Por que o cérebro humano tende à infelicidade e como transformá-lo?

Necessidade de defesa e lutar pela sobrevivência em tempos remotos fez com que o cérebro humano se predispusesse à negatividade

Mary Elbe Queiroz* Publicado em 08/09/2023, às 06h00

É possível ser feliz? -

Já dizia Dalai Lama: “o objetivo da vida humana é a felicidade”. Todo mundo quer ser feliz, mas poucos têm conseguido alcançar este objetivo primordial hoje em dia. Por que tamanha dificuldade?

Desde o passado remoto, nossos ancestrais viviam como nômades, muito mais aparentados com animais selvagens do que com seres humanos, precisavam lutar constantemente e com todas as forças para sobreviverem, fosse na busca por alimentos ou para defender-se de agressores. Como algo de ruim sempre poderia acontecer, então, o cérebro desenvolveu-se e acostumou-se a tal situação, desenvolvendo uma tendência para a negatividade. 

O cérebro humano aprendeu a atuar de um modo que a infelicidade alimenta a si mesma, em um ciclo vicioso. Quando alguém está infeliz, sente-se estressado, fornecendo automaticamente um comando ao cérebro para que aumente a produção de cortisol, hormônio do stress. Ao fazer isso, os níveis desse neurotransmissor ficam abaixo da normalidade, abrindo espaço para que o cansaço, a tristeza e, consequentemente, a infelicidade se manifestem.

 

Veja também

Outra razão que explica a dificuldade para ser feliz está no fato de que raramente os seres humanos buscam a felicidade em algo dentro deles, isto é, que constitua a essência deles mesmos. A felicidade é sempre procurada em fatores externos, nas outras pessoas ou em objetos; no dinheiro ou no sucesso; na sorte ou no destino. Com essa forma de pensar, nada que pode satisfazer o indivíduo e torná-lo feliz, depende realmente dele. Contudo, objetos, dinheiro e pessoas que causem alegrias e prazerem são eventos passageiros e, portanto, não podem ser a causa de uma felicidade duradoura.

Mas, é possível construir a felicidade com base em você mesmo, a neurociência e a psicologia positiva comprovam que é possível treinar a mente para se deixar a negatividade em segundo plano e abraçar a positividade. Caracterizado pela multiplasticidade, o cérebro humano consegue produzir novas conexões neurais que permitem enfrentar os fatos da vida (mesmos os mais tristes) de uma forma mais otimista. Para isso, o ser humano precisa adotar a prática de ações mais construtivas e positivas, tais como: amar-se; perdoar a si próprio e aos outros; trocar palavras negativas por positivas; cultivar bons relacionamentos; e propagar felicidade.

A partir dessas atitudes, fica mais fácil conquistar o foco, a determinação e a disciplina necessários para transformar essas ações em hábitos, que serão assimilados à rotina como se sempre tivessem existido. Desse modo, a positividade passa a ser sentida e cultivada pelo indivíduo de um modo natural e satisfatório. O que parece trabalhoso no início, se torna prazeroso no fim quando você começa a ver os resultados.

Assim, habitue o seu cérebro para atuar com positividade, ainda mais porque pessoas felizes ganham em todas as áreas da vida. Elas têm, por exemplo, mais senso de humor, resiliência, alegria, criatividade, concentração, jovialidade, motivação, otimismo, coragem e mais prosperidade em todas as áreas da vida. Este é um dos grandes segredos da vida feliz, haja visto que para mudar, para agir, para não ficar estagnado, é preciso muita coragem.

*Mary Elbe Queiroz é autora do livro “A Prática da Felicidade”, pós-graduada em Neurociência e Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e atualmente cursa pós-graduação em Psicologia Positiva na mesma universidade gaúcha, tendo estudado, entre outros, com Martin Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi.

 

dificuldade felicidade cérebro humano estressado infelicidade

Leia mais

Ansiedade generalizada: O que é TAG e quais são as suas características?


Tecnologia e Sono: celulares dominam as noites dos brasileiros, revela pesquisa


OMS alerta para aumento de casos de infarto em todo o mundo


Entenda a relação entre ouvido, nariz, garganta e a saúde mental


Como adaptar o cérebro ao fim das férias