têm útero, o uso combinado de estrogênio e progestógeno é indicado, pois o segundo hormônio protege o endométrio do efeito proliferativo do estrogênio. Já para quem não pode ou não deseja fazer reposição hormonal, existem alternativas não hormonais com ação sobre os sintomas, incluindo alguns antidepressivos, fitoterápicos com eficácia parcial e novos medicamentos em desenvolvimento.

“A terapia hormonal deve sempre ser conduzida com acompanhamento médico e avaliação individual de riscos e benefícios. Diversos estudos mostram que, quando usada de forma adequada — na dose mínima eficaz e pelo tempo necessário —, a TRH traz benefícios importantes para o bem-estar, o sono e a saúde óssea”, explica a Dra. Giovanna. “Por outro lado, o tratamento não é indicado para todas as mulheres. Pacientes com histórico de câncer de mama, trombose ou doenças cardiovasculares precisam de avaliação criteriosa antes de iniciar o uso de hormônios”, completa a especialista.

A decisão sobre o início da reposição deve levar em conta a idade, o tempo desde o último ciclo menstrual e o perfil de saúde da paciente. Em geral, quanto mais próxima do início da menopausa e mais jovem a mulher estiver, melhor tende a ser a resposta e menor o risco de complicações. Além disso, é fundamental manter o acompanhamento periódico com exames de rotina, incluindo mamografia e avaliação óssea, para garantir a segurança do tratamento.

“Não existe uma idade certa universal para iniciar reposição; existe o momento certo para cada mulher. Informar-se, acompanhar o próprio corpo e discutir opções com um profissional de saúde é o passo mais importante — muitas mulheres ganham qualidade de vida quando a terapia é bem escolhida e monitorada”, conclui a médica da Clínica Bels.

A pré-menopausa, portanto, é uma fase natural, mas que exige atenção, informação e cuidado. Reconhecer os sinais e buscar orientação médica pode fazer toda a diferença na qualidade de vida e no equilíbrio físico e emocional da mulher.

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